Ocupação, Ministério e Chamado

Daniel Lima

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Estávamos no intervalo de uma aula onde havíamos discutido sobre chamado ministerial. Um aluno se aproximou e me confidenciou que tinha convicção de que era chamado a ser “pastor-presidente de uma igreja com cerca de cem membros”. Conversamos um pouco sobre esses detalhes tão específicos e sobre o fato de que isso poderia até ser um sonho, mas dificilmente um chamado. Hoje, após mais de trinta anos, ele nunca serviu como pastor de nenhuma igreja. Ao mesmo tempo, ele ensinou, cuidou de sua família com enormes necessidades e tem seguido fielmente a Jesus. Um outro exemplo é o de um amigo que ansiava por ser missionário, mas temia não possuir nenhum chamado. Ao deixar o seminário, dedicou-se por toda a vida a lecionar em escolas públicas, sempre com um temor de que não havia encontrado seu chamado. Hoje, já aposentado, ele pode apontar para dezenas de jovens que levou a Cristo ao longo de sua carreira.

Afinal, o que é chamado e o que é ministério? Qual a sua relação com nossa ocupação profissional? Ao longo de mais de trinta anos, tenho acompanhado pessoas que buscaram de modo quase obsessivo uma ocupação ou contratação que lhes permitisse desenvolver seu ministério. Outros tantos continuam vivendo sua vida cristã, mas sentindo-se crentes de segunda classe por não conseguirem definir seu chamado. Há ainda aqueles que se dedicam às suas carreiras profissionais de corpo e alma, pois entendem que não têm “chamado para o ministério”.

Pensa-se que só quem se dedica em tempo integral a uma função eclesiástica ou em alguma instituição cristã tem um ministério.

Parte dessa confusão vem da associação de ministério com a função sacerdotal da tribo de Levi junto ao povo de Israel conforme descrita no Antigo Testamento. Pensa-se então que só quem se dedica em tempo integral a uma função eclesiástica ou em alguma instituição cristã tem um ministério. Essa concepção ignora que a maioria dos profetas não era da tribo de Levi, os reis eram da tribo de Judá e os guerreiros eram de todas as tribos. Ou seja: havia muito ministério fora da tribo de Levi e da função sacerdotal. De qualquer forma, o Novo Testamento institui uma nova ordem, uma nova realidade. Pedro afirma isso de forma muito clara em 1Pedro 2.9: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” O sacerdócio dos levitas tem sua equivalência em todos os cristãos, os quais são chamados a “proclamar as virtudes” de Deus. Quando entre os discípulos é levantado o tema de quem seria o mais importante, o próprio Jesus deixa muito evidente a implicação de que todo cristão é chamado a servir (Mateus 20.25-28).

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É inegável que alguns são chamados para liderança ou ensino, mas sua contratação ou dedicação exclusiva são características apenas circunstanciais. Em 1Timóteo 5.17-18, temos a única menção que poderia indicar a contratação de um cristão para exercer seu ministério e ser remunerado: “Devem ser considerados merecedores de pagamento em dobro os presbíteros que presidem bem, especialmente os que se esforçam na pregação da palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: ‘Não amordace o boi quando ele pisa o trigo.’ E, ainda: ‘O trabalhador é digno do seu salário’”. Existem circunstâncias em que, para exercer seu ministério, é adequado que o indivíduo seja sustentado pela igreja ou instituição. Ser sustentado por uma igreja, no entanto, não é o seu chamado, é apenas sua circunstância. A história da igreja é repleta de exemplos de homens e mulheres que tiveram um enorme impacto no reino enquanto mantinham um trabalho regular paralelamente ao ministério. 

Ser contratado para exercer um ministério é um privilégio e é adequado em muitas de nossas igrejas, mas não é condição fundamental para que alguém seja fiel ao que Deus o chamou a ser e fazer.

Ser contratado para exercer um ministério é um privilégio e é adequado em muitas de nossas igrejas, mas não é condição fundamental para que alguém seja fiel ao que Deus o chamou a ser e fazer. Conheço evangelistas brilhantes que são médicos, professores, donos de óticas, empreiteiros e assim por diante. Conheço cristãos que exercem um pastoreio impressionante enquanto exercem a função de engenheiros, fonoaudiólogos, bancários e representantes comerciais. Ao mesmo tempo, muito embora sejam a exceção, conheço indivíduos contratados por igrejas que desempenham seu “ministério” com desleixo e talvez seriam melhor descritos como “aproveitadores”.

Como identificar então meu chamado? Como saber de que forma Deus deseja me usar em sua obra? Deixe-me listar algumas sugestões:

  1. Seu chamado é, em primeiro lugar, caminhar em intimidade com Deus. Tudo o mais vai fluir a partir desse ponto (Marcos 3.13-15).

  2. Seu chamado se refere tanto ao que você deve fazer em favor de outros como a quem você é chamado a ser em seu íntimo, em seu caráter. É impossível ter uma vida que contraria a vontade de Deus e ainda assim desenvolver um ministério saudável e frutífero (1Coríntios 9.27).

  3. Seu chamado é algo que move profundamente seu coração. Você entende sua importância e percebe o mover de Deus quando se dedica a essa atividade (1Coríntios 9.16).

  4. Seu chamado será reconhecido por outros cristãos.

Perceba que nada disso garante que você será contratado para exercê-lo, mas que esse será o foco de sua vida, aquilo que lhe dá “brilho nos olhos”. Minha oração por mim e por você é que busquemos a Deus e estejamos dispostos a manifestar sua face naquilo que fazemos e em quem somos diante do mundo. Leia com atenção esta frase de David Benner:

Com frequência pensamos no chamado de Deus somente em termos do que fazemos... No entanto, embora “fazer” certamente esteja envolvido, nossa vocação é muito mais que nossa ocupação. É a face de Cristo que somos chamados a mostrar ao mundo. É quem somos chamados a ser.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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