Servir Genuinamente Cristão: Parte 2

Daniel Lima

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A história registra esforços de cristãos para alcançar aqueles que não conhecem a Cristo que, ainda que bem-intencionados, revelaram um profundo desconhecimento do evangelho e da conversão. Um deles é o evento dos cristãos de arroz. Isso surgiu quando missionários em uma região de fome extrema decidiram que dariam um punhado de arroz todos os dias apenas àqueles que se convertessem ao cristianismo. O resultado é que inúmeros indivíduos se declararam “convertidos” com o único propósito de sobreviver à fome. Com o tempo a situação de fome passou e com ela se foram também muitos desses falsos convertidos. Até hoje o dicionário Merriam-Webster define cristão de arroz como: “Um convertido ao cristianismo que aceita batismo não com base em convicção pessoal, mas devido ao seu desejo por comida, serviços médicos ou outros benefícios”.

Certamente esse é um momento triste da ação missionária cristã. O fato é que, ao tentarmos oferecer o evangelho juntamente com ajuda humanitária, há o risco de diluirmos a mensagem. Para evitar isso e ainda cumprir o chamado para servir, muitos cristãos têm separado o serviço humanitário da pregação do evangelho. Infelizmente, isso tem levado muitas organizações cristãs a meramente realizarem boas obras, sem pregar o evangelho que liberta.

Em meu último artigo, comecei uma reflexão sobre o texto de João 13.1-17. Hoje gostaria de estudar com você os versículos 4 a 11:

“Levantou-se da mesa, tirou a capa e colocou uma toalha em volta da cintura.Depois disso, derramou água em uma bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava na cintura. Então, chegou até Simão Pedro, que lhe disse: ‘Senhor, vais lavar os meus pés?’. Jesus respondeu: ‘Você não compreende agora o que estou fazendo; mais tarde, porém, entenderá’. Pedro disse: ‘Nunca lavarás os meus pés!’. Jesus respondeu: ‘Se eu não os lavar, você não tem parte comigo’. Simão Pedro respondeu: ‘Então, Senhor, não apenas os pés, mas também as mãos e a cabeça!’. Jesus respondeu: ‘Quem já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o corpo está limpo. Vocês estão limpos, mas nem todos’. Jesus sabia quem iria traí-lo, por isso disse que nem todos estavam limpos.”

5. Engajamento. Jesus poderia ter lavado os pés de apenas um discípulo, ou mesmo um só pé de um discípulo. Desta forma, ele teria dado o exemplo e sua ilustração estaria completa. No entanto, ele lavou os pés de todos. Essa era uma necessidade real, muito embora Jesus não fosse um especialista em lavar pés nem haja qualquer registro de que tenha lavado pés em outra situação. O que vemos aqui é o princípio de um serviço real, respondendo a uma necessidade real, ainda que o serviço em si não fosse sua especialidade ou um talento especial. Não podemos resumir nossos serviços a gestos simbólicos. Serviço genuinamente cristão significa atender necessidades reais dentro de nossa possibilidade.

Serviço genuinamente cristão significa atender necessidades reais dentro de nossa possibilidade.

6. Intencionalidade. Jesus não fez simplesmente o que aqueles a quem servia queriam. Pedro, por exemplo, não quer ter seus pés lavados por Jesus. O serviço cristão tem um alvo e, para isso, tem uma intencionalidade. Nosso serviço não é simplesmente fazer o que as pessoas querem. Alguns grupos cristãos entrando por essa via acabaram colaborando, por exemplo, com clínicas de aborto. Fizeram isso pois entenderam que seu papel era fazer o que as pessoas queriam. Jesus sabia quem era e o que era chamado a fazer, mesmo que isso confrontasse aqueles a quem buscava servir.

7. Espiritualidade. Pedro, de um modo muito característico, ao ouvir que precisa ter seus pés lavados para manter sua comunhão com Jesus, pede para ser lavado inteiro! Jesus, no entanto, afirma que “quem já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o corpo está limpo”. Banhar-se é uma referência a ser banhado no sangue de Jesus e ter seus pecados perdoados. Essa interpretação fica clara ao se ler o versículo 11, onde João, ao dizer que nem todos haviam se banhado, estava se referindo a Judas, que não era realmente convertido. Todo convertido se torna filho de Deus (João 1.12) e não precisa ser salvo novamente. O cristão, no entanto, precisa sim se purificar de pecados que ainda continua a cometer (1João 1.9). 

Todo serviço cristão deve ter o propósito de tratar dos aspectos espirituais das pessoas e não apenas suprir necessidades materiais imediatas.

Repare que, ao realizar um serviço (lavar os pés), Jesus estava ensinando um princípio espiritual profundo. O propósito de Jesus não era apenas que seus discípulos tivessem os pés limpos. Todo serviço cristão deve ter o propósito de tratar dos aspectos espirituais das pessoas e não apenas suprir necessidades materiais imediatas. 

Uma vez mais, eu oro para que sejamos, como discípulos de Jesus, conhecidos por nosso serviço. No entanto, oro também para que nosso serviço não se resuma a fazer apenas o que as pessoas pedem ou apenas tratar de suas necessidades materiais. Uma pessoa que está satisfeita em termos materiais e morre sem Cristo tem um destino eterno muito pior do que qualquer sofrimento aqui na Terra.
 

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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