O tempo que não para

Daniel Lima

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Na semana passada eu vestia camiseta, camisa, blusa de lã e casaco para manter afastado o frio que insistia em penetrar. Ontem eu andava de camiseta, bermuda e chinelo buscando um lugar com um pouco de brisa. Assim é o inverno em Porto Alegre. Tivemos uma semana de frio na saída do outono e a primeira semana de inverno foi novamente quente. Pessoalmente, gosto de viver em uma parte do Brasil em que as estações são nítidas e demarcadas. Apesar de uma clara preferência pelo inverno, o ritmo das estações me faz lembrar de algumas verdades importantes.

A primeira verdade é que o avanço do tempo é inevitável. Uma estação se sucede a outra. Por mais que eu goste do inverno, eu sei que o verão vai chegar. Não é possível parar o tempo. Na verdade, o tempo talvez é o aspecto mais fugidio da realidade. O tempo não para! Um momento especial em família – onde todos estão juntos, sem doenças nem conflitos, com amor e alegria – é um tesouro passageiro. Em breve a família estará espalhada, conflitos terão de ser tratados, doenças desafiarão nossa tranquilidade. Uma oportunidade de negócio ou uma condição de vida podem durar, mas sabemos que estas bênçãos também não serão eternas: a economia muda, as condições variam, a idade chega. Não se pode parar o tempo. Aqueles que tentam preservar o tempo além do que nos é dado acabam em situações artificiais e frustrantes.

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Visão espiritual nos mostra o mover de Deus e cegueira nos faz perder o que Deus tem para nós.

Não, não se pode parar o tempo. Essa verdade traz à tona um segundo princípio: há muitas razões para não querermos parar o tempo! As temperaturas mais baixas do inverno acabam cansando até mesmo um amante do frio como eu. Lembramos com alegria da infância, mas na época ansiávamos por sermos “grandes”. No ensino médio resmungávamos contra os limites impostos e sonhávamos com os privilégios dos jovens. A alegria de terminar a fase de estudos para entrar na vida adulta é logo temperada pelos desafios desta fase.

Dessa forma, temos duas opções: ou compreendemos que a beleza da vida não está em nenhuma destas fases, mas na jornada, no fluir de um fase para a próxima, aprendendo com a anterior, enfrentando os desafios e privilégios da atual e sonhando com os benefícios da próxima; ou, então, podemos inverter tudo e viver lamentando os privilégios perdidos, resmungando por causa dos desafios de hoje e temendo as incertezas do futuro.

Como reagir ao tempo que não para, às estações que parecem se atropelar? Recentemente li um texto em Isaías que ficou na minha mente:

Esqueçam o que se foi; não vivam no passado. Vejam, estou fazendo uma coisa nova! Ela já está surgindo! Vocês não a reconhecem? Até no deserto vou abrir um caminho e riachos no ermo. (Isaías 43.18-19)

Percebo cinco instruções de Deus para enfrentarmos as mudanças de estações, de condições de relacionamento e mesmo de pandemias...

  1. Esqueçam o passado. A primeira orientação de Deus é para esquecermos o passado. Isso não significa apagar a nossa memória, mas não permitir que nossa mente fique presa ao passado. Uma das maneiras garantidas de nos fazer desperdiçar o presente é mantermos nossa mente nos benefícios do passado. Imagine se José, ao invés de se dedicar às tarefas que tinha diante de si no Egito, ficasse relembrando cada vantagem perdida na casa de seus pais...

  2. Não vivam no passado. Viver no passado é a consequência de não seguir a primeira instrução. Se eu continuar relembrando o que se foi, pouco a pouco viverei nesse tempo que já não existe. O processo de luto é longo e deve ser enfrentado, mas não arme sua tenda nos vales do passado.

  3. Vejam o novo. Podemos ver o novo! Eliseu pediu a Deus e ele abriu os olhos de seu servo para que visse a libertação de Deus – e logo depois pediu que seus inimigos perdessem a visão (2Reis 6.17-18). Visão espiritual nos mostra o mover de Deus e cegueira nos faz perder o que Deus tem para nós. Precisamos pedir a Deus que abra nossos olhos para o mover de Deus em cada fase de nossa vida.

  4. Reconheçam. Precisamos também de discernimento para compreender a mão de Deus no meio das mudanças. José reconhece isso de maneira muito clara ao dizer: “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos” (Gênesis 50.20). Não basta ver; precisamos reconhecer que é Deus quem está no controle.

  5. Eu estou fazendo. Por fim, Deus afirma que é ele quem está fazendo. A convicção da mão poderosa de Deus já tem sido usada muitas vezes para justificar erros e distorções humanas. No entanto, o fato é que Deus usa mesmo erros humanos para dirigir seu plano soberano. Podemos descansar que o mesmo Deus que nos trouxe através da última fase irá nos conduzir com sua poderosa mão na próxima.

À medida que o inverno se transforma em primavera, à medida que os anos se acumulam e seu corpo dá indícios de que está perdendo o vigor da juventude, podemos manter nosso coração seguro com a esperança do futuro. Sabemos que as fases vão se suceder, mas também sabemos que um dia estaremos para sempre com o Senhor nos céus. Que esta doce esperança mantenha nossos olhos voltados para ele enquanto vivemos cada nova estação de nossas vidas.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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