Formação Espiritual: Em favor dos outros

Daniel Lima

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Talvez o tema mais debatido e promovido hoje em dia é o tema da liberdade e diversidade. Um resumo simplório poderia ser “não importa o quão diferente, tenho o direito de ser quem sou”. É difícil contradizer uma lógica assim, não? Na verdade, essa afirmação se apoia em um castelo de cartas. Suas fundações não são firmes. Não temos espaço aqui para discutir o que significa “ser quem eu sou”. Cada vez mais a questão da identidade é relegada ao âmbito individual. Enquanto há não muito tempo o grupo de referência determinava a sua identidade, hoje é algo absolutamente no domínio do indivíduo. Dessa forma, se alguém nasce com todo o aparelho biológico masculino, ele pode identificar-se como uma mulher, contrariando o gênero que lhe “foi atribuído” ao nascer. Essa perspectiva tem gerado inúmeros conflitos e distúrbios na sociedade e em indivíduos.

Ao mesmo tempo, não podemos negar o fato de que a sociedade tem sido extremamente cruel em determinar identidades individuais. Esse modelo dava (e ainda dá) espaço para muitas distorções e abusos. Por exemplo, em uma sociedade escravocrata, sua origem, cor de pele ou o resultado de guerras permitiam que a você fosse atribuída uma identidade inferior. Se nem o indivíduo nem a sociedade podem atribuir identidades, qual a solução? A Bíblia afirma que justamente no Éden o primeiro casal humano abriu mão da solução. Até ali Deus determinava o que era bom, por isso a proibição de que o homem tomasse para si o papel de determinar o bem e o mal. No momento que nossos primeiros pais tomam do fruto da árvore do bem e do mal, eles rejeitam o padrão de Deus e assumem que, a partir dali, nós – os humanos – vamos determinar o bem e o mal.

Na série de artigos sobre formação espiritual, temos usado a seguinte definição para orientar nossa discussão: “Formação espiritual é o processo de ser formado à imagem de Cristo, em favor dos outros”. [1]

Para Jesus o eixo ético é viver em favor dos outros.

Já vimos a questão de que a formação espiritual é um processo e não o resultado de experiências instantâneas. Também já vimos que somos formados e isso é fruto da ação de Deus em nossas vidas, não o resultado de nossos próprios esforços; nossos esforços são sempre uma reação ao mover de Deus em nossas vidas. E também já vimos que o alvo da nossa transformação é a imagem de Cristo, o que determina que tenhamos uma descrição muito clara do alvo de nosso crescimento espiritual. Hoje queremos explorar o tema de que a nossa transformação visa o bem dos outros e não nossa realização pessoal.

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Como vimos acima, a presente cultura ocidental enfatiza o direito do indivíduo determinar sua identidade (quem ele é), seus princípios (o que é verdade) e seu padrão moral (como deve viver sua vida). Essa postura, caso levada aos seus extremos, resultará na destruição da própria sociedade. Uma ética voltada para si mesmo é a própria base do egoísmo. A partir dessa ética, o aborto é plenamente aceito, pois a vinda ao mundo de uma criança pode atrapalhar/desestruturar meus planos, meus sonhos. Como registramos acima, ter a sociedade como padrão máximo também não responde nossos anseios. Sociedades assim serão totalitárias e o indivíduo será coagido a fazer o que for melhor para a coletividade. Toda experiência histórica assim resultou em dinâmicas de abuso por parte de um grupo que ascende ao poder.

Jesus propõe um eixo ético totalmente diferente. Para Jesus o eixo ético é viver em favor dos outros. Em Mateus 22.36-39, lemos:

“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Respondeu Jesus: “‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’”.

O primeiro e primário “outro” é o próprio Deus. Na verdade, essa não é sequer uma opção. Quando alguém opta por não viver para Deus, ela está optando contra sua própria vida. Em 1João 5.12, lemos: “Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida”. Deus é a própria razão da existência. Fora dele não há existência. Portanto, todo aquele que decide viver como se Deus não existisse está negando a realidade e condenando-se à morte eterna.

Meu crescimento espiritual é em favor daqueles que estão ao meu redor.

O próximo “outro” são os seres humanos com os quais temos contato. Não importa primariamente se eles são cristãos ou não. Meu crescimento espiritual é em favor daqueles que estão ao meu redor. Isso é verdade, pois, a cada passo em que manifesto a pessoa de Cristo em meu viver, estou manifestando a própria vida àqueles ao meu redor. Em um sentido mais restrito, minha transformação alivia o sofrimento humano, torna a vida daqueles ao meu redor mais agradável e traz alívio. Em um sentido eterno, ao manifestar a pessoa de Jesus estou apontando não apenas ao Salvador, mas dando ao outro mais um indício do caminho para Deus.

Minha oração é que você e eu sejamos transformados pelo Espírito Santo de Deus na imagem de Cristo, desta maneira estaremos alinhando nossa vida com o próprio Deus Pai e estaremos abençoando aqueles ao nosso redor.

Nota

  1. M. Robert Mulholland, Invitation to a Journey: A Road Map for Spiritual Formation (Downers Grove, IL: IVP Books, 1993), p. 15.
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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