O Significado do “Natal” na Bíblia

Paul Martin Henebury

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O título do presente texto foi calculado a fim de fazer com que as pessoas levantem uma sobrancelha de curiosidade, ou até duas. Devo explicar imediatamente por que coloquei o “Natal” entre aspas. Sei que é desnecessário dizer que o termo não tem origem bíblica. Mas, novamente, poderia se dizer o mesmo a respeito da ideia do Natal como um todo. A Escritura não sabe nada a esse respeito.

Contudo, voltamo-nos para a Bíblia quando explicamos o que é o Natal. Falamos sobre a anunciação feita a Maria. Podemos até explicar um pouco a respeito do nascimento virginal. Então relatamos a história dos pastores nas colinas fora de Belém. Se estivermos sendo anacrônicos, podemos cometer a falácia de mencionar também os magos como estando presentes na ocasião. E, depois de termos narrado esses fenômenos, a mensagem vem à tona: “Jesus nasceu para nos salvar de nossos pecados”.

Deixe-me dizer logo que não discordo dessa afirmação. Tampouco nego que seja uma mensagem de abalar a terra. Meu problema é que ela não afirma toda a verdade. E ela falha porque é uma afirmação separada do seu contexto. Vejamos que contexto é esse.

O relato de Mateus

“Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.” (Mateus 1.1)

Imediatamente antes da história do nascimento, o evangelista fornece uma genealogia ligando claramente Cristo a Abraão e Davi.

“O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe, estava comprometida para casar com José. Mas, antes de se unirem, ela se achou grávida pelo Espírito Santo. José, com quem Maria estava para casar, sendo um homem justo e não querendo envergonhá-la em público, resolveu deixá-la sem que ninguém soubesse. Enquanto ele refletia sobre isso, eis que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: ‘José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.’ Ora, tudo isto aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel.’ (‘Emanuel’ significa: ‘Deus conosco’.)” (Mateus 1.18-23)

Nesse contexto, a referência deliberada do anjo às raízes davídicas de José teria evocado memórias e esperanças de cumprimento da aliança davídica. A referência à salvação dos pecados e possivelmente ao Espírito Santo teria encorajado esperanças da nova aliança. Coloque-se no lugar de José e imagine o nível de expectativa em sua mente. Finalmente, o Deus de Abraão e Davi revelaria o Messias: o rei que iria restaurar Israel e trazer a paz.

Seria necessário um anúncio angelical para que José cresse que a outrora orgulhosa linhagem de Davi, representada por ele, um simples carpinteiro, seria novamente exaltada. A conexão temática com o Antigo Testamento é natural. Na verdade, pode-se facilmente ver que, se Mateus 1–10 fosse um livro veterotestamentário, não haveria nenhum problema. O que foi prometido tinha chegado e o reino estava sendo proclamado. Tudo parecia estar pronto para a era dourada.

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E quanto a Lucas?

“Mas o anjo lhe disse: ‘Não tenha medo, Maria; porque você foi abençoada por Deus. Você ficará grávida e dará à luz um filho, a quem chamará pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo. Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim’.” (Lucas 1.30-33)

Eu não consigo imaginar que essas palavras não tenham trazido à mente de Maria a profecia de Isaías 9.6-7:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu. O governo está sobre os seus ombros, e o seu nome será: ‘Maravilhoso Conselheiro’, ‘Deus Forte’, ‘Pai da Eternidade’, ‘Príncipe da Paz’. Ele estenderá o seu governo, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e para o firmar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre.”

Mais uma vez, aqui o “Natal” é sobre o trono de Davi e o reino. É sobre o reinado messiânico perpétuo sobre Israel. É sobre a paz e o descanso para o povo de Deus.

Então o cenário muda para Belém e os pastores:

“Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam os seus rebanhos durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: ‘Não tenham medo! Estou aqui para lhes trazer boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo: é que hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto servirá a vocês de sinal: vocês encontrarão uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura’. E, de repente, apareceu com o anjo uma multidão do exército celestial, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem’.” (Lucas 2.8-14)

Entram os pastores, que não estavam marcando seus calendários, aguardando por algo especial. Os montes estavam em silêncio e a noite caíra, e de repente surge um anjo do Senhor! Que tenham ficado com medo não é surpresa. A palavra “Cristo” não teria a mesma conotação para os pastores do que para os cristãos. Para aqueles, esse era um anúncio da vinda do Rei Messias; o Pastor escolhido por Deus que iria estabelecer Israel em glória (cf. Ezequiel 34.23-31).

A “canção” do coral celestial (Lucas 2.14) não é uma tentativa inoportuna de ilusão angelical. No contexto dos primeiros capítulos da história do evangelho, ela representa uma expectativa real. Essa expectativa, agora sabemos, não despontou. Cristo foi rejeitado. Ele ainda o é! Mas ele voltará e será aceito por corações arrependidos. Os evangelistas olham para além do nosso tempo. Eles olham para um mundo melhor. “Paz na terra” é uma verdade!, mas uma que está à nossa frente. Aquele que foi desprezado e rejeitado e que morreu e ressuscitou irá introduzi-la quando descer para reivindicar aquilo que as “narrativas da infância” proclamam claramente como sendo seu por direito. Ele reinará sobre a casa de Jacó para sempre; seu reino não terá fim.

Assim, quando desejarmos “Feliz Natal” uns aos outros, que não olhemos apenas para trás, para uma manjedoura em um estábulo, ou para uma cruz vazia. Juntemo-nos aos anjos em antecipação jubilosa pelo Reino de Paz que virá! Pois esta é a mensagem do “Natal”.

Publicado com autorização. Confira mais textos do Dr. Henebury em seu blog.

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