Sobre velhos reis

Daniel Lima

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Esses dias ouvi uma nova versão de uma história antiga. Infelizmente, mesmo que tenha ouvido em várias versões, a história é muito real. Um pastor brilhante que dedicou sua vida para estabelecer e fortalecer uma igreja, não se dá conta de que envelheceu e que é hora de passar o bastão. Assim, ao invés de investir e delegar autoridade a seu sucessor, ele começa a sistematicamente afastar todo e qualquer indivíduo que poderia eventualmente sucedê-lo. Com isso sofrem a igreja, por falta de uma liderança mais nova, sofre o pastor, pois busca completar uma tarefa que está acima de suas forças, sofrem os possíveis sucessores, que são afastados de oportunidades ministeriais e, por fim, sofre o Reino de Deus, por ministérios que se tornam limitados.

Ao longo do tempo, tenho estudado sobre transições em lideranças, seja de igrejas ou de outras organizações. A melhor “parábola” para essa situação é o maravilhoso evento de tornar-se avô. Ana Paula e eu recebemos esse privilégio há quatro anos. Antes do nascimento de nossa neta, conversamos sobre sermos avós que apoiam, mas não são “intrometidos”. Isso pois todos conhecemos avós que, mesmo com as melhores intenções, acabam por afastar seus filhos devido a um comportamento quase invasivo de cuidado dos netos.

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Eu entendo, pois avós acumularam muito conhecimento e experiência (inclusive por meio de seus erros) na criação de filhos. Não é incomum acharem que sabem como criar melhor que seus filhos e talvez seja em parte verdade. No entanto, às vezes se esquecem de que eles também não sabiam muita coisa quando começaram a criar seus próprios filhos. Por isso é fundamental que sejam apoiadores, mas extremamente cuidadosos para não assumirem um papel que não é mais deles.

Como líder cristão de qualquer ministério, é importante que você perceba o momento em que você não é mais o pai ou mãe do ministério, mas apenas o avô ou avó.

Voltando para o exemplo dos líderes que envelhecem e não sabem que é hora de recuar; o mesmo se aplica. Ou seja, como líder cristão de qualquer ministério, é importante que você perceba o momento em que você não é mais o pai ou mãe do ministério, mas apenas o avô ou avó. É muito importante que você enquanto líder perceba quando é tempo de se afastar de uma função e abrir espaço para a próxima geração de líderes. Isso não significa abandonar o ministério, mas passar a ser mais um apoiador e um recurso do que o líder executivo. Não creio que exista uma idade mágica para que um líder se afaste. Mas creio que devemos nos preparar para o momento em que o ministério que nos foi confiado por Deus for passado para outros. Na verdade, esse momento deve ser celebrado, pois significa que você serviu fielmente a Deus. Deixe-me alistar algumas dicas:

  1. Prepare sempre a próxima geração de líderes. Paulo fala disso com clareza em 2Timóteo 2.2 “E o que você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, isso mesmo transmita a homens fiéis, idôneos para instruir a outros”. Paulo sabia que não podia atender às igrejas que havia plantado ou estimulado. Era necessário que ele preparasse a próxima geração. Me arrisco a dizer que preparar seu sucessor é tarefa fundamental do líder de qualquer ministério.

  2. Cultive a mentalidade de que o ministério não é SEU, mas apenas foi confiado a você por um tempo limitado. É natural que, após nos dedicarmos intensamente a um ministério, passemos a pensar que ali está nossa identidade. Esse tipo de atitude gera divisões e “donos” de ministérios. Uma vez mais Paulo, tratando do assunto, escreve em 1Coríntios 3.5-9:

    “Quem é Apolo? E quem é Paulo? São servos por meio de quem vocês creram, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um, e cada um receberá a sua recompensa de acordo com o seu próprio trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus, e vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus.”

  3. Devemos nos preparar para o momento em que o ministério que nos foi confiado por Deus for passado para outros. Na verdade, esse momento deve ser celebrado, pois significa que você serviu fielmente a Deus.
    Reconheça e abençoe líderes que vão levar adiante o ministério. Não restrinja o ministério apenas àquilo que você consegue fazer. Quando Deus conduz um ministério é natural que este cresça além daquilo que você consegue dirigir. Nesse caso, ore, identifique outros líderes e abençoe-os para que conduzam o ministério além de seu alcance. O melhor exemplo desse princípio é a situação de Moisés e Jetro em Êxodo 18.17-18: “Não é bom o que você está fazendo. Com certeza todos ficarão cansados, tanto você como este povo que está com você. Isto é pesado demais para você; você não pode fazer isso sozinho”.

     

Por fim, minha oração é que, após servirmos fielmente, nossa atitude seja de sermos apoiadores, aqueles que estão à disposição para contribuir com a sabedoria que acumularam, mas que não têm o direito nem o dever de exercer autoridade direta ou executiva. Enfim, que eu e você vivamos nossa vida de forma que, quando estivermos fora da liderança, outros queiram nosso parecer e não fujam de nossas opiniões.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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