Nosso Alvo como Cristãos neste Mundo

Em 1Pedro 1.4 lemos que nossa herança “não pode ser destruída, que não fica manchada, que não murcha e que está reservada nos céus” para nós. Como devemos viver à luz disso?

Não é fácil nos vermos como peregrinos na Diáspora. Por essa razão, Pedro aponta para o alvo de nossa fé. No versículo 3, ele fala da viva esperança por meio da ressurreição de Jesus Cristo. Nos versículos 4 e 5, ele revela essa viva esperança. Trata-se da herança imperecível, imaculada e reservada no céu.

Toda a plenitude divina já nos foi dada hoje em Cristo. No entanto, o verdadeiro objetivo de nossa fé ainda está à nossa frente. A próspera sociedade, misturada com um evangelho superficial de bem-estar, nos engana, levando-nos a pensar que já devemos e podemos ter tudo nesta vida. Isso nos leva a querer evitar o sofrimento por causa de Cristo e a ver as tentações e aflições como algo incômodo, algo que apenas prejudica nossa qualidade de vida. Mas o verdadeiro objetivo de nosso discipulado está no futuro. É por isso que Paulo escreve: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo” (1Coríntios 15.19). Sejamos sinceramente gratos por todas as coisas boas que o Senhor nos dá hoje. Mas não nos esqueçamos: nossa meta não é viver uma vida tão despreocupada e relaxada quanto possível hoje, pois o que realmente importa está no futuro. É para lá que estamos nos dirigindo como peregrinos. Ter essa meta em vista nos dá força e coragem para perseverarmos hoje em todas as tentações e dificuldades.

Afinal, é uma herança eterna, imperecível, imaculada e imarcescível que nos espera no céu, nosso verdadeiro lar!

Características da nossa herança

Essa herança inclui a vida eterna. Compartilharemos da glória de Cristo, o veremos como ele é, reinaremos com ele. Um dia teremos o mesmo corpo glorioso com o qual Jesus ressuscitou dos mortos, livre de toda corrupção, não mais sujeito ao pecado. Sua natureza espiritual e seu caráter serão pronunciados em cada um de seus seguidores, livre de todas as nossas peculiaridades pecaminosas. Nós o serviremos, o adoraremos – sem falhas, sem contratempos. Quando virmos Jesus face a face, sentiremos uma alegria da qual não temos ideia hoje. Estaremos visível, eterna e inseparavelmente unidos a ele.

Quando virmos Jesus face a face, sentiremos uma alegria da qual não temos ideia hoje. Estaremos visível, eterna e inseparavelmente unidos a ele.

Tudo isso está esperando por nós, não porque fomos tão corajosos ou tão bons e merecemos, mas porque ele é o Cordeiro digno e pagou o preço mais alto. Essa herança “está reservada nos céus para [nós]” (1Pedro 1.4). Ninguém pode arrancá-la dos filhos de Deus, nem mesmo a maior perseguição: ela é imperecível. O pastor John MacArthur destaca em sua Bíblia de Estudo que essa palavra em grego significa algo que não poderia ser devastado por um exército invasor.[1] A sedução e a perseguição podem ser muito duras para nós, mas elas não podem tocar na herança que nos aguarda no céu.

É imaculada, completamente divina e pura, à parte de todo mal. Não importa quão injusto seja o mundo, não importa quanto dano e sofrimento soframos por causa da fé, isso não pode mudar o fato de que uma herança imaculada nos espera.

Por fim, essa herança é imarcescível, isto é, que não murcha. Visitei há alguns anos com frequência um missionário que estava nos estágios finais do mal de Alzheimer. Por um lado, é assustador ver como nós, seres humanos, podemos nos desintegrar e nos desfazer mental e fisicamente. Por outro lado, foi nesse mesmo leito que percebi o privilégio que é ter uma herança imarcescível, o tesouro de uma nova vida, que todos os sintomas e efeitos do mal de Alzheimer não poderiam prejudicar.

Somente nosso Senhor pode nos guardar e nos levar ao alvo por causa do seu nome.

Mas quem pode me dizer que a tentação, a aflição, o engano, que de fato aumentarão nos últimos dias, não nos afastarão de Cristo? Se fôssemos deixados por nossa própria conta, por nossa força, nossa piedade e nossa devoção, não seria apenas um cenário incerto, mas totalmente desesperançoso. Nosso fracasso estaria garantido. Mas Pedro está nos dizendo algo único aqui: não apenas a herança é preservada ou reservada no céu, mas os crentes também serão preservados no poder de Deus por meio da fé para a salvação. Somente nosso Senhor pode nos guardar e nos levar ao alvo por causa do seu nome.

Conclusão

Todas as tentações e pressões crescentes, seja por meio de sedução ou perseguição, não devem nos levar à falácia de que somos algum tipo de piedosa unidade antiterrorista de elite, à qual não pode ser afetada por nada disso. Não, isso deve nos levar a olhar exclusivamente para o poder preservador de nosso Senhor. O reformador Martinho Lutero traduziu Isaías 28.19 de forma muito livre como: “Pois somente o desafio nos ensina a prestar atenção à palavra”. Trata-se de esperar tudo somente de nosso Senhor e depender dele. Não há segurança em nós mesmos.

Em Cristo estamos seguros. Encontramos tal firme certeza, baseada exclusivamente no poder preservador de nosso Senhor, quando o apóstolo Paulo enfrentou o martírio: “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu Reino celestial. A ele, glória para todo o sempre. Amém!” (1Timóteo 4.18).

Nota

[1] John F. MacArthur, John MacArthur Studienbibel (Bielefeld, Alemanha: Christliche Literatur-Verbreitung, 2002), p. 1861.

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