O problema do “meu” Jesus

Daniel Lima

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Já havíamos conversado por horas em diferentes encontros. Já havia mostrado diferentes passagens e emprestado livros. Naquele momento ambos estávamos cansados. Eu, como pastor, estava exortando meu querido irmão a desistir de um caminho que contrariava tanto o ensino bíblico como a posição de nossa igreja. Ele, como membro que havia crescido na igreja e era de uma das famílias mais tradicionais, insistia em prosseguir em seu caminho. Finalmente eu abri minha Bíblia e apontei para um versículo que, a meu ver, ensinava inequivocamente a posição que eu defendia e disse: “Se você conseguir explicar este versículo a partir do seu ponto de vista eu passo a concordar com você”. Ele releu a passagem e com evidente emoção respondeu: “O meu Jesus, a quem eu oro e adoro, que me acompanha nos momentos mais escuros... Ele não diria isso aqui!”.

Essa cena é emblemática para mim daquilo que eu chamo do problema do “meu” Jesus. Esse irmão querido definiu Jesus a partir de sua experiência e não com aquilo que Jesus diz a seu próprio respeito. Isso poderia ser catalogado como um cristão rebelde simplesmente se recusando a levar em consideração a Palavra de Deus. Certamente foi isso, mas representa algo muito mais profundo e problemático para a igreja de nossos dias. 

Um número cada vez maior de pastores e líderes tem se levantado e buscado diminuir a autoridade bíblica. É óbvio que eles negam estar fazendo isso. Alegam que estão buscando trazer à tona o “verdadeiro sentido da Bíblia”, o qual ficou oculto ao longo dos séculos. Poderíamos começar apontando para a incrível arrogância de pessoas que afirmam que, por dois mil anos, a igreja ao redor do mundo não compreendeu um texto. No entanto, creio que é mais importante observar como funciona a lógica desses pregadores. Temo que muitos membros de nossas igrejas estão sendo contaminados com a mesma linha de raciocínio.

O raciocínio começa denunciando as incoerências da cristandade. É importante destacar que cristandade é como as pessoas viveram sua compreensão do cristianismo. Assim, foi a cristandade, e não o cristianismo, que promoveu as Cruzadas, a perseguição aos hereges e assim por diante. Isso não nos isenta de responsabilidade! Na verdade, muito do que cremos e defendemos hoje é fruto do pensamento da cristandade. E sim, como humanos ao longo da história, mesmo na tentativa de representar a Jesus Cristo, cometemos erros. Em alguns casos, nos desviamos tanto dos ensinos de Cristo que cometemos até mesmo atrocidades.

Os erros que com frequência cometemos são mais resultados de distorções advindas de nossa perspectiva influenciada pela cultura do que da própria Bíblia.

No entanto, erros do passado não invalidam nossa capacidade de ler e compreender as Escrituras. Pelo contrário, são justamente as Escrituras que nos dão autoridade para avaliar e corrigir posições e rumos. Os erros que com frequência cometemos são mais resultados de distorções advindas de nossa perspectiva influenciada pela cultura do que da própria Bíblia. Nossa postura, como servos do Deus que se revela por meio da Palavra escrita, tem de ser uma de humildade, estando sempre prontos a rever posições, desde que seja a partir da própria Bíblia.

O raciocínio dos teólogos e pregadores “progressistas” é sempre colocar em suspeição as próprias Escrituras. Uma de suas frases mais famosas é que “Jesus é minha chave hermenêutica”. Sem dúvida, Jesus é a própria revelação do Pai (Hebreus 1.3). E também é verdade que Jesus é a chave para compreensão de toda a Bíblia, Antigo e Novo Testamento. A pergunta no entanto é: “De qual Jesus estamos falando?”.

Para os progressistas, Jesus é um personagem moldado por minha própria experiência, pelas demandas de nossos dias ou por aquilo que encontro em meu próprio coração.

Para os progressistas, Jesus é um personagem moldado por minha própria experiência, pelas demandas de nossos dias ou por aquilo que encontro em meu próprio coração. Alguns desses pregadores diminuem ou rejeitam instruções bíblicas pois “não consigo ver um Deus de amor condenando pessoas a uma eternidade no inferno”. Ou então “minha experiência com casais homoafetivos demonstra que isso não pode ser contrário ao projeto de Deus”. Em outras palavras, minhas impressões e minhas experiências determinam meu Deus. Ao afirmar que não podemos confiar no registro bíblico, pois é fruto de interpretações humanas, esses pregadores passam a confiar em suas próprias interpretações. Com isso acabam fazendo um “Jesus” à sua própria imagem e semelhança.

Minha oração por você, meu irmão e irmã, é que nossas posições, ideias e convicções sejam avaliadas, moldadas e instruídas pela Palavra de Deus. Afinal, não é sem razão que o Espírito Santo nos instrui através do apóstolo Paulo em 2Timóteo 3.16-17:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o servo de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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