Esperança Encharcada

Daniel Lima

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Foram horas e horas dando atendimento a famílias inteiras de desabrigados. Como consolar aquela adolescente que foi resgatada, mas não sabe onde está sua família? Como encorajar aquele senhor que perdeu pela segunda vez em nove meses tudo o que tinha em casa (sua casa foi invadida pelas águas em setembro de 2023)? Como trazer à menina de sete anos um brilho nos olhos quando ela está em um lugar estranho, cheio de pessoas que não conhece e dividindo o quarto com seus pais e com cinco outras pessoas que não são de sua família? Perguntas assim passaram pela minha cabeça enquanto eu servia água, alimento, ajudava com mamadeiras e com lanches para as crianças. Enquanto escrevo este artigo, os números atualizados das enchentes no Rio Grande do Sul são de 107 mortos confirmados, 136 desaparecidos, 374 feridos e 1,4 milhão de desabrigados.

Qual a nossa mensagem como seguidores de Jesus? Por um lado podemos afirmar que tragédias assim são resultado do pecado humano, ou que Deus é soberano e sabe o que faz, ou ainda podemos fazer declarações como: “Em nome de Jesus, a chuva vai parar!”. No entanto, mesmo que tragédias sejam resultado de nosso fracasso em cuidar deste mundo, e que Deus seja soberano e poderoso para parar a chuva, não me parece que este é o cerne de nossa mensagem a uma cidade encharcada, cansada e sem ânimo para se recuperar.

No primeiro século, o apóstolo Pedro, provavelmente preso em Roma e sabendo do início das perseguições que culminariam com a grande perseguição sob o imperador Nero, escreveu a cristãos, encorajando-os a permanecerem fiéis mesmo diante das dificuldades. Em 1Pedro 3.15-16 lemos:

“Antes, santifiquem Cristo como Senhor no coração de vocês. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam maldosamente contra o bom procedimento de vocês, pelo fato de estarem em Cristo, fiquem envergonhados das suas calúnias.”

A principal recomendação de Pedro era de que esses irmãos deveriam estar preparados para responder a “razão da esperança” que havia neles. Repare que não era para explicar sua linha doutrinária, nem apresentar uma elaborada explicação do evangelho, mas dar a razão de sua esperança. A suposição de Pedro era de que os não cristãos ficariam curiosos com a esperança dos cristãos e fariam perguntas, por isso, eles deveriam estar prontos para responder. Entre muitas lições desse texto, deixe-me destacar algumas que podem nos ajudar nestes dias:

Nossa esperança não está no alívio do sofrimento, mas na volta de nosso Senhor Jesus Cristo!

1. Esperança que há em nós. O apóstolo assume que teremos esperança. Em situações como esta das inundações em Porto Alegre, é fácil e mesmo natural cair em desespero. Qual é nossa esperança? Em que se baseia? Se sua esperança é que você não será atingido, temo que você será surpreendido. O apóstolo Paulo nos dá uma dica da esperança que também animava Pedro em Tito 2.13: “Enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Nossa esperança não está no alívio do sofrimento, muito embora este seja nosso alvo e compromisso. Nossa esperança está na volta de nosso Senhor Jesus Cristo!

2. Preparar-se para responder. O apóstolo dá a entender que uma resposta sobre esperança deve ser preparada. Ou seja, não é algo para ser deixado para o calor do momento. Eu creio que, como cristãos, devemos nos preparar para responder quando surgem oportunidades de explicar nossa esperança. Reflita sobre sua esperança e como explicá-la para alguém que não compartilha dela.

Como cristãos, devemos nos preparar para responder quando surgem oportunidades de explicar nossa esperança.

3. Mansidão e respeito. As pessoas que acolhemos e ajudamos não são os inimigos nessa guerra. Nossos inimigos são espirituais. As pessoas que acolhemos estão confusas, machucadas física, emocional e espiritualmente. Elas precisam ser ouvidas, precisam perceber um amor genuíno, para que se sintam curiosas com nossa esperança. A partir daí precisam de uma explicação branda e amorosa do porquê de termos esperança diante da tragédia. De como podemos nos doar de uma forma prática e mesmo alegre. Pois nossa esperança não está no momento ou em condições melhores. Trabalhamos para isso, até mesmo nos sacrificamos para isso, mas nossa esperança está naquele que nos salvou e que prometeu nos buscar.

Minha sincera oração por mim e pelos muitos cristãos envolvidos é que nosso procedimento levante curiosidade e perguntas, e que nossas palavras sejam muito mais do que respostas fáceis ou superficiais. Que em meio à dor possamos proclamar aquele que é nossa esperança.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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