Usando a vontade de Deus para fugir da responsabilidade

Daniel Lima

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A reportagem estava sendo feita em frente a um barraco em uma favela na periferia de São Paulo. O repórter dirige sua pergunta a uma senhora de meia-idade cercada por crianças de várias idades e obviamente grávida. “A senhora já tem 7 filhos e agora aos 40 anos está grávida de novo. A senhora acha isso sábio?”. A mulher sorri, um pouco constrangida, e responde: “Pois é, foi Deus quem quis...”. Tal postura fatalista é fruto de uma série de forças e fatores, mas espelha uma tendência humana de fugir de suas responsabilidades atribuindo algumas delas à “vontade de Deus”. A transferência de nossas escolhas para Deus não é algo novo, mas é prejudicial em vários sentidos. O principal é que, em vez de compreender como minhas escolhas afetam minha vida, eu evito lidar com o problema transferindo a responsabilidade adiante.

A transferência de nossas escolhas para Deus não é algo novo, mas é prejudicial em vários sentidos.

Existe no mundo evangélico um processo semelhante ao da senhora descrita na entrevista. Como cristãos entendemos que nada foge ao controle de Deus. De uma forma muito clara, nada ocorre sem sua permissão. Essa verdade tem sido fundamento para muitos cristãos repassarem suas responsabilidades. O processo funciona mais ou menos assim: um cristão tem um alvo ou pelo menos um desejo. Para alcançá-lo, importa que ele se esforce ou pelo menos dê os passos responsáveis para tanto. Por várias razões ele (ou ela) não o fazem. Quando seu desejo ou alvo não é atingido, afirma: “Deus quis assim...”.

Deixe-me dar dois exemplos que presenciei. Um jovem se prepara para um exame vestibular. Ele imagina-se estudando em uma faculdade, imagina seu futuro profissional, faz um curso pré-vestibular, mas o apelo dos amigos, saídas, séries de TV e outros programas fazem com que sua dedicação ao estudo seja menos do que deveria. Ao não ser aprovado, ele entende que Deus não quis e decide então ir para um seminário ou instituto bíblico. Por um lado, talvez Deus o estivesse dirigindo mesmo para um programa teológico; por outro, sua não aprovação foi fruto de falta de dedicação e não de convicção ao chamado ministerial. Usar a frase “Deus quis assim” apenas transfere a responsabilidade. 

Usar “a vontade de Deus” como desculpa para ocultar a falha em cumprir promessas é algo desonesto e irresponsável.

Em outra situação um pastor e sua família deixam seu ministério e partem para um projeto missionário junto a uma organização cristã. Chegando lá, logo fica evidente que as promessas e os planos apresentados não existem na prática. Frustrado, o pastor conversa com o diretor que o recrutou e ouve deste que sim, as promessas não foram cumpridas, mas quem sabe não era exatamente isso que Deus tinha para ele neste momento? Uma vez mais, Deus pode usar frustrações ministeriais para dirigir a vida de seus servos, mas usar “a vontade de Deus” como desculpa para ocultar a falha em cumprir promessas é algo desonesto e irresponsável.

Como então encarar essa questão da responsabilidade e da vontade de Deus? Deixe-me alistar algumas sugestões: 

  1. Busque a vontade de Deus para sua vida em todos os aspectos. “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2). A vontade de Deus é tanto perfeita (o que não significa sem desafios) quanto agradável. Em cada aspecto de sua vida busque a Deus e busque a vontade dele.

  2. Continue na dependência dele. “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. (Tiago 4.15b) Mesmo após convencido de que certa direção vem de Deus, continue a exercer uma contínua dependência da vontade dele, honrando-o a cada passo.

  3. Faça tudo com excelência. “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” (Colossenses 3.23-24). Dedique-se, em cada atividade ou tarefa assumida, de todo o coração e faça-a com excelência.

Minha oração é que, ao assumir uma responsabilidade, você tenha convicção de que está servindo a Deus, por isso não há razão para não dar o seu melhor. Isso não significa sempre sucesso e, sim, haverá situações em que o resultado não será aquilo que você espera. Nesses casos, que seja por intervenção divina e não por negligência de nossa parte!

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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