A Esperança e o Natal

Daniel Lima

Compartilhe:  Compartilhar no WhatsApp Compartilhar no Facebook

Esperança é o que nos move. Esperança de que o dia vai ser bom, ou pelo menos melhor que ontem. Esperança de que hoje vou conseguir um emprego, ou pelo menos não vou perder o que tenho. Esperança de que hoje ele vai responder, ou então de que hoje ele não vai se esquecer de mim... Esperança é elemento fundamental de uma vida minimamente saudável. Viver sem esperança deixa de ser viver, torna-se no máximo sobreviver.

Logo no início da humanidade, após a terrível e eternamente trágica escolha de Eva, ela ouviu que o seu descendente pisaria a cabeça da serpente (Gênesis 3.15). Eu imagino que Eva viveu o resto de sua vida à espera dessa bendita semente. Ela pensou ser Caim o pisador de serpentes, ou quem sabe Abel. Talvez, após a decepção da perda dos dois filhos, sua esperança se voltou para Sete, afinal, foi em sua época que se começou a invocar a Deus (Gênesis 4.25-26). A partir de Eva, toda mulher que temia a Deus e conhecia sua história tinha, ainda que temerosa, a esperança de que, quem sabe, seu filho iria pisar a cabeça da serpente e destruir a maldição.

Daqueles que naturalmente não tinham esperança veio o portador da esperança, a linhagem de onde viria eventualmente o pisador de serpentes.

Podemos imaginar as filhas de Eva com a mesma esperança, talvez a esposa de Noé. Certamente Sara teve essa esperança por anos, mesmo diante da crua realidade da esterilidade. Percebemos que, ao longo do tempo, ela começou a se proteger dessa expectativa que, de tão desejada, tornou-se amarga diante de sua incapacidade de gerar filhos. Assim, ela se resignou a ponto de dar risada ao ouvir a promessa do anjo (riso nervoso? Defesa emocional de uma esperança já amortecida? – Gênesis 18.10-14). A promessa foi cumprida. Daqueles que naturalmente não tinham esperança veio o portador da esperança, a linhagem de onde viria eventualmente o pisador de serpentes.

Assinante Plus

A linhagem continua e o número de mulheres estéreis, abandonadas, traídas e abusadas é enorme. Das cinco mulheres mencionadas na linhagem de Jesus (Mateus 1), todas eram improváveis: uma era estrangeira, viúva e rejeitada, que acabou adulterando com o próprio sogro. A outra era uma estrangeira e prostituta, que traiu sua cidade em favor do exército invasor. Outra era uma viúva estrangeira, sem herança, sem direito, aparentemente sem esperança. A próxima era uma esposa adúltera e, por fim, uma adolescente virgem. Cada uma delas era improvável. O pisador de serpentes não poderia vir delas, certo?

O mesmo pode ser dito dos homens nessa linhagem: traiçoeiros, enganadores, assassinos, adúlteros. Se puder, pare e leia com atenção Hebreus capítulo 11. Repare como os personagens ali chamados de heróis da fé não eram modelos de santidade e retidão. O que os destacava era sua fé, seu contínuo arrependimento e retorno ao Senhor. Parece que Deus escolhe gente sem qualificação para trazer esperança. Eram um bando de improváveis. E, ainda assim, todos que temiam a Deus ainda esperavam o pisador de serpentes (Hebreus 11.39-40).

Natal é um ponto crucial da história. Natal faz sentido para aqueles que esperavam o pisador de serpentes, aquele que poderia pôr um fim à maldição que pesava sobre nós.

Eu e você conhecemos e celebramos a história do Natal. Como diz o antigo cântico, “pois na história tem o seu lugar”. Uma longa história de improbabilidades, de esterilidade, de rebeldia, de exclusões, que é tecida pelo inquebrável fio do amor e da fidelidade de Deus. E, de forma ainda profundamente, escandalosamente improvável, nasceu o pisador de serpentes, de uma adolescente virgem, parte de um povo oprimido por um império idólatra, cruel e abusivo. Nasce o descendente prometido, pois a história não corria sem rumo ou sem direção, mas conduzida pela poderosa mão daquele que, despindo-se de sua glória, nasce frágil e vulnerável.

Natal é um ponto crucial da história. Natal faz sentido para aqueles que esperavam o pisador de serpentes, aquele que poderia por um fim à maldição que pesava sobre nós (Colossenses 2.13-14).

Ao mesmo tempo, para aqueles que não se apropriaram dessa obra libertadora, o Natal, ao invés de uma época de festas e tradições, é um momento vazio. É terrível e tem consequências eternas rejeitar aquele que foi prometido, o único que pode nos livrar da maldição. É como rejeitar o único remédio que pode trazer cura, ou empurrar a mão que se estende quando você está se afogando. Rejeitar a Jesus é rejeitar o amor da verdade que os poderia salvar (2Tessalonicenses 2.10).

Natal só faz sentido diante da Cruz e do túmulo vazio. Pois o Cristo que veio morreu para pagar nossa dívida e ressuscitou para nos dar o que o pecado havia roubado, a vida eterna. Minha oração é que a esperança celebrada neste Natal seja de uma vida em intimidade e dependência de Deus. Que seja um momento crucial, mas um que nos leve a uma maior profundidade nessa longa história do amor e fidelidade de Deus que se revela em sua redenção.

Compartilhe:   Compartilhar no WhatsApp Compartilhar no Facebook

Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

Veja artigos do autor

Itens relacionados na livraria

Leia também

Ouvindo a Deus no meio do ruído
Ouvindo a Deus no meio do ruído
Daniel Lima
A Fuga ao Egito e o Retorno a Nazaré
A Fuga ao Egito e o Retorno a Nazaré
Thomas Lieth
Atitude de servo
Atitude de servo
Daniel Lima
O que é o pecado?
O que é o pecado?
Bobby Conway
O que dizem que sou?
O que dizem que sou?
Daniel Lima
Arrependimento que liberta
Arrependimento que liberta
Daniel Lima
Compartilhe:   Compartilhar no WhatsApp Compartilhar no Facebook

Destaques

A Cronologia do Fim dos Tempos

R$43,90

Manual de Escatologia Chamada

R$79,90

Atos

R$119,90

Liderando Mulheres em Conflito

R$39,90

Receba o informativo da Chamada

Artigos Recentes