Como uma igreja se corrompe?
Como uma igreja que teve seu início fiel e comprometida com Deus, com sua Palavra e com sua missão se corrompe? Como uma comunidade de discípulos que foram regenerados pelo poder do Espírito Santo, lavados no sangue de Jesus e chamados pelo Pai se desvia daquilo que o próprio Deus ensina? Como podem manipular as Escrituras para tentar provar princípios que a mesma nunca aprovou? Como podem ignorar textos com desculpas, mesmo que bem arquitetadas, para afirmar aquilo que Deus negou?
Primeiramente, deixe-me dizer que, de modo geral, não creio que uma igreja simplesmente decide se desviar. Algumas pessoas, inclusive líderes, podem fazê-lo. No entanto, creio que é necessário tempo, más intenções, manipulação de textos e de princípios e por fim uma negligência pecaminosa da comunidade para que uma igreja se desvie. Dizem que uma das desculpas mais comuns dos guardas dos campos de extermínio da Segunda Guerra Mundial era que estavam apenas “seguindo ordens”. No caso dos cristãos, somos chamados a nos posicionar, a buscar entender a vontade de Deus e a examinar nas Escrituras se o que temos ouvido como ensino é realmente assim (Atos 17.11).
Como cristãos, somos chamados a nos posicionar, a buscar entender a vontade de Deus e a examinar nas Escrituras se o que temos ouvido como ensino é realmente assim.
Neste último domingo, uma igreja Assembleia de Deus nos Estados Unidos anunciou que vai passar a afirmar, apoiar e promover a comunidade LGBTQ sem reservas, sem restrições. Volto à minha pergunta acima: como uma igreja que firma a Bíblia chega a esta posição? A denominação já se posicionou desligando esta igreja das Assembleias de Deus. Mas este é um caso emblemático. Primeiro porque o pastor que anunciou a posição é um grande comunicador. Tem um estilo despojado, roupas descoladas, fala com grande liberdade e cita a Bíblia muitas vezes. Inclusive cita os originais e vários teólogos. Segundo, pois sua mensagem está repleta de afirmações de amor, de paz e de aceitação. Ele ainda termina a mensagem afirmando a posição da igreja e ao mesmo tempo convidando cada um a estudar esta posição, sob a orientação dele, antes de tomar uma posição pessoal. Terceiro, pois ele não ataca a posição tradicional, mas propõe que cristãos, mesmo quando discordam em um assunto importante, deveriam colocar a unidade em primeiro lugar.
Investi algum tempo, ouvindo sua mensagem e lendo a respeito do processo pelo qual a liderança desta igreja chegou a esta conclusão. Deixe-me alistar os passos em que percebo que o desvio começou, ou se acentuou. Meu objetivo não é atacar esta igreja, mas alertar cada um de nós a nos preocuparmos com a sã doutrina (Tito 2.1).
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O “gatilho” desta mudança ocorreu quando o pastor foi abordado por duas lésbicas pedindo que ele fizesse seu casamento. Ambas eram membros da igreja, serviam em algum ministério e contribuíam. Minha primeira pergunta é como é que o pastor sabia disso e nunca procurou estas irmãs para exortá-las, orientá-las, consolá-las... enfim, ministrar em suas vidas. Fico com uma incômoda impressão de que sua frequência, serviço e finanças eram mais importantes que um esforço para alinhar suas vidas com a vontade de Deus. Minha segunda observação é que uma revisão quanto a um posicionamento teológico deveria ter ocorrido muito antes. Tentar pensar com clareza em uma situação em que nos sentimos “coagidos” raramente costuma trazer os melhores resultados.
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Na mensagem em que o pastor anuncia que a partir dali aquela igreja entende que a prática homossexual é equivalente à prática heterossexual, suas considerações sobre os textos bíblicos foram uma coleção de erros hermenêuticos. Não sei dizer se intencionais ou por ignorância, mas o efeito é o mesmo: o povo foi alimentado de falso ensino. Ele começou descartando as passagens sobre o tema do Antigo Testamento (Gênesis 19, Levítico 18 e 20 e a referência em Judas aos sodomitas). Seu argumento é que, como existem tantas leis judaicas que não seguimos, por que insistir nessas? Tratando das passagens do Novo Testamento (Romanos 1, 1Coríntios 6 e 1Timóteo 1), ele as relativizou afirmando que Paulo não estava se referindo ao estilo de vida do movimento LGBTQ, mas a situações extremas de abuso e prostituição ritual. Ele também afirmou que, como há tantas instruções do Novo Testamento que não seguimos, por que insistirmos nesta? Para exemplificar, ele reconheceu que o Novo testamento se posiciona contra o divórcio e contra o recasamento; no entanto, conclui ele: “Quem de nós hoje afirmaria que uma pessoa divorciada e recasada está em adultério?”.
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Como argumento final, o pastor defendeu que, quando há conflito em uma comunidade de fé, devemos seguir o caminho da unidade. (Ele não explicou por que a opção de aceitação do movimento LGBTQ é unidade e a posição tradicional não é). E, para finalizar, ele afirmou que Jesus nos ensina que pelos frutos os conhecereis. Em sua opinião, a posição de amar o pecador e odiar o pecado tem causado muita dor e transtorno, enquanto a opção de aceitação tem trazido muito mais paz e receptividade.
Por 30 anos, Deus me deu o privilégio de liderar igrejas. Eu conheço a responsabilidade e o peso de tomar decisões que afetam as vidas dos envolvidos. Eu conheço o conflito interno quando uma posição bíblica vai contra o desejo de pessoas a quem amo e de quem eu gostaria de estar próximo. Mas, em última análise, eu presto contas ao Senhor da igreja. Eu cuido de suas ovelhas e lidero debaixo de sua mão com temor e tremor. Minha oração por pastores e líderes que conheço, que são chamados para conduzir o povo de Deus em tempos tempestuosos como os nossos, é que eles continuem firmes em afirmar a Bíblia, sem desvios, sem “acomodações”. Minha oração é que você e eu, como cristãos e membros de igrejas, possamos apoiar, orar, encorajar e, se necessário, exortar nossos pastores e líderes com amor e profundo temor. Oro pelos membros desta e de outras igrejas, para que sua caminhada com Jesus continue fiel, apesar dos falsos ensinos.