Gênesis 4–8: Causa e Efeito

Ron J. Bigalke

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Ter um plano de ler a Bíblia inteira é um alvo notável. Muitos começam bem, mas não conseguem terminar assim. Uma das razões é as genealogias, que, para a maioria das pessoas, são a parte mais chata da Bíblia. Elas parecem ser listas infindáveis de nomes impronunciáveis de pessoas antigas.

As genealogias não deveriam ser tão prontamente ignoradas. As mesmas pessoas que consideram uma genealogia chata gastam horas revisando números minúsculos em uma longa lista da bolsa de valores. Quando eu estava no ensino fundamental, passei incontáveis horas lendo (e memorizando) a parte de trás de meus cartões de futebol para obter as estatísticas de meus jogadores favoritos. A verdade é que listas só são chatas se não houver interesse ou relevância.

Para aqueles que consideram genealogias entediantes e não oferecendo muito entendimento prático, é importante lembrar que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Timóteo 3.16). Frequentemente, há incidentes dignos de nota no meio de uma lista de nomes. Por exemplo, Matusalém viveu “novecentos e sessenta e nove anos” (Gênesis 5.27)!

O que é extraordinário a respeito das primeiras genealogias bíblicas é a longevidade da vida. Contudo, mesmo eles não podiam postergar o inevitável: a morte. A repetição das palavras “e morreu” alerta a pessoa descuidada a um senso de sua mortalidade, podendo até levar ao arrependimento e fé em Deus como Salvador. Gênesis 4.1–6.8 retrata como a nossa mortalidade é inescapável. No entanto, esses capítulos também revelam a possibilidade de sermos recipientes da graça de Deus enquanto vivos.

Origem (raiz) e resultado (fruto)

Gênesis 3 descreve como o pecado se originou com a raça humana e arruinou as condições ideais dos capítulos 1 e 2. Gênesis 4 revela que Adão e Eva começaram a obedecer a ordem de Deus de “sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na” (1.28). Eva ficou grávida e “deu à luz Caim” (4.1). “Depois, deu à luz Abel, irmão de Caim” (v. 2). O restante de Gênesis 4 revela as implicações de uma humanidade pecadora e os males que são produzidos. Os versículos 1-15 mostram os efeitos do pecado sobre o inpíduo. O impacto na sociedade é evidente do versículo 16 em diante.

A inveja de Caim levou a assassinato. Ele demonstrou o que o pecado produz inpidualmente.

Caim e Abel tinham interesses únicos, como se vê em suas ofertas ao Senhor (4.3-5). Não há indicação de por que Deus “não se agradou” da oferta de Caim, embora seja razoável presumir que os irmãos tinham sido instruídos quanto ao tipo de oferta que o Senhor desejava, seja diretamente por Deus, seja indiretamente por seu pai, Adão. A oferta de Abel é muito parecida com o que é prescrito em Levítico 3.16, e isso indicaria que ela não fora baseada em uma conjectura. Deus exigia que o sacrifício demandasse uma vida em troca de outra, pois essa era a única maneira pela qual o pecado podia ser perdoado (cf. João 10.11; Romanos 5.8; Efésios 5.2).

É claro que ninguém gosta de ser rejeitado, especialmente quando isso envolve não ter o favor de Deus. Há duas opções em circunstâncias assim – ou corrigir a situação, ou ficar irado. Infelizmente, Caim escolheu esta última. Ele “ficou muito irritado” (Gênesis 4.5) com Deus, e então permitiu que sua inveja se transformasse em ódio contra aquele (Abel) a quem Deus favoreceu (v. 8).

Deus não abandona aqueles que pecam (Gênesis 4.6-7; cf. 3.21); pelo contrário, ele deu a Caim a oportunidade de confessar sua culpa (4.9), mas, lamentavelmente, este se recusou a fazê-lo (v. 10). Sem Deus como seu mestre, ele se tornou escravo do pecado. Deus o alertara quanto ao poder destrutivo do pecado. Se Caim tivesse resistido a ele, teria encontrado bênção; contudo, a decisão de deixar seu pecado governar sobre si significava que ele também o devoraria. Deus é justo, o que se traduziu na punição de Caim (v. 11-12,16). Contudo, até mesmo a punição era graciosa (v. 15), pois Deus poderia facilmente ter punido Caim com a morte. Caim respondeu à disciplina graciosa de Deus com autopiedade (v. 13-14). Ele não sentiu qualquer tristeza pelo seu pecado, mas apenas lamentou a punição.

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O pecado afetou de tal maneira a humanidade que a natureza caída e depravada não responderá a ninguém. A inveja de Caim levou a assassinato. Ele demonstrou o que o pecado produz inpidualmente. Começando com 4.16, a descrição é o impacto coletivo do pecado sobre a sociedade. A civilização cainita era culta, inteligente, trabalhadora e progressiva, mas também orgulhosa e autossuficiente (v. 17-24). Era uma sociedade que negligenciava o espiritual e permanecia afastada de Deus. Ao contrário de uma vida dirigida por Deus, a civilização cainita (desde o seu início) gloriou-se nas realizações da humanidade (“Caim edificou uma cidade e a chamou de Enoque, o nome de seu filho”, v. 17).

Nessa época, a humanidade consistia de duas linhagens: uma linhagem ímpia descendente de Caim (v. 17-24), e uma linhagem piedosa com origem em Sete (v. 25-26). Gênesis 5 apresenta a história da linhagem piedosa; ela começa com Deus, que criou a humanidade (v. 1). “Deus os criou homem e mulher, os abençoou e lhes deu o nome de ‘ser humano’ [literalmente, Adão], no dia em que foram criados” (5.2).

Os seres humanos são únicos em toda a criação, pois somente a raça humana foi criada à semelhança de Deus (cf. 1.26-27). Não há nada inferior em relação ao homem ou à mulher, pois Deus “os criou homem e mulher” e os abençoou como gêneros distintos.

A genealogia de Sete é encorajadora, pois revela os descendentes piedosos de Adão. A linhagem de Caim rejeitou a Palavra de Deus e promoveu a poligamia e a violência; porém, havia outra linhagem, por meio de Sete, que invocou “o nome do Senhor” (Gênesis 4.26). Sempre há pessoas que servem a Deus.

Não importa quantos dobrem seus joelhos diante de Baal (cf. 1Reis 19.18), sempre haverá um remanescente fiel que busca o Senhor. Em meio à impiedade e perversidade, houve aqueles que eram piedosos e justos. A genealogia de Gênesis 5 é um contexto crucial para entender os casamentos mistos de Gênesis 6.

Após o registro do crescimento populacional – que estava de acordo com a vontade e propósito de Deus (Gênesis 1.28) –, intensificou-se o conflito entre os piedosos e os ímpios. A descendência dessas uniões eram os “nefilins”, o que significa literalmente “caídos” (6.4; na NAA, consta como “gigantes”). Em resposta, Deus escolheu um homem, Noé, para construir uma arca (v. 7-8). Os casamentos que resultaram das duas linhagens iriam chegar a um ápice de juízo sobre quase toda a humanidade. O fator que levou diretamente ao Dilúvio (6.9–7.24) foi a união profana entre os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens”, resultando em grande perversidade (6.1-6). A decisão de Deus de não “agi[r] para sempre no ser humano”, mas diminuir os dias da humanidade para 120 anos (v. 3), é a provisão graciosa do Senhor que prova sua imensa paciência (cf. 2Pedro 3.9).

Por volta do século XXIV a.C., a humanidade tinha se degenerado completamente. O mundo tinha se tornado um lugar horrível de se viver, porque “a maldade das pessoas havia se multiplicado na terra e... todo desígnio do coração delas era continuamente mau” (Gênesis 6.5; cf. v. 11-13). É difícil imaginar uma afirmação mais enfática da depravação humana. A maldade crescente entristecia o Senhor, levando-o assim a escolher um homem (e sua família) para salvar. O pecado tinha dominado a humanidade de tal forma que apenas Noé é mencionado como justo (v. 9), o que significa que ele tinha comunhão com Deus e vivia uma vida de obediência ao Senhor. Noé não recebeu a graça por mérito; antes, ele “encontrou favor aos olhos do Senhor” (v. 8). Nenhuma pessoa jamais merece a graça pina; o favor imerecido de Deus é sempre obtido exclusivamente por meio da justiça imputada de Cristo Jesus.

O Deus das Sagradas Escrituras é soberano sobre toda a criação, e ele frequentemente usa a natureza para julgar a humanidade.

Deus declarou que destruiria a terra com “um dilúvio de águas sobre a terra” (v. 17). Por que Deus usaria um dilúvio como juízo? A resposta pode ser que o mar sempre foi considerado um lugar perigoso e tempestuoso para os hebreus amantes da terra; ele também simbolizava a inquietação dos perversos (Isaías 57.20) e as nações rebeldes do mundo (Daniel 7.2; Mateus 13.47; Apocalipse 13.1). Todavia, o Deus das Sagradas Escrituras é soberano sobre toda a criação (veja Salmos 29, que se refere ao poder de Deus “sobre as muitas águas”), e ele frequentemente usa a natureza para julgar a humanidade.

Outro motivo por que Deus pode ter usado o Dilúvio como julgamento é que este efetivamente purificaria o mundo de uma forma muito impactante visualmente. A terra seria limpa, de forma que nem um traço de perversidade seria encontrado. Com essa purificação da terra, apenas o remanescente de Deus – Noé e sua família (Gênesis 6.10) – permaneceria. Mais tarde, a Lei se referia ao lavar com água como um símbolo de purificação que era necessário antes da adoração (p. ex., Levítico 8.6,21). Da mesma forma, o Novo Testamento usa linguagem similar (p. ex. Tito 3.5). Deus também usou o Dilúvio para começar uma nova criação.

Assim como houve uma transformação que destruiu o mundo da época de Noé e resultou no mundo atual, a Bíblia profetiza um futuro julgamento (escatológico) súbito (não um dilúvio mundial, mas um juízo de fogo mundial) sobre este mundo atual, que resultará em “novos céus e nova terra” (2Pedro 3.13; Apocalipse 21.1). A mensagem de 2Pedro 3 é para ter um efeito purificador sobre aqueles que creem nela, como evidenciado naqueles que se esforçam “para que Deus os encontre sem mácula, sem culpa e em paz. E consider[am] a longanimidade do nosso Senhor como oportunidade de salvação” (v. 14-15).

Mesmo hoje, toda a raça humana pode ser pidida entre os piedosos e os ímpios, sendo que a diferença entre eles é se a pessoa se identifica com Deus ou não. Com fé no Senhor Deus, você nunca está sozinho, e está tão seguro quanto Noé.

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Ron J. Bigalke (Ph.D., Tyndale Theological Seminary) fundou em 1999 a missão Eternal Ministries junto com sua esposa. Membro da diretoria do Ministério Chamada nos Estados Unidos, Bigalke colabora frequentemente em revistas, livros e artigos para a internet. Além disso, é o editor-geral de quatro obras. Sua ênfase atual está nas áreas de apologética, estudo bíblico, pensamento eclesiástico, historiografia, teoria política e teologia. Casado com Kristin, possui dois filhos.

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