Como reagir a um rei louco?

Daniel Lima

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Você já reparou como muitos filmes de ação têm o mesmo enredo, ou variações ínfimas da mesma sequência? Este tipo de filme ou livro é uma variação do seguinte contexto. O indivíduo é forte e silencioso; não quer briga, ficando talvez até constrangido com sua própria violência. Mas o vilão, (representado por bandidos, empresários sem escrúpulos ou governos autoritários) vão perseguindo o herói e cometem atrocidade após atrocidade. No final, o herói fica sem opção. Este é o momento que o filme mais explora: a explosão (nesta altura “justificada”) da violência. O argumento central é que, diante de determinadas circunstâncias, o herói pode ser tão cruel quanto o bandido.

Nestas últimas semanas tenho escrito sobre personagens bíblicos que sofreram de modo injusto. Nosso propósito é encontrar princípios e consolo na vida de homens que continuaram a ser fiéis mesmo diante de evidente injustiça. Hoje gostaria de explorar alguns momentos da vida de Davi. Este é talvez o personagem do Antigo Testamento do qual temos mais informações. A história do pastorzinho que é elevado a herói nacional ao enfrentar um guerreiro experiente é bastante conhecida. No entanto, eu te convido a examinar o período em que Davi está fugindo de seu senhor Saul.

Os capítulos de 18 a 31 do livro de 1Samuel relatam essa história em detalhes. O enredo é muito parecido com o que vimos acima. Davi é um herói que foi ungido como próximo rei, é fiel e obviamente um grande guerreiro. Este homem tem tudo! Abençoado por Deus, casado com uma princesa, amigo do príncipe, reconhecido como próximo rei. Surge então o vilão, ou melhor, Saul então se revela como vilão. Na verdade, 1Samuel 16.14 revela que o Espírito de Deus se retira de Saul e um espírito maligno recebe permissão de Deus para atormentar o rei. O rei estava atormentado e reagia como um louco!

Em sua loucura, o rei procura uma desculpa para matar Davi. Arremessa contra ele uma lança, procura prendê-lo à noite e, por fim, coloca todo seu exército em perseguição de Davi. Até aqui a história segue o roteiro dos filmes de ação. Neste momento, o que todos esperam é que Davi se levante contra um rei louco, amaldiçoado e maligno. Matando este rei, será aclamado pelo povo trazendo paz, liberdade e prosperidade por muitos anos... Ninguém iria acusá-lo de ser impetuoso ou rebelde; afinal, o rei estava louco, havia tentado matá-lo mais de uma vez, era injusto e cruel... todos estes ingredientes justificariam uma reação violenta!

Diante da injustiça temos oportunidade únicas de mostrar nossa fé e dependência daquele que cuida de nós dia e noite.

No entanto o enredo de Deus não se alinha com o enredo humano (Isaías 55.8). Deus estava escrevendo outra história. Uma história de justiça diante da impiedade. Assim, Davi não reage, mas foge. E em pelo menos duas ocasiões ele tem oportunidade de matar a Saul (capítulos 24 e 26), ou pelo menos permitir que seus homens o matassem. Aquela era uma época de violência e de guerra, mas ambas as vezes Davi não se levanta para se defender. Em ambas as situações, o próprio Saul reconhece a justiça de Davi (1Samuel 24.17-20; 26.21-25).

Nesse período, Davi estava afastado de sua casa, de sua esposa e acompanhado por homens amargurados e violentos. Morava em cavernas, muito embora soubesse que Deus já o havia escolhido para reinar em Israel. Ele estava sendo injustiçado por um rei enlouquecido. O que podemos aprender desta história ao enfrentarmos injustiças e sofrimentos? Como nós também podemos desenvolver uma vida de acordo com o coração de Deus?

  1. Tendo um profundo desejo de fazer a vontade de Deus e não o que o mundo considera justificável. Com frequência nossa moral é guiada pela maioria. Davi decidiu buscar a vontade de Deus, mesmo que seus seguidores e mesmo opositores esperassem dele outra reação;

  2. Deixando o controle nas mãos de Deus. Diante de injustiças e sofrimentos, com frequência entendemos que é nosso momento de assumir o controle (não raramente em “nome de Deus”). Davi reconheceu que Deus não havia perdido o controle da situação, muito embora percebesse a injustiça que ocorria;

  3. Mantendo princípios. No Antigo Testamento a unção era sinal de que aquela pessoa havia sido escolhida por Deus para desempenhar um papel único e sobre ela repousava o Espírito Santo de Deus. Hoje, todo cristão é ungido (Efésios 1.13-14). O princípio para Davi era não atacar, não trair, não ameaçar aquele que Deus havia escolhido, não importa o quanto este estivesse longe daquilo que Deus desejava;

  4. Confiando em Deus e no seu poder. Com frequência parece que Deus está meio perdido. Parece que ele não sabe o que está fazendo. Nestes momentos somos tentados a “dar uma mãozinha” para Deus. Outra reação é cairmos no desespero; parece que Deus me esqueceu, que ele não se lembra de mim. Davi confiava que Deus estava conduzindo sua história, e isso lhe bastava.

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Com frequência vamos nos deparar com reis, presidentes, governantes, chefes ou líderes que parecem ter enlouquecido. Muito embora possamos, sim, questioná-los – afinal nós também somos ungidos –, temos de ser muito cuidadosos em não assumir o controle contra aqueles que Deus colocou em posição de autoridade. Diante da injustiça temos oportunidade únicas de mostrar nossa fé e dependência daquele que cuida de nós dia e noite. Minha sincera oração por você e por mim é que, mesmo diante das surpresas da vida, mantenhamos nossa confiança naquele que promete estar conosco mesmo no vale da sombra e da morte.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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