Os Princípios do Reino: Parte 4 – Rejeição e Aceitação

Há alguns dias, minha esposa, Ana Paula, caminhando para uma consulta médica em Porto Alegre, viu um homem com a camiseta exibida na foto neste artigo. Uma rápida consulta na internet indica que esse é um nome de uma banda de punk rock. A banda se tornou popular justamente por abordar temas polêmicos, sempre com uma perspectiva anarquista. Nossa reação, ainda assim, é de surpresa, especialmente em uma época em que respeito pela opinião de outros é tão anunciado e defendido. Aparentemente, respeito pela opinião de cristãos não se inclui nessa lista.

Em meus últimos artigos (Os Princípios do Reino – Parte 1, 2 e 3), tenho buscado examinar as bem-aventuranças sob a perspectiva de princípios do reino de Deus. Ainda que este reino só esteja plenamente realizado com o retorno de Cristo, hoje já podemos não só fazer parte, mas perceber e promover seus princípios. Lucas, em seu evangelho, registra no capítulo 6, versículos de 17 a 26, as palavras de Jesus apresentando quatro pares de contrastes: pobreza versus riqueza, fome versus fartura, choro versus riso e rejeição versus aceitação. Hoje gostaria de examinar o contraste rejeição versus aceitação.

“Bem-aventurados serão vocês quando os odiarem, expulsarem e insultarem, e eliminarem o nome de vocês, como sendo mau, por causa do Filho do homem.”

“Ai de vocês quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas.”

Para mim é impressionante como bebês, desde muito cedo, buscam ser aceitos pelas pessoas ao seu redor. Antes mesmo de fazerem um ano, bebês percebem o que traz sorrisos aos seus pais e repetem o gesto, careta ou aquilo que acreditam que provoca uma reação sorridente. Faz parte da natureza humana buscar aprovação. Como fomos criados seres relacionais, nossa tendência é buscar a aprovação de todos ao nosso redor. O problema não reside nessa tendencia, mas a que ponto chegamos para conquistar essa aprovação. Uma jovem pode se vestir ou se comportar de um modo sensual para ganhar a aprovação de outros. Um homem cristão pode compartilhar piadas de mau gosto para conquistar a aprovação de seus colegas. Em resumo, o preço que pagamos por aprovação pode ser alto demais.

Jesus deixou muito claro que ele mesmo foi odiado pelo mundo (João 15.18). Reparem também que o alerta de Jesus é que é de se esperar que o mundo odeie os cristãos. Paulo ensina sobre o mesmo tema ao afirmar: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Timóteo 3.12). O fato é que o mundo vai nos odiar sempre que estivermos promovendo o evangelho. Jesus, no versículo 26 de Lucas, é ainda mais contundente. Ele afirma que ai daqueles de quem o mundo falar bem, elogiar e admirar, pois assim foram tratados os falsos profetas.

O fato é que o mundo vai nos odiar sempre que estivermos promovendo o evangelho.

Esse alerta confronta a tendência da igreja moderna de buscar a aprovação ou aceitação do mundo para sua mensagem. Tenho ouvido e lido muito de pastores que incentivam a igreja a ser relevante. Essa expressão pode ser enganosa. Certamente o evangelho é um tema relevante para um mundo perdido, mas não é um tema agradável. No anseio de tornar o evangelho e a igreja agradáveis ou aceitáveis para o mundo, tenho assistido com tristeza líderes diluírem o evangelho a ponto de quase não existir mais pecado, arrependimento ou cruz. O conhecido pastor e teólogo Timothy Keller certa vez afirmou: “Jesus não foi apenas um cara legal que fez o bem no mundo. Você não crucifica caras legais. Você crucifica ameaças”.

Nosso chamado ainda é caminhar com amor e promover o amor de Deus, que inclui promover sua santidade.

Com isso, Jesus não está promovendo o ódio a qualquer pessoa ou mesmo uma postura hostil. Nosso chamado ainda é caminhar com amor e promover o amor de Deus, que inclui promover sua santidade. Se apresentarmos com fidelidade o evangelho de Deus, estaremos amando o mundo. Há uma ilustração que tenho usado com frequência. Aqui no Rio Grande do Sul, na cidade de Canela, há uma cascata de 137 metros de altura. Imagine que, caminhando ao lado do rio logo antes da cascata, você aviste um amigo flutuando no rio em uma boia. Você precisa tomar uma decisão muito rapidamente: ou você avisa do perigo iminente da cascata logo adiante, que certamente o levará à morte, ou você pode apenas acenar e desejar-lhe uma boa viagem. Qualquer um de nós que apenas acenasse enquanto nosso amigo se dirige para a morte certa seria considerado corretamente um péssimo amigo, até mesmo participante de sua morte, por não o alertar do perigo. No entanto, não é incomum assistir cristãos que, ao invés de alertarem seus amigos do perigo de uma morte sem Cristo, preferem continuar cultivando sua aprovação, enquanto, no entanto, ocultam uma verdade trágica!

Minha oração por você e por mim é que, muito embora desejemos a aprovação dos outros, busquemos muito mais a aprovação de Deus. E, ao mesmo tempo, que a provação do mundo não nos deixe anestesiados quanto ao nosso chamado de testemunharmos sobre o nosso Deus!

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