Amor, Misericórdia e Viver
Tenho, como muitos, acompanhado a terrível guerra entre Israel e Hamas. Tenho o privilégio de ter alguns amigos israelenses e, com isso, recebo tanto notícias como acompanho as reações destes (todos cristãos) diante do conflito. Tenho sofrido com eles a dor dos reféns, tenho me espantado com eles com a frieza e desinformação por parte do Hamas. Fico revoltado com o crescente antissemitismo que se evidencia pelo mundo. No entanto, tenho também refletido sobre um outro aspecto.
O pastor israelense Meno Kalisher, com dois filhos e vários sobrinhos envolvidos diretamente no conflito, nas primeiras semanas nos aconselhou a orar por Israel, pelos cristãos envolvidos no combate, pela igreja tanto em Israel como em Gaza e, por fim, pelo sofrimento que a guerra traz. Essa sua sugestão tem me dado uma perspectiva de orar e lamentar pelo sofrimento dos palestinos nessa guerra.
Sim, eu creio que o sofrimento é devido à postura radical, agressiva e cheia de ódio do Hamas. Apesar disso, e mesmo sabendo que os próprios palestinos têm muita responsabilidade por eleger e apoiar o Hamas, eu ainda tenho percebido em meu coração sentimentos de misericórdia por eles. Imagino que esta noite você, assim como eu, vai dormir e talvez a única coisa que pode atrapalhar o seu sono é o latido de um cachorro ou alguma festa na vizinhança. Em Gaza, além de todas as preocupações de um país destroçado, você não sabe se o local onde você está dormindo será destruído por alguma bomba. Não estou defendendo os palestinos, mas não posso deixar de lamentar o sofrimento destes, mesmo se for consequência de suas equivocadas escolhas.
Isso me levou a ler e meditar sobre a conhecida parábola do bom samaritano em Lucas 10.30-37. Na verdade, essa parábola foi ensinada no contexto da pergunta de um perito na lei (Lucas 10.25): “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Jesus lhe pergunta o que diz a lei, e o perito recita a clássica verdade de amar a Deus de modo integral e amar seu próximo (v. 27). Satisfeito com sua resposta, Jesus faz uma promessa assombrosa em suas implicações: “Faça isso e viverá” (v. 28). A pergunta era sobre vida eterna e a resposta era faça isso (amar a Deus e ao próximo) e você terá esta vida eterna. Não satisfeito, o perito ainda continua: “Quem é o meu próximo?”.
Essa não era uma pergunta vazia. Os peritos na lei realmente discutiam quem seria o próximo, especialmente com relação às leis, como por exemplo: “Não se vingue nem guarde rancor contra alguém do seu povo, mas ame ao seu próximo como a você mesmo. Eu sou o Senhor”. A questão então era herdar a vida eterna, e Jesus destaca o amor a Deus e ao próximo. Diante da pergunta de quem é meu próximo, Jesus conta a parábola.
A marca indiscutível do amor é ter misericórdia.
Muito já foi dito sobre o sacerdote e o levita. Você provavelmente já ouviu pregações sobre o samaritano. No entanto, a essência da questão de amar o próximo é respondida pelo próprio perito na lei ao final da parábola (v. 36-37):
“‘Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?’ ‘Aquele que teve misericórdia dele’, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: ‘Vá e faça o mesmo’.”
A marca indiscutível do amor é ter misericórdia. Repare a instrução final de Jesus, respondendo diretamente à pergunta inicial do versículo 25: “Que farei para herdar a vida eterna?”. Assim como no versículo 28, a resposta de Jesus é prática: “Vá e faça o mesmo” (v. 37).
“Jesus lhe disse: ‘Vá e faça o mesmo.’” (Lucas 10.37)
Seja no trágico conflito em Israel, seja em tantos outros conflitos que nos cercam, a marca indiscutível do amor é misericórdia, e o caminho da vida eterna é este amor que somente podemos encontrar e cultivar em Cristo. Minha oração é que neste ano que se inicia eu e você, assim como todos os seguidores de Cristo, nos mostremos cheios de amor a Deus e ao próximo, evidenciado por manifestações de misericórdia!