Como ouvir a Deus?

Daniel Lima

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Como seres humanos somos muito mais do que apenas as informações que armazenamos e as conexões que fazemos entre elas. Eu posso ler (e crer) em uma explicação científica da refração da luz ao passar pela atmosfera explicando as cores e tons do pôr do sol, mas eu me emociono ao ver o pôr do sol. Eu sei que minha esposa me ama (graça de Deus!), no entanto, é ao experimentar seu amor em tantas maneiras no dia a dia que meu coração é confortado. É em um sorriso, em uma palavra, em um gesto de carinho que a verdade do compromisso se torna algo profundo e envolvente. Nenhuma pessoa se satisfaz apenas com o conhecimento de ser amado. Relações precisam ser experimentadas para que nossas almas sejam alimentadas.

Curiosamente o mesmo acontece ao contrário, ou seja: pessoas que experimentam relacionamentos fugazes, descomprometidos, como por exemplo um só encontro, relatam que estes não alimentam suas almas. No máximo lhes dão uma impressão, um momento em que se sentem importantes e amadas e logo depois seguem com um sentimento de vazio. Isso ocorre pois somos seres complexos, multifacetados. Precisamos de razão, mas também de emoção. Essa complexidade é mais uma característica da imagem de Deus.

Nossa fé e relação com Deus segue a mesma lógica. Nestes tempos de pandemia tenho ouvido vários cristãos que se dizem desmotivados, que estão enfrentando um período de “sequidão espiritual”. Eles, a princípio, não duvidam dos atributos de Deus, não negam a verdade de sua Palavra e não rejeitam suas promessas. O que os faz titubear em sua caminhada é que não sentem Deus. Como cristão conservador, minha primeira reação é afirmar que as emoções não devem dirigir nossa fé. No entanto, minha relação com Deus é com todo o meu ser. Creio, mas também sinto. E os fatos nos quais creio, mas percebo que não me afetam, eu arquivo como irrelevantes. O que ocorre quando passo por um período em que não sinto a presença de Deus em minha vida?

Relações precisam ser experimentadas para que nossas almas sejam alimentadas.

Aqui vem a importância de conhecer a Deus mais e mais e de cultivar a percepção de sua presença em minha vida. Preciso alimentar não só um conhecimento correto, mas uma relação correta com Deus. Por exemplo: a percepção de Deus é grandemente ajudada por momentos de adoração coletiva. Ao me encontrar em um grupo que fala de Deus, relata experiências, faz afirmações, “demonstra” Deus em seu viver, sou estimulado a olhar para meu interior e igualmente identificar a presença de Deus em minha vida. Isso explica por que, por mais bem preparados que sejam, cultos transmitidos virtualmente não têm o mesmo impacto de um encontro presencial com outros cristãos.

Quero então indicar aqui mais uma forma de cultivar sua relação com Deus: leitura bíblica devocional. A outra forma de ler a Bíblia – visando o estudo – é bastante conhecida. Nesta você lê o texto todo, identifica o contexto, responde às perguntas de quem escreveu (como para quem, por que, em que situação, qual a mensagem central). Você busca identificar verdades fundamentais que possam dar um rumo à sua vida, verdades que confrontem seu viver e promessas às quais possa se apegar.

A leitura devocional é um pouco diferente. Você lê, mas sem pressa e sem a necessidade de identificar cada elemento do texto. Você lê e relê um texto relativamente curto e busca manter uma conversa com Deus a respeito dele. Talvez você passe vários dias no mesmo texto. De forma geral, você sai desta leitura com uma reflexão em mente. A leitura devocional é uma mistura de oração, de ouvir atento, de aprender de Deus e de permitir que ele mesmo fale ao seu coração. Como alguém que estuda a Palavra de Deus há anos, eu pratico ambas. Não consigo imaginar uma vida cristã com só um tipo de leitura.

Deixe-me alistar alguns passos que eu dou em uma leitura devocional:

  1. Começo orando para que meus ouvidos, minha mente e especialmente meu coração estejam prontos a ouvir a voz de Deus;

  2. Leio a passagem (entre 10 e 20 versos) pelo menos três vezes. Na primeira leio para conhecer o conteúdo e na segunda para me familiarizar. Ao ler pela terceira vez eu paro para refletir sobre qualquer expressão ou palavra que me chame atenção;

  3. É nesta terceira leitura que eu invisto um tempo refletindo, tentando aplicar na minha vida a expressão ou palavra que me chamou atenção. Converso com Deus sobre meus pensamentos. Peço que ele mesmo me guie nesta reflexão;

  4. Pessoalmente, tenho a prática de escrever ao final deste período em meu diário de oração. Escrevo minha conversa com Deus. Registro o que passou pela minha cabeça, quais perguntas ficaram, quais verdades preciso trazer à mente;

  5. Concluo meu tempo orando mais uma vez. Agradecendo pela conversa e reafirmando meu desejo de caminhar com ele.

Deixe-me também alistar alguns cuidados: (1) como pregador, professor e autor, preciso me cuidar muito para não transformar minha leitura devocional em pregação, estudo ou artigo; (2) cuido também para que minha curiosidade não me leve a abrir outros livros que me ajudem a entender a passagem (faço isso muita vezes ao estudar a Bíblia). Meu foco é ouvir a Deus por meio do texto bíblico. Confio que ali tenho tudo de que preciso para ouvir sua voz; (3) por fim, embora o tempo seja de oração, evito trazer meus pedidos a Deus até o final. Não quero ter com Deus uma conversa que se pareça com uma lista de compras. Desejo, acima de tudo, ouvir o que ele tem a me dizer.

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Quero encorajar você a que, além de uma leitura de estudo, também cultive sua relação com Deus por meio de uma leitura devocional. Deixe que esse período seja um tempo reservado para ouvir a voz dele. Alguns dos momentos de maior intimidade com Deus em minha vida vieram em tempos assim.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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