Distrações e surdez espiritual

Daniel Lima

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Talvez a operação mais delicada na Segunda Guerra Mundial foi o desembarque de tropas aliadas na Europa. Obviamente, o comando nazista sabia que uma invasão era iminente e estava preparado para isso. No entanto, usando uma estratégia bastante simples e quase ingênua, o comando aliado conseguiu enganar as forças de defesa. Eles construíram dois complexos militares enormes com soldados e todo seu equipamento e veículos. O curioso é que todo esse equipamento era absolutamente falso. Tanques, caminhões e alojamentos eram feitos de papelão e infláveis e civis eram chamados para aparentar movimentação. Enquanto os nazistas esperavam os ataques desses exércitos, o verdadeiro exército desembarcou e se instalou nas praias da Normandia.

Nosso adversário é chamado de “pai da mentira”, e ele utiliza a mentira ou engano como uma de suas estratégias mais sutis.

O uso de distrações (em geral não tão elaboradas) é muito conhecido em qualquer enfrentamento. No vôlei, por exemplo, a chamada finta é quando um atleta salta junto à rede como se fosse cortar a bola, quando esta está sendo levantada para outro companheiro de equipe. Se a manobra é bem-feita o time adversário vai comprometer alguns jogadores para defender um ataque falso, enquanto o verdadeiro acontece em outro ponto. Se no mundo militar ou esportivo distrações são um recurso utilizado, por que não seriam no combate espiritual? Nosso adversário é chamado de “pai da mentira” (João 8.44), e ele utiliza a mentira ou engano como uma de suas estratégias mais sutis.

Nos dois últimos artigos tenho refletido sobre o que nos impede de ouvir a Deus. O elemento mais central dessa condição é o coração endurecido. Mesmo um cristão pode ter seu coração endurecido, o que o torna surdo à voz de Deus. Neste artigo quero refletir sobre um impedimento que parece muito mais inocente: distrações.

A Palavra nos dá inúmeros exemplos de distrações que nos impedem de ouvir a Deus. Sansão foi distraído por Dalila e não manteve seus compromissos (Juízes 16). Davi deixou de cumprir seus compromissos reais e, distraindo-se com uma bela mulher, pecou e trouxe tragédia para sua casa (2Samuel 11). No entanto, é na conhecida parábola do semeador que somos alertados para as consequências das distrações. Na parábola, Jesus fala de quatro tipos de terreno e suas reações à semente. Repare no terceiro tipo de terreno, nos versículos 7 e 22 do capítulo 13 de Mateus:

Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram... O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém as preocupações deste mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera.

Entre os vários ouvintes da Palavra, este é aquele que a ouve e acolhe, mas há preocupações e enganos demais em sua mente e coração. O resultado é que a Palavra de Deus é sufocada e a consequência é não gerar frutos. Ao longo das épocas, tem havido muita discussão quanto a se esse ouvinte é alguém convertido ou não. Para efeitos de nossa reflexão vamos considerar que sim, esse homem ou mulher é aquele que ouve a Palavra e decide seguir a Jesus, mas por falta de instrução, acompanhamento ou mesmo por rebeldia, não limpa sua vida de distrações. Com isso há muito em sua mente e coração e a Palavra é sufocada, não gerando o fruto que deveria gerar.

Ao longo do tempo vamos acumulando muita coisa em nossas vidas, muitas preocupações (algumas legítimas, outras não), lembranças e mágoas, experiências e decepções. Tudo isso vai se tornando um peso.

O autor de Hebreus, ao nos exortar com o exemplo dos heróis da fé, nos estimula em Hebreus 12.1: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta”. Sempre me chama a atenção que o autor nos exorta a nos livrarmos de todo peso e do pecado. A exortação quanto ao pecado é mais do que esperada, mas a exortação para nos livrarmos do peso é reveladora! O termo no original é o “peso que nos atrapalha”. Ao longo do tempo vamos acumulando muita coisa em nossas vidas, muitas preocupações (algumas legítimas, outras não), lembranças e mágoas, experiências e decepções. Tudo isso vai se tornando um peso. O ouvinte da parábola do semeador também acumulava “fascinação das riquezas”. Estas são aquelas promessas que nos fazem ou que fazemos a nós mesmos. Promessas que podem até ser bem-intencionadas, mas que não são promessas de Deus. São promessas de riquezas deste mundo (fama, riqueza, poder...).

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A exortação do Espírito Santo por meio do autor de Hebreus, após expor sobre modelos de fé para nós, é que lancemos fora tudo que nos atrapalha, tudo que pode servir ao inimigo como distração, tudo que pode desviar nosso olhar na hora que Deus está se revelando a nós. Minha oração é que a minha (e a sua) vida e a minha (e a sua) atenção sejam simples e focadas em Cristo Jesus. Se realmente quero estar atento à voz de Deus, preciso estar pronto a lançar fora todo peso, toda preocupação e todo engano para ouvir aquele que me criou, me amou e deu seu Filho por mim.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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