Mentira, a Raiz do Pecado
Assim como você, eu tenho assistido – e ficado cansado e frustrado com – a guerra de narrativas na política brasileira, latino-americana e mundial. Ontem eu ouvi um líder palestino afirmar repetidas vezes e com ênfase que a corte de Haia havia reconhecido que Israel era responsável por genocídio em Gaza. Tendo lido várias reportagens a respeito, voltei a ler a decisão da Corte Internacional. E, com a maior isenção possível, não há ali uma acusação ou reconhecimento de que Israel tem praticado genocídio. Há sim um alerta para que isso não aconteça.
Na vizinha Venezuela, os candidatos da oposição são julgados inelegíveis e agora condenados à prisão, enquanto o presidente/ditador afirma que está fazendo isso em defesa da democracia. Mais perto de casa, nosso atual presidente, em defesa do referido presidente/ditador, afirmou que o conceito de democracia é relativo. E ouço, quase no mesmo dia, que o número de crimes violentos diminuiu e que o número de crimes violentos aumentou em 2023. Ambas as informações vêm de órgãos que aparentam ter credibilidade.
Isso seria trágico e pernicioso se estivesse apenas no ambiente do mundo e da política. No entanto, se você tem vivido há alguns anos na igreja, temos episódios de relatos conflitantes entre cristãos. Ao longo dos meus mais de trinta anos aconselhando casais, aprendi que não se pode ouvir um lado só. Ao ouvir a esposa (em geral é quem vem apresentar qualquer queixa ao pastor), eu penso: “Coitada, casou-se com um orangotango”. Quando ouço o marido, penso: “Pobrezinho, casou-se com uma bruxa!”. É evidente que, para conhecer a verdade, em geral precisamos filtrar elementos de ambos os lados, incluindo alguns e corrigindo outros. Em meu ministério de mentoria de pastores, tenho visto a mesma coisa em termos de relações entre pastores e a liderança de suas igrejas. Vejo relatos do mesmo evento de perspectivas tão diferentes que parece que estão falando de coisas diferentes. Tenho visto narrativas construídas a partir de “meias-verdades” e que, com o tempo, se tornam verdades indiscutíveis.
Isso me faz voltar ao conceito da mentira e de como esta é o fundamento da rebelião contra Deus. Tentar reduzir a rebelião de Satanás a um só pecado me parece fútil. No entanto, entre outros (orgulho, desobediência, arrogância), creio que a mentira é sua raiz. Mentira como um relato que distorce a verdade. Pensando assim, qualquer atitude que se levanta contra Deus, que é a própria verdade (João 14.6), é uma mentira. Quando Satanás decidiu ser igual a Deus, ele se rebelou contra a verdade (o próprio Deus) e contra a verdade de que ele é supremo. Não é de surpreender que, ao tentar Eva, ele afirme mentiras (Gênesis 3.4-5). A partir daí, toda a sua estratégia se baseia em atacar, ocultar e distorcer a verdade, por isso Jesus afirma que ele é o “pai da mentira” (João 8.44).
Mentira [é] um relato que distorce a verdade. Pensando assim, qualquer atitude que se levanta contra Deus, que é a própria verdade (João 14.6), é uma mentira.
Pensando nisso, tanto em relação ao que ouvimos quanto a como interpretamos e relatamos as experiências que vivemos, gostaria de dar algumas sugestões:
- Busque ativamente a verdade. Em muitas situações, percebo cristãos se entregando a uma postura de “nunca vamos saber a verdade sobre esse evento”. Sem dúvida, há muitas situações em que não temos e nunca teremos todos os dados, mas isso não deve nos isentar de buscar o que podemos buscar e não abrir mão da verdade.
- Cultive um compromisso pessoal com a verdade. Não só fale a verdade, mas tenha muito cuidado ao relatar um evento. É comum tomarmos liberdades para “colorir” o evento de forma a dar ao mesmo uma perspectiva mais favorável. Resista corajosamente a relatar algo com parcialidade. Deus, que é a verdade, não precisa e não usa de mentira. Essa ferramenta é usada pelo inimigo.
- Não existe meia-verdade. Quanta mentira precisa existir em uma afirmação para que esta deixe de ser verdade? Mesmo uma pequena porção de mentira faz com que o relato seja mentiroso. No caso acima da acusação de genocídio de Israel, a conclusão da Corte Internacional não é que Israel cometeu genocídio. No entanto, Israel foi alertado para não cometer ações que possam ser interpretadas como genocídio. Alguém pode afirmar: “É a mesma coisa...”. Não é. A acusação foi negada, não foi acatada, ou seja, a conclusão é de que não houve genocídio, embora possa haver alguns indícios. Prepare-se para ouvir nos próximos tempos que Israel foi condenado pela Corte Internacional por genocídio.
- Cuidado para não julgar. A realidade é que há muitas situações que não sabemos os fatos, apenas desconfiamos. Às vezes desconfiamos com muita intensidade, pois a pessoa ou organização em questão tem um histórico nesse sentido. Todavia, não podemos completar as lacunas e pular direto para acatar ou negar afirmações com base em nossas impressões, preferências ou preconceitos. Especialmente com respeito à intenção de pessoas, a Palavra nos diz que apenas o indivíduo conhece seu próprio coração (1Coríntios 2.11).
Deus, que é a verdade, não precisa e não usa de mentira. Essa ferramenta é usada pelo inimigo.
Vivemos em um mundo caído e somos pessoas caídas, mas redimidas pela graça de Jesus. Minha oração por mim mesmo e por você é que sejamos conhecidos como pessoas que, devido à habitação do Espírito Santo e nosso compromisso com o Pai, proclamemos Jesus seguindo as instruções de Efésios 4.15: “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em todas as coisas naquele que é a cabeça, Cristo”.