Como abandonar sua fé

Daniel Lima

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Em meus dois últimos artigos, tratei das influências na vida do rei Joás de Judá (Duas mulheres, dois legados e O poder de uma influência positiva). Essa história é descrita tanto em 2Reis, capítulos 11 e 12 como em 2Crônicas 23 e 24. O resumo é que Joás foi salvo da morte por sua tia quando bebê e criado por ela e por seu tio, o sacerdote Joiada. Logo ao assumir o trono, ele começa um reinado de mudanças positivas e de compromisso com a adoração a Deus em seu templo. No entanto, após a morte de seu pai adotivo e mentor, Joás abandona os caminhos de Deus. Leia comigo a passagem de 2Crônicas 24.2: “... Joás fez o que era reto aos olhos do Senhor todos os dias do sacerdote Joiada”.

A pergunta que surge imediatamente é: o que aconteceu após a morte do sacerdote Joiada? Lemos a resposta nos versos 17 a 19 do capítulo 24:

“Depois da morte de Joiada, os chefes de Judá foram e se prostraram diante do rei, e o rei os ouviu. Então abandonaram a Casa do Senhor, Deus de seus pais, e serviram os postes da deusa Aserá e aos ídolos. E, por esta sua culpa, veio grande ira sobre Judá e Jerusalém. Mas o Senhor lhes enviou profetas para os reconduzir a si; estes profetas testemunharam contra eles, mas eles não quiseram ouvir.”

A palavra usada é prostar-se. Exatamente a mesma usada ao se referir à atitude de adoração a um deus. Não podemos afirmar que esses líderes o adoraram, pelo menos não de forma evidente. Mas houve uma manifestação de profundo respeito ou, quem sabe, de bajulação. Se este for o caso, lembramos de Provérbios 26.28: “A língua falsa odeia aqueles a quem engana, e a boca lisonjeira é causa de ruína”. O fato é que o texto afirma que “o rei [Joás] os ouviu”. 

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Mesmo sem saber exatamente o que foi que os líderes disseram, o efeito foi uma ampla idolatria instituída por toda Judá. Não há relatos de que o rei Joás tenha participado diretamente, mas é evidente que ele não se opôs ou resistiu a essa rebeldia contra Deus. Não apenas Joás permitiu essa idolatria, desfazendo toda sua obra anterior, mas, ao ser confrontado por seu irmão de criação Zacarias, que profetizou em nome do Senhor, ele ordenou seu apedrejamento (2Crônicas 24.21).

A pergunta nesse ponto é: como foi que Joás se desviou? Como abandonou sua fé? Tendo acompanhado muitos cristãos que passaram por processos semelhantes, eu não creio que a mudança ocorreu no momento que os líderes o abordaram. Não se abandona a fé em um só evento. E também não estou afirmando que Joás “perdeu sua salvação”. Esse é um tema muito mais amplo e profundo. O fato é que sua vida, que até aquele momento trazia glória a Deus, tornou-se motivo de ira para Deus.

O fato é que a vida de Joás, que até aquele momento trazia glória a Deus, tornou-se motivo de ira para Deus.

Mencionei em meu último artigo a frase: “Aquilo que trouxe você até aqui, não poderá levá-lo até onde você deve chegar”. Creio que, apesar de não ser bíblica, essa frase reflete verdades bíblicas profundas e de extrema importância para todo seguidor de Cristo.

A realidade expressa é que tanto Joás, como muitos cristãos que busquei ajudar, caminharam por algum tempo se distanciando do Senhor. Talvez tenham acolhido pecados sem se arrepender ou pedir perdão. Talvez tenham começado a cultivar dúvidas, sem submetê-las ao escrutínio do Senhor. Pouco a pouco, foram minando sua confiança em Deus. Com uma fé fraca ou abalada, diante do ataque do inimigo por meio da influência negativa, Joás e muitos outros deixaram de caminhar com o Senhor. Nesse caso, eu creio que a alegoria de Paulo em 1Timóteo 1.19 é muito apropriada: eles “naufragar[am] na fé”. O evento de um naufrágio não é algo súbito. De modo geral, um naufrágio ocorre ao longo de horas ou mesmo dias, quando água vai se infiltrando no casco da embarcação até que esta perde sua capacidade de flutuação.

À medida que vamos permitindo que pensamentos e conceitos contrários à fé se “infiltrem” em nossa mente, fazendo pequenas concessões a filosofias e perspectivas do mundo, nossa fé vai naufragando.

Da mesma forma com a fé, à medida que vamos permitindo que pensamentos e conceitos contrários à fé se “infiltrem” em nossa mente, à medida que vamos fazendo pequenas concessões a filosofias e perspectivas do mundo, nossa fé vai naufragando. Eventualmente, chegará um dia em que nossa fé e nossas convicções serão testadas. Nesse momento, seja por culpa, por concordância, por falta de discernimento ou simplesmente por carnalidade, abandonaremos a fé.

Minha oração por mim, que já tenho andado com o senhor por quase cinquenta anos, e por você é que possamos tomar a sério a exortação de Paulo em 1Coríntios 10.12: “Por isso, aquele que pensa estar em pé veja que não caia”!

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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