Como Reagir ao Ódio sem Ódio?
Ao longo dos últimos tempos, talvez mais pontualmente nos últimos meses, temos lidado com discursos de ódio. Nessas últimas semanas têm sido promulgadas frases e conceitos evidentemente antissemitas em muitas universidades norte americanas, em prol da liberdade e da igualdade. Por exemplo, quando um dos líderes desse movimento propôs a solução final para todos os judeus, em uma clara referência ao projeto de genocídio (no seu sentido mais clássico) do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Ou de maneira mais simples, quando estudantes judeus são impedidos de entrar em um campus de uma universidade da qual são alunos. Ao pregarem a igualdade e a justiça, esses movimentos têm promovido o extermínio e o ódio.
No entanto, o problema vai muito além de movimentos estudantis, conhecidos por seus extremos. Tenho lido e ouvido políticos de esquerda afirmando que precisam esvaziar o “poder dos evangélicos”, alguns até mesmo propondo estabelecer limites de atuação política para aqueles que se declaram evangélicos. Talvez ainda mais contundente, pelo menos para mim, é ouvir líderes evangélicos progressistas que denunciam os demais evangélicos a partir de critérios e conceitos típicos de ideologia de esquerda. Talvez um exemplo máximo tenha sido a denúncia de racismo feita por um cantor evangélico contra um hino tradicional que utiliza um texto bíblico. Para ele, essa é uma prova irrefutável do racismo da igreja evangélica.
Não importa o quão mentirosa, distorcida ou equivocada seja uma posição, se nossa reação é de ódio (alguns até chamam de “santa indignação”), esta me parece equivocada.
Não sei quanto a você, mas todas essas posições geram em mim uma reação de aversão que poderia facilmente “escorregar” para o ódio, o qual eu condeno em qualquer aspecto. Não importa o quão mentirosa, distorcida ou equivocada seja uma posição, se nossa reação é de ódio (alguns até chamam de “santa indignação”), esta me parece equivocada. Tenho buscado compreender essas reações, tanto em mim como nos outros, e como alinhá-las à vontade de Deus. Deixe-me compartilhar com você algumas de minhas reflexões, especialmente na passagem de João 15.18-27. Nessa passagem, vejo Jesus tratando de três perguntas: (1) por que o mundo odeia os cristãos?; (2) por que o mundo odeia Cristo?; e (3) qual minha responsabilidade como cristão diante disso?
1. Por que o mundo odeia os cristãos?
Repare que a expressão é ódio mesmo. A intolerância enfrentada por cristãos tem crescido ao redor do mundo, chegando com frequência a agressões, perseguições e assassinatos. Por que somos odiados? Existem duas razões apresentadas nos versículos 18 a 20: (1) o mundo nos odeia pois não pertencemos a ele. Em outras palavras, somos diferentes (João 17.16). Tudo que é diferente é suspeito e, em muitos casos, é odiado. (2) Além disso, somos odiados por nossa identificação com Jesus. Não se engane, o mundo odeia Jesus. Eles amam uma versão adaptada, confortável, politicamente correta de Jesus, mas o Jesus que veio para nos salvar de nossos pecados é odiado como intolerante, autoritário e julgador. Quando mais vivermos como Jesus, mais seremos odiados (2Timóteo 3.12).
O mundo ama uma versão adaptada, confortável, politicamente correta de Jesus, mas o Jesus que veio para nos salvar de nossos pecados é odiado como intolerante, autoritário e julgador.
2. Por que o mundo odeia Jesus?
A resposta mais simples é dada na citação de Salmos 69.4, no final de João 15.25: “Odiaram-me sem razão”. Esse ódio é sem razão, pois Deus enviou Jesus em amor. No entanto, existem pelo menos duas razões para esse ódio a Jesus, conforme ele nos fala nos versículos 21 a 25 dessa passagem: (1) Jesus expõe os pecados do mundo (João 8.8-9). Por isso, o Jesus construído conforme a ideologia do mundo é aceito, pois esta caricatura de Cristo não expõe pecados, apenas apazigua seus conflitos interiores. Assim, amor sem verdade (e sem arrependimento) é um amor falso, que se traduz em deixar a pessoa feliz, mas condená-la eternamente. (2) Odeiam a Jesus porque odeiam o Pai – a noção de um Deus soberano, Criador e que é absoluto, é absolutamente contrária a uma mentalidade que não aceita autoridade. No entanto, é impossível aceitar um sem o outro, visto que Jesus e o Pai são um (João 10.30).
3. Qual minha responsabilidade?
Os versículos 26 e 27 nos dão uma orientação muito clara quanto a qual nosso papel como seguidores de Cristo. (1) Primeiramente, Jesus nos lembra do Espírito Santo que ele vai enviar, mas que procede do Pai. Essa é uma bela passagem sobre a Trindade. É o Espírito que vai dar testemunho àqueles que odeiam o Pai, Jesus e nós. É pelo poder do Espírito que podemos reagir de uma forma sobrenatural, mesmo diante de nossos instintos de autodefesa ou de hostilidade. E é justamente essa promessa, a ser realizada no evento de Pentecostes, descrito em Atos 2, que nos leva ao segundo ponto sobre nossa responsabilidade. (2) Somos chamados a testemunhar. No versículo 27, Jesus ainda destaca a base desse testemunho: “Pois estão comigo desde o princípio”. É justamente por estarmos com Cristo (no capítulo 15, Jesus ensina sobre o “permanecer”) que somos recipientes do Espírito Santo.