Como encarar a partida de uma pessoa amada

Daniel Lima

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Um grande amigo perdeu a esposa nesta semana. Não foi devido ao Covid-19, mas a uma infecção que se tornou incontrolável. O relato que ele fez das últimas horas, enquanto segurava a mão dela, foi muito emocionante. No fim, após 30 anos de casamento e ministério juntos, ela partiu para casa. Enquanto lia o relato, já tendo orado por eles nos últimos dias, eu me vi inundado por emoções variadas e poderosas. Havia tristeza, é claro; havia a dor de imaginar meu amigo lidando com o restante de sua vida sozinho; havia, para minha surpresa, uma certa dose de alívio por saber que ela havia partido, encerrando as semanas de hospitalização e dor. No entanto, creio que o que foi mais forte foi a sensação de nossa transitoriedade.

O dicionário Michaelis define transitoriedade como “caráter ou qualidade de transitório; provisoriedade, temporariedade”. A sensação, no entanto, é bem mais direta: “Como pode alguém com quem eu convivi, conversei, amei, brinquei e briguei simplesmente não estar mais vivo”? A partida da Laura (esposa de meu amigo) me levou a lembrar (e reviver) a partida de meus irmãos, da minha sogra e a dura realidade de que outros amados estão próximos da partida. Talvez este seja o elemento mais cruel desta pandemia, o elemento mais invasivo, o mais intolerável.

Digo isso porque olhamos números, tabelas, projeções e pouco a pouco ficamos anestesiados, como se estes números fossem apenas isso, números. Mas cada número é alguém como Laura, como Délio, como Davi, como Rita. Cada um é uma pessoa que teve amizades, amores, dores, realizações e sonhos. Sim, eu sei que pessoas morrem todo dia. A lista acima é de pessoas que morreram por diferentes motivos. Mas a pandemia põe em evidência que estamos aqui apenas de passagem.

A pandemia põe em evidência que estamos aqui apenas de passagem.

Com esta pandemia, cada um de nós é forçado a lidar com os incômodos impostos pelo isolamento social, por máscaras, por restrições, por políticas incoerentes, por posturas ofensivas. No entanto, creio que o que realmente nos incomoda, o que assombra a nossa existência, é a realidade dura da morte. Somos seres transitórios e sabemos disso, mas vivemos como se isso nunca fosse acontecer conosco.

Como a Bíblia pode nos instruir? Como podemos aprender a lidar com essa realidade que é tão certa e absoluta? Como as convicções que temos enquanto cristãos afetam o modo como encaramos a morte? Para nós há algumas verdades que não só consolam, mas alinham nossos pensamentos com o próprio Deus. O profeta jeremias, diante do caos em Jerusalém, afirma em Lamentações 3.21: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. Que as verdades abaixo encham nossos corações de esperança para continuar lutando pela vida, proclamando a esperança e manifestando o amor.

  1. A morte para o cristão não é um castigo. Paulo afirma em Romanos 8.1: “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”. Desta forma, nós cristãos não somos castigados pela morte. Pelo contrário, Paulo fala da morte como lucro (Filipenses 1.21). Lucro porque estaremos com Jesus por toda a eternidade. Dúvidas, decepções, dores, sacrifícios que fazem parte da vida de qualquer um serão deixados para trás.

  2. A morte é o último aspecto da queda a ser eliminado. Precisamos nos lembrar que somos herdeiros da maldição que nossos pais (Adão e Eva) nos legaram. Deus deixou bem claro quais são as consequências da desobediência. Não fomos criados para morrer, mas este é um aspecto inegável da Queda. Contudo, temos esperança, pois em Cristo somos libertos da morte eterna. Como lemos em 1Coríntios 15.24-26: “Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e todo poder. Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”.

  3. Nossa união com Cristo será completa por meio da morte. Quanto nos tornamos seguidores de Jesus, ele nos chama para segui-lo em todos os aspectos, inclusive em sua morte. Paulo escreve em Filipenses 3.10-11: “Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos”.

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Somos chamados a ser exemplos de Cristo no modo como vivemos, servimos e também no modo como encaramos a morte. Minha oração é que eu e cada um de nós tenhamos uma postura tranquila diante de nossa partida. Não vivendo de modo irresponsável, mas tampouco mostrando pavor diante da partida. Vamos lembrar e confiar nas palavras de Jesus:

Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu teria dito a vocês. Vou preparar lugar para vocês. E, quando eu for e preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver. (João 14.1-3)

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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