Como reagir a tragédias

Daniel Lima

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A esposa descobre que seu marido mantém uma outra família na cidade para a qual viaja com frequência, alegando compromissos de trabalho. O pai fica aterrado ao descobrir que seu filho vem usando drogas e que tem até mesmo uma dívida significativa com traficantes. O jovem casal descobre “por acaso” que seu filho de quatro anos tem um tumor e começam a longa jornada de testes e procedimentos na tentativa de buscar a cura. O marido, após anos lutando pela restauração do seu casamento e tendo, na sua perspectiva, atingido relativa estabilidade no relacionamento, descobre que sua esposa o vem traindo com um irmão da igreja e parceiro de negócios.

Os exemplos acima, apesar de dramáticos, são tristemente comuns. Assisti pessoalmente alguma versão de cada um desses casos, mesmo em casais que se identificam como cristãos. É impossível equacionar a dor, a confusão, a decepção e mesmo revolta em cada uma dessas situações. Com frequência surgem perguntas como: “Onde está Deus nessas horas?”, ou: “O que foi que eu fiz para merecer isso?”, ou ainda: “Porque coisas ruins acontecem com gente boa?”. Nas histórias acima, a maioria dos cristãos conseguiu seguir com sua vida mantendo sua fé, mas as marcas que ficaram foram profundas, em alguns casos deixando um rastro de dores e pecados trágicos.

A pergunta de por que Deus permite o mal já foi discutida em vários contextos. Para nosso objetivo aqui, basta afirmar que o mal é consequência do pecado. Quando Deus afirmou que, tomando do fruto, morreríamos, não era uma promessa vazia (Gênesis 2.16-17). A mentira da serpente levou nossos pais, Adão e Eva, a desobedecerem, e desde então estamos morrendo como humanidade (Gênesis 3). Os efeitos dessa morte se veem em cada um dos relatos do primeiro parágrafo. Meu propósito aqui é tentar responder à pergunta: como reagir quando a vida nos surpreende? Como reagir diante de um diagnóstico positivo, ou a uma intimação policial, ou mesmo a uma ruptura relacional? Como reagimos quando nossa vida desaba?

Várias passagens me vêm à mente quando tento responder essa pergunta. A primeira é Salmos 23.4, quando Davi descreve o andar “pelo vale da sombra da morte”. Mas eu gostaria de hoje usar a passagem de Isaías 26.3-4. A passagem está no contexto do reino divino a ser estabelecido após o Dia do Senhor (Isaías 24). No entanto, podemos observar um princípio divino quanto à sua paz. O texto afirma: 

“Tu, Senhor, guardarás em perfeita paz aquele cujo propósito está firme, porque em ti confia. Confiem para sempre no Senhor, pois o Senhor, somente o Senhor, é a Rocha eterna.”

A paz é prometida não de forma indistinta, mas é condicionada a dois elementos fundamentais: (1) àqueles cujo “propósito está firme” e (2) aos que confiam no Senhor (v. 4). O princípio do propósito firme é atestado em várias outras passagens; de modo especial no relato de Pedro caminhando sobre as águas. Mateus 14.28-30 registra:

“Então Pedro disse: ‘Se é o Senhor mesmo, mande que eu vá até aí, andando sobre as águas.’ Jesus disse: ‘Venha!’ E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas e foi até Jesus. Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a afundar, gritou: ‘Salve-me, Senhor!’”

A paz é fruto de concentrarmos nossa atenção em Cristo e não nas circunstâncias.

No conhecido relato, Pedro tomou um passo de fé que nenhum dos demais discípulos tomou. De certa forma ele fez o mais difícil, em parte devido ao seu temperamento impulsivo. Notem, no entanto, que ele começou a afundar quando reparou “na força do vento” (v. 30). Aparentemente, até aquele momento ele estava olhando para Jesus, este era sua atenção e seu foco. Mas algo o fez tirar seu foco ou propósito de Cristo e reparar no perigo ao seu redor. O autor de Hebreus expressa a mesma ideia ao afirmar: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...” (Hebreus 12.1-2). A paz é fruto de concentrarmos nossa atenção em Cristo e não nas circunstâncias; estas, de fato, podem roubar nossa paz.

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A exortação é para confiarmos sempre, tanto nos pastos verdejantes e águas tranquilas como no vale da sombra da morte.

O segundo princípio é a base do primeiro: confiar no Senhor. Nosso propósito só pode estar firme se confiarmos em Deus. No verso 4 de Isaías 26 há três instruções do Senhor com respeito à confiança. Vamos observá-las: (1) confiem “para sempre” no Senhor. O sentido de “para sempre” reflete o desafio de confiar mesmo quando as coisas não fazem sentido, quando nossos planos caem por terra ou quando somos surpreendidos de um modo tanto inesperado como, aos nossos olhos, injusto. A exortação é para confiarmos sempre, tanto nos pastos verdejantes e águas tranquilas como no vale da sombra da morte. (2) Confiem “somente [n]o Senhor”. Nós fomos criados para adorar. Nossa busca desde o nascimento é por sistemas ou estratégias que nos permitam controlar o mundo ao nosso redor. Buscamos constantemente algo em que confiar para nos protegermos. A exortação de Deus é que somente nele encontraremos a paz. Jesus “e mais alguma coisa” significa que nosso propósito não está firme e consequentemente não encontraremos a paz que ele nos promete. Por fim, (3) o Senhor é “a Rocha eterna”. Não apenas uma rocha, que já é símbolo de permanência e durabilidade, mas uma rocha que dura para sempre. O texto aqui afirma algo sobre o próprio caráter de Deus. Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. 

Minha oração é que Deus, em sua misericórdia, nos conduza em períodos de verdadeira paz. Mas eu preciso me lembrar que a verdadeira paz é o próprio Jesus. Que nesses tempos de sustos e surpresas, nossos olhos estejam bem fixos no autor e consumador de nossa fé.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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