Excelência ou Exibicionismo?

Daniel Lima

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O ambiente todo é evidentemente bem-preparado. No fundo do palco uma enorme tela reproduz todo tipo de imagens de acordo com o momento. A iluminação é incrível. Luzes e cores se alteram conforme a ênfase e o efeito de fumaça faz com que as luzes se destaquem. Durante a apresentação a plateia é mantida escura enquanto canhões de luz trazem o palco ou quem se apresenta em destaque. O som é alto, mas muito bem equalizado. Cada voz recebe a amplificação ideal. Em resumo é um show de primeira qualidade.

Não estou descrevendo um show de algum músico famoso, mas sim o culto de muitas igrejas contemporâneas. Preciso dizer de partida que não sou contra todo esse aparato. Creio que igrejas devem investir em seus momentos de culto com tudo que a tecnologia (e seus orçamentos) permite. Não há desculpas para fazer um culto desleixado e afirmar ao mesmo tempo que isso é mais espiritual. Evidentemente, o culto deve representar tanto a comunidade da igreja como o tipo de pessoa que pretendem alcançar. 

Eu já participei de cultos de mais de três horas de duração, sentado em tábuas apoiadas em tocos de madeira, com apresentações musicais de aparente devoção, mas de péssima qualidade musical. Ainda assim, o povo presente estava evidentemente louvando a Deus e sendo conduzido à sua presença, tanto pelas músicas como pela pregação da Palavra. Esse tipo de culto, no entanto, não tem lugar no ambiente urbano, moderno e sofisticado de nossas cidades.

Qual o problema então com cultos mais produzidos? Certamente não é o investimento feito, ou a qualidade em que cada aspecto é preparado. O princípio da excelência afirma que devemos fazer o melhor que pudermos mediante os recursos que temos para oferecer a Deus uma adoração que honre seu nome. Ao mesmo tempo (me perdoem os puristas) nossos cultos devem também envolver os participantes, deve ter uma estética que mova o coração dos membros e dos visitantes. Muito embora o culto seja oferecido a Deus e não aos participantes, usar isso como desculpa para desleixo ou falto de investimento e preparo é apenas uma desculpa para mediocridade.

O princípio da excelência afirma que devemos fazer o melhor que pudermos mediante os recursos que temos para oferecer a Deus uma adoração que honre seu nome.

O perigo, muitas vezes é quando a excelência é desvirtuada em exibicionismo, uma postura arrogante que prioriza a performance sobre a essência. Muito embora, em minha opinião, devamos oferecer a Deus o que temos de melhor em todos os sentidos, o que Deus realmente deseja é uma adoração que venha de um coração rendido a ele. Talvez uma das passagens que melhor expressam isso é Salmos 51.16-17:

Pois não te agradas de sacrifícios; do contrário, eu os ofereceria; e não tens prazer em holocaustos. Sacrifício agradável a Deus é o espírito quebrantado; coração quebrantado e contrito, não o desprezarás, ó Deus.

Em Israel, sacríficos e holocaustos eram a coluna dorsal da adoração. Em algumas ocasiões festivas, o próprio Davi ofertou milhares de animais para o sacrifício (1Crônicas 29.21). Nesse salmo, ao enfrentar seu pecado de adultério e assassinato, o rei poeta deixa claro que não são os atos, mas o coração que é o cerne da adoração. Pode-se dizer que um coração quebrantado e contrito é a essência da adoração. Essência tem de se manifestar em alguma forma. Essência sem forma não existe. Sendo assim, um coração de quebrantamento e gratidão tem de assumir uma forma. O problema é quando a forma exclui a essência, pois, diferentemente da essência, forma sem essência existe e é tragicamente comum no campo da religiosidade.

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A excelência na forma se torna problemática quando, mesmo que não intencionalmente, começa a sufocar ou excluir a essência. Quando a busca de excelência em um culto faz com que manifestações carnais, arrogantes ou “performáticas” se tornem o centro desse momento. Esse é o instante em que o exibicionismo surge.

A excelência na forma se torna problemática quando, mesmo que não intencionalmente, começa a sufocar ou excluir a essência.

Minha oração é que, nesse novo ano, igrejas fiéis se esmerem em preparar e promover eventos que manifestem toda a criatividade, a majestade e a perfeição da qual somos capazes. Quando preparamos um culto ou qualquer outro evento com excelência estamos adorando a Deus tanto no evento como na forma como o preparamos. Ao mesmo tempo, que nossos corações estejam bem centrados no fato de que ele é a fonte e a razão de tudo que fazemos. Que nossos corações evitem “roubar” os louvores com a qualidade de nossas apresentações!

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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