Coração endurecido e surdez espiritual

Daniel Lima

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Em meu último artigo (“O que me impede de ouvir a Deus”), escrevi sobre o fato de nosso Deus ser um Deus que deseja ser conhecido. Como consequência, ele é um Deus que fala. Para nós, seguidores de Cristo, nada pode ser mais importante do que ouvir a Deus! No entanto, mesmo cristãos maduros com frequência me falam de sua dificuldade em ouvir o Senhor. A Palavra indica que o impedimento principal é um coração endurecido. Essa talvez seja uma expressão que inclui muitas características, mas que merece ser examinada.

A primeira instância registrada de não ouvir a Deus foi no evento da Queda. Eva preferiu ouvir a argumentação da serpente do que dar ouvidos às instruções de Deus. Adão preferiu ouvir sua esposa do que manter sua comunhão com Deus (Gênesis 3.1-6). O que fez com que esses dois, apesar de terem ouvido a voz de Deus, decidissem dar ouvidos a outras vozes?

Na verdade, no cerne dessa decisão está o desejo humano pela autonomia. De certa forma, é esse anseio que nos faz endurecer o coração e, portanto, deixar de realmente ouvir a voz de Deus. Escutamos sua voz, mas não a acolhemos com temor e tremor em nossos corações. A revelação de Deus atinge nossos sentidos, mas não nosso coração, pois este está endurecido.

O desejo humano pela autonomia nos faz endurecer o coração e, portanto, deixar de realmente ouvir a voz de Deus.

Dentre todas as árvores, a única que era proibida era a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.16-17). Justamente essa foi usada na tentação da serpente. Ao tomar do fruto dessa árvore, o homem estava dizendo que não queria que Deus continuasse como o árbitro, o definidor do que é bom ou mal. Como humanos, nós queremos determinar o que é bom ou mal. Por isso o termo autonomia (“auto”, para si mesmo, e “nomia”, lei ou normas). No cerne do pecado está esse anseio por autolegislação, ou seja, determinar o que é certo ou errado, assim como autogratificação, ou seja, satisfazer seus próprios desejos.

A primeira característica do coração endurecido é bastante simples: o meu coração endurece quando decido que vou decidir por mim mesmo o que é certo. Desde a queda, todo ser humano traz em si o desejo natural de decidir o que é certo. Invariavelmente, tendemos a afirmar como certo aquilo com o que concordamos, aquilo que desejamos e aquilo que nos favorece.

O que a Bíblia tem a dizer sobre esse desejo de autodeterminação, de autorregulação? Com respeito a definirmos como certo aquilo com que concordamos, a Palavra nos instrui em Provérbios 14.12: “Há caminho que ao ser humano parece direito, mas o fim dele é caminho de morte”. O problema de usarmos nosso discernimento é que simplesmente não temos capacidade para discernir o que é certo ou errado. Nenhum de nós consultaria uma criança sobre uma decisão de operar ou não um paciente em estado grave. Isso não rouba da criança seu valor ou dignidade, elas são simplesmente incapazes de fazer essas escolhas. Muito embora movidos pelo Espírito Santo possamos tomar decisões sábias (ou não) precisamos reconhecer que, em última análise, Deus é quem tem a palavra definitiva. Rejeitar essa ideia é endurecer seu coração e naturalmente deixar de ouvir a Deus.

Toda vez que meu desejo se tornar meu principal elemento de decisão, vou começar a endurecer meu coração e parar de ouvir a Deus, especialmente quando sua vontade confrontar meu desejo.

A Bíblia também confronta nossas decisões com base em nossos desejos. Em 1João 2.16-17 lemos: 

Porque tudo o que há no mundo – os desejos da carne, os desejos dos olhos e a soberba da vida – não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como os seus desejos; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.

No fundo, nossos desejos estão no mínimo contaminados. Qualquer desejo humano legítimo (reconhecimento, amor, realização admiração, sexo) traz em seu bojo uma tendência a buscar satisfação longe de Deus. Toda vez que eu levo um desejo legítimo não para Deus, mas para o mundo, este vai me apresentar uma estratégia maligna para satisfazê-lo. Toda vez que meu desejo se tornar meu principal elemento de decisão, vou começar a endurecer meu coração e parar de ouvir a Deus, especialmente quando sua vontade confrontar meu desejo.

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Por fim, meu coração endurece quando eu defino como certo aquilo que estou praticando. Ou seja, faço uma inversão; ao invés de julgar minhas ações a partir de minhas convicções, eu desenvolvo minhas convicções a partir de minhas ações. A passagem de Romanos 1.32 afirma: “Embora conheçam a sentença de Deus, de que os que praticam tais coisas são passíveis de morte, eles não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam”. Aqui fica evidente um coração endurecido. As pessoas descritas acima sabem que Deus definiu isso como errado, mas continuam praticando e continuam aprovando tais atos... Certamente esse é o reflexo de um coração duro!

Minha oração é para que vigiemos e cuidemos a fim de que nosso coração continue sensível à voz de Deus. Para tanto precisamos (1) afirmar que ele é o referencial acima de nós, (2) submeter nossos desejos à sua vontade e (3) desenvolver práticas que tenham base em nossas convicções biblicamente instruídas.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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