À flor da pele

Stefan Yuri Wondracek

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Este tempo de pandemia tem, com certeza, gerado em nosso coração todo tipo de emoções e sentimentos. É possível que muitos de nós tentemos superar nossas crises internas dizendo para si mesmo que isso tudo irá passar. Logo, logo chegará ao seu fim. Mas, infelizmente, não é isso que tem acontecido. Os dias têm se prolongado; semanas acabaram tornando-se meses, e agora estamos quase fechando um ano. O isolamento superou qualquer expectativa que tínhamos. Além disso, pessoas têm adoecido ao nosso lado e algumas, tristemente, falecido. Estamos definitivamente vivendo tempos difíceis.

A pergunta que surge é: como fica o nosso coração diante de tudo isso? Como lidar com todos esses fatos? A verdade é que facilmente entramos em paranoia e nos deixamos levar para o fundo do poço. Ficamos amedrontados, receosos, ansiosos, irados; nos sentimos solitários, tristes e frustrados. E a lista de sentimentos ruins só tende a aumentar à medida que a pandemia avança.

Mas nós somos cristãos, certo? Temos um Deus poderoso que opera milagres e nos ama. Então sabemos que há algo no que sentimos que está terrivelmente errado. Não deveríamos nos sentir assim – de jeito nenhum. Afinal, somos filhos do Rei dos reis! Somos herdeiros do reino dos céus. Não nos é permitido sentirmos tais coisas. É indigno da nossa posição. Até porque a Bíblia diz para não nos irarmos, para não andarmos ansiosos. Também diz que devemos nos alegrar no Senhor. Ou seja, o desânimo não deve ocupar nosso coração.

Apesar de tudo isso ser verdadeiro, com esse tipo de cobrança experimentamos uma pressão moral que só piora a bagunça do nosso coração e que nos leva a uma tendência de reprimir sentimentos que podem parecer tão desprezíveis aos nossos olhos. Assim, reprimimos o que sentimos e escondemos nossas emoções no poço mais fundo da nossa alma, só para então nos darmos conta de que estes sentimentos não se vão tão facilmente, não obedecem a nossas ordens de retirada. E agora, para agravar a situação, ficamos desolados e com um sentimento de impotência diante da incapacidade do autocontrole. Parece que quanto mais os enterramos, mais eles querem mostrar sua face macabra e nos atormentar.

Mas, então, o que fazer para não naufragar neste tempo tão tumultuado de sentimentos à flor da pele? A resposta mais assertiva, correta e simples é: corramos para debaixo das asas de nosso amado Pai celestial, nos apossando das bênçãos que temos em Jesus, através de seu sacrifício na cruz do Calvário e nos enchendo do Espírito Santo de Deus. As Escrituras nos instruem nesta caminhada.

Fomos criados à imagem e semelhança do Deus trino. Assim como Deus, somos seres espirituais, racionais, relacionais, lógicos, volitivos e – certamente – sentimentais.

Talvez você ainda dirá: “Mas isso é muito generalista e abstrato, como levo isso para a prática? Tenho orado, lido a Bíblia, assistido aos cultos online, participado de grupos pequenos pelo Zoom, mas não consigo mudar o que sinto. E isso só me deixa ainda mais ansioso e aflito”. Sim, entendo você. Por isso te convido a trazer à memória algumas verdades que podem servir como luz ao coração e à mente nesta virada de ano.

Em primeiro lugar, lemos em Gênesis 1.27 que fomos criados à imagem e semelhança do Deus trino, o que inclui a sua pessoalidade. Ou seja, assim como Deus, somos seres espirituais, racionais, relacionais, lógicos, volitivos e – certamente – sentimentais. Deus é assim. Podemos dizer categoricamente que Deus não é simplesmente uma força, um vulto, uma energia. Ele é uma pessoa. E Deus implantou essa característica no homem que criou. Sendo assim, podemos dizer que tudo o que sentimos é essencialmente humano. Não há nada fora do natural. Então não devemos crer que esconder dos nossos próprios olhos o que sentimos é a melhor opção. Desviar os olhos do problema nunca é a melhor opção. Precisamos, sim, entender o que sentimos. Devemos trazer tudo à tona. Não quero dizer com isso que você deve extravasar a sua raiva e chutar o primeiro cãozinho que te cruze o caminho. O que estou querendo dizer é que devemos “cavocar” o nosso coração e buscar entender o que está lá dentro, no mais íntimo de nosso ser.

Talvez possamos fazer uma analogia com um iceberg. Fazemos de tudo para deixar a ponta do iceberg de nossa vida com a melhor aparência possível. (Aos olhos dos outros, aos nossos mesmos e, se for possível, também aos olhos de Deus.) Isso inclui não ter determinados sentimentos. O fato é que 90% da nossa vida não consiste no que se vê, mas naquilo que está arraigado no nosso âmago. Coisas que estão tão profundas que nós mesmos não sabemos que estão lá e menos ainda sabemos como lidar com elas. São motivações, desejos, expectativas... e isso tudo gera aquilo que sentimos.

Retornemos a Gênesis. Deus criou então o homem com seus sentimentos em todo o seu potencial e beleza. No entanto, os primeiros de nós, Adão e Eva, permitiram que o pecado entrasse na natureza da humanidade e corrompesse a beleza que há na complexa criação divina. Com isso, motivações, desejos e expectativas que eram voltadas e supridas no Criador, Senhor e Pai, agora mudaram seu foco para a criação, as coisas criadas (Romanos 1.25). E uma verdade absoluta sobre as coisas criadas é que elas são mutáveis, passageiras e instáveis. Num momento estão lá, no outro já não estão. Então tudo o que é construído sobre esse solo arenoso termina por desabar em algum momento. Sentimentos que eram perfeitos e completos agora são incertos e inseguros, vacilantes devido à contaminação do pecado na raça humana.

Mas reconheço e entendo que sentimentos não são controláveis em si. Não determinamos de maneira lógica e volitiva o que sentimos. O que devemos fazer é buscar conhecer as raízes desses sentimentos. Entender em que se baseiam. Arrisco a dizer que podemos pensar nos sentimentos como porta-vozes do coração. Instrumentos implantados pelas mãos de Deus na natureza humana para chamar nossa atenção ao que está dentro. É um chamado para a introspecção. Um chamado à transformação. Sentimentos não devem ser enterrados, mas sim curados.

Em segunda lugar, uma vez que entendemos nossos sentimentos, peça ao Espírito Santo que te ajude a buscar em seu interior as suas bases. O Espírito sabe o que pensamos e tudo o que falamos antes mesmo das palavras saírem de nossa boca. Portanto, devemos dizer como o salmista: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece as minhas inquietações” (Salmo 139.23).

Sentimentos não devem ser enterrados, mas sim curados.

Estude a Palavra. Estude não como quem está passeando, mas como quem anseia encontrar algo, como quem anseia descobrir a resposta para suas inquietações. Fale com pessoas sábias, leia livros cristãos que possam ajudá-lo a entender o próprio coração.

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Em terceiro lugar, encha o seu coração com as verdades de Deus. “Empanturre” sua alma com as promessas divinas, com os atributos dele, conforte seu coração com o perdão e a esperança de vida presente e eterna que só Cristo, através do seu sacrifício, pode lhe dar.

Como diz o apóstolo Paulo: “Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas” (Colossenses 3.2), e: “Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (2Coríntios 4.18).

Curar nossas emoções não é tarefa fácil. Exige muito esforço, persistência, fortes convicções na eterna Palavra de Deus e total dependência de Deus, pois a maturidade espiritual e emocional só pode vir com um milagre operado por Cristo em nosso coração.

Que neste novo ano Deus te abençoe e te dê emoções que reflitam um coração centrado nas coisas eternas.

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Stefan Yuri Wondracek é formado em design gráfico pela Universidade Feevale e teologia pelo Instituto Bíblico Palavra da Vida Argentina. Concluiu uma especialização em aconselhamento bíblico pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV), em Atibaia/SP, em 2018. É casado com a Julia e pai do Artur, da Lara e da Débora Amira. Atualmente é obreiro na Igreja Batista Conde, em Porto Alegre/RS, servindo principalmente no pastoreio da nova geração e contribuindo no setor de comunicação.

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