O Perigo do Pragmatismo no Ministério

Daniel Lima

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“Na prática, a teoria é outra!” Essa conhecida frase revela bastante uma característica de nossa cultura. É possível falar de várias teorias, mas, na prática, vale o que funciona. Eu me lembro de um pastor e amigo que declarou: “A Bíblia não fala disso, mas que existe, isso existe!”. Chamamos popularmente de pragmatismo a convicção de que a validade de uma ideia é determinada por seus resultados práticos, mesmo que sua base teórica seja suspeita ou desconhecida.

Pragmatismo tem um ar de realidade indiscutível. Ou seja, uma ideia é verdade se funciona e equivocada se não demonstra seus resultados. Quando aplicamos isso a muitos fatos do cotidiano, faz todo sentido. Exemplo: a lei da Gravidade é confirmada toda vez que é testada, não importa se você conhece ou entende a explicação teórica.

Ampliando um pouco mais o conceito, percebemos que há situações em que o pragmatismo tem validade, mas nos deixa um pouco desconfortáveis. Exemplo: a ideia de que dinheiro traz felicidade. Por um lado, recursos ajudam qualquer ser humano a enfrentar seus desafios. Ao mesmo tempo, sabemos que há questões muito profundas que não podem ser resolvidas com dinheiro.

Por fim, há situações em que o pragmatismo é realmente enganoso. Exemplo: quando tentamos aplicar determinado programa educacional que funcionou em um contexto ou época diferente do nosso. O sucesso em um ambiente diferente não garante o mesmo sucesso aqui e agora. Em casos mais graves, o pragmatismo chega mesmo a ser prejudicial. Um exemplo clássico foram as agências missionárias que davam alimento a quem dissesse que havia se convertido e frequentasse os cultos. Isso gerou um grande número de “cristãos”, mas muito pouco fruto verdadeiramente espiritual.

O pragmatismo é especialmente prejudicial quando aplicado à vida cristã.

Portanto, o pragmatismo, quando definido dessa forma, parece ter um alcance bastante reduzido. Acredito que o pragmatismo é especialmente prejudicial quando aplicado à vida cristã. Exemplo: líderes cristãos que usam técnicas de manipulação parecem obter os resultados que desejam, mas resta saber se tais resultados estão alinhados com a vontade de Deus. Uma igreja que investe em shows, marketing e grandes programações pode crescer e se tornar muito conhecida, mas o propósito da igreja é muito mais do que encher e se tornar conhecida. O propósito da igreja é propagar a verdade atraindo pessoas para Deus.

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A própria Escritura é certamente favorável a métodos novos e inovadores. Um método antigo não é melhor por ter funcionado muitos anos atrás. Não é raro que sua eficácia como método esteja ligada a características específicas da época em que obteve sucesso. Paulo mesmo afirma: “Fiz-me tudo para com todos, a fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1Coríntios 9.22). Como, então, manter o equilíbrio entre o pragmatismo e um ministério que atinja aqueles que queremos alcançar? Certamente a palavra-chave é discernimento. Deixe-me alistar aqui alguns princípios que são muito úteis.

  1. Verdade. Nosso chamado é promover a verdade e não ter sucesso às custas da verdade (Efésios 4.15). Qualquer método ou estratégia que oculte a verdade, ou não a promova como prioridade, deve ser rejeitado, mesmo que traga muito “resultado” prático.

  2. Valores. No ministério cristão, não importa apenas o que fazemos, mas como fazemos. Na verdade, tudo o que fazemos deve apontar para Deus, pois o ministério é dele e não nosso. Um ministério bem-intencionado mas com valores distorcidos, ainda que produza resultados, não é um ministério fiel (Colossenses 3.17).

  3. Fidelidade. Curiosamente, apesar de conter ministérios bem-sucedidos, o Novo Testamento nunca fala de sucesso, mas de fidelidade. E fidelidade não é medida por resultados, mas por alinhamento com princípios divinos (1Coríntios 4.12).

  4. Essência versus forma. Ao longo de todo o texto bíblico, Deus deixa claro que seu interesse é no coração quebrantado e não no rigor da forma. A essência importa mais do que a forma. Assim, precisamos adaptar as formas a diferentes contextos e épocas, sem modificar a essência do que fazemos (Salmos 51.16-17).

  5. Frutos. Sem sombra de dúvida, resultados importam e nos informam se a boa mão de Deus está conosco. É importante avaliar se nosso ministério ou serviço tem atingido pessoas e, caso contrário, qual é a razão? Acredito que um ministério fiel trará frutos no tempo dele, de acordo com a vontade dele (Gálatas 6.9).

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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