Como lidar com a “cristofobia”?

Daniel Lima

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Em seu discurso na ONU, o presidente Jair Bolsonaro fez um apelo ao mundo contra a “cristofobia”. O termo é usado popularmente para indicar situações onde há perseguições a pessoas que afirmam ser seguidoras de Jesus. A Missão Portas Abertas tem documentado este fenômeno e mantém uma lista atualizada de países onde cristãos são sistematicamente perseguidos por sua fé. No Brasil não existe “cristofobia” instituída; temos no máximo um mal-estar com relação a cristãos em determinados círculos. Especialmente entre setores ditos progressivos, há uma rejeição sistemática à fé cristã. Basta ver as críticas feitas a assessores e ministros nomeados pelo atual governo, onde a queixa principal é sua filiação religiosa. Parte da resistência vem de fatos envolvendo líderes evangélicos, que, embora potencializados pela mídia, seriam reprovados pela ampla maioria do povo de Deus. Realmente há alguns que, dizendo-se irmãos (talvez sejam, talvez não...), dão um péssimo testemunho do que significa seguir a Jesus. No entanto, por que – enquanto cristãos – temos uma reação assim? Por que nos chocamos e nos surpreendemos com o fato de haver resistência a nós e à nossa fé?

Recentemente li uma frase atribuída ao pastor Timothy Keller: “Jesus não foi apenas um cara legal que fez o bem no mundo. Você não crucifica caras legais. Você crucifica ameaças”.[1] A frase certamente aponta para uma verdade inescapável: cristãos serão perseguidos. Na verdade, muito antes de Tim Keller, o apóstolo Paulo já escreveu em 2Timóteo 3.12: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”. Nossa fé, se exposta com clareza e verdade, faz oposição, confronta, desafia a mentalidade do mundo. Jesus afirma com clareza: “Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou. Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia” (João 15.18-19).

Nossa rejeição pode ser por representarmos a Cristo ou por sermos malfeitores.

Na verdade, o natural é que sejamos perseguidos e rejeitados por nossa mensagem. É estranho quando setores evangélicos tentam com tanto empenho ser bem-vistos e aceitos pelo público não cristão. De modo geral, só seremos bem-vistos se nossa fé deixar de confrontar, de denunciar a atitude geral de rebeldia contra Deus. Parafraseando Tim Keller, não somos chamados a ser “caras legais”, somos chamados a ser ameaças ao pensamento e estilo de vida do mundo.

No entanto, devemos ser cuidadosos quanto à razão de sermos rejeitados. Nossa rejeição pode ser por representarmos a Cristo ou por sermos malfeitores. Pessoas que, dizendo-se cristãs, cometem crimes, envergonham o nome de Cristo e seus atos devem ser mesmo rejeitadas. O apóstolo Pedro trata deste tema com muita clareza em sua primeira carta, capítulo 4, versos 12 a 15:

Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para prová-los, como se algo estranho estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria. Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. Se algum de vocês sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso, ou como quem se intromete em negócios alheios.

Após reiterar que seremos rejeitados e provados, Pedro faz uma ressalva curiosa no verso 15. Ele afirma que nossa rejeição não deve ser devido a crimes e ofensas ou por sermos intrometidos (literalmente “supervisor da vida de outros”). É revelador que Pedro inclua essa palavra entre as razões indevidas de sofrimento ou oposição.

Temos de compreender que, como cristãos, não somos chamados a legislar sobre a vida daqueles que não seguem a Jesus. Não somos chamados a julgar os de fora, mas sim os de dentro (1Coríntios 5.12-13). Podemos e devemos nos posicionar quanto ao que entendemos que é melhor para nossa sociedade e que representa nosso Deus santo, mas não podemos nem devemos cobrar um postura moral daqueles que não seguem a Jesus. O problema destes não é seu padrão moral ofensivo, mas sua rebeldia contra Deus.

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Com frequência, como cristãos, não geramos rejeição por proclamarmos com nossa vida e palavras o amor e a santidade de Jesus, mas por exigirmos de quem nunca afirmou seguir a Jesus que siga o padrão moral de Jesus. Com isso nos tornamos intrometidos, ou, para citar Pedro, supervisores da vida alheia.

Minha oração é que eu, e cada um de vocês leitores, seja proclamador do amor, da santidade e do plano salvador de Deus em nossa postura e em nossas palavras. E, se formos rejeitados (o que deveria ser considerado normal para nós), que seja por nos identificarmos com Cristo e não por nos intrometermos na vida de outros.

  1. Timothy Keller (@timkellernyc), “Jesus wasn't just a nice guy who did good in the world. You don't crucify nice guys. You crucify threats”, 26 mai. 2017, 11:04 am. Disponível em: <https://twitter.com/timkellernyc/status/868105444715266048>.
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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