A Corrente da Insensatez – Nadando Contra a Corrente
No ano de 2005, em uma vila na Turquia, bem cedo de manhã, um grupo de pastores de ovelhas levaram seus rebanhos a uma pastagem selecionada. Eram ao todo cerca de 1 500 ovelhas, reunindo os rebanhos da vila. Enquanto os animais se alimentavam calmamente, os pastores acenderam uma fogueira e prepararam sua refeição da manhã. De repente, eles viram que o rebanho começou a correr em direção a um penhasco. Correndo atrás de seus animais eles viram quando a primeira ovelha saltou para a morte e foi seguida por todas as demais antes que pudessem alcançá-las. O incidente resultou na morte de mais de 400 ovelhas, as demais tiveram sua queda amortecida pelos animais que caíram antes delas. O evento causou um grande desastre econômico para aquela comunidade. Nunca foi descoberto por que a primeira ovelha pulou, mas, seguindo o instinto da espécie, as demais seguiram a primeira, apavoradas, não ouvindo sequer o chamado de seus pastores.
Podemos até rir desses animais que nos parecem tão tolos. No entanto, o animal com o qual mais somos comparados na Bíblia é justamente a ovelha. Com frequência seguimos o grupo para nossa própria ruína. Em meus últimos três artigos (A Corrente da Insensatez – O Simples; O Tolo; O Zombador) eu busquei elaborar como alguém pode ser levado muito rapidamente a um estado bastante grave de rebeldia e insensibilidade espiritual se permitir ser levado pela corrente. Nascemos naturalmente como simples, mas, se não buscarmos intencionalmente a sabedoria, seremos levados à tolice e, caso continuemos a não buscar a sabedoria, chegaremos à zombaria contra o próprio Deus!
A pergunta que se impõe então é: como cultivar sabedoria? Precisamos saber como podemos nadar contra a corrente, pois não fazer nada é uma opção desastrosa. Começamos com o texto de Tiago 1.5: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida”. Sabemos que Deus não é apenas sábio, Jesus é a própria sabedoria (Provérbios 7). De uma maneira muito clara, a Palavra nos exorta a buscarmos a Deus para ganharmos sabedoria e resistir aos nossos impulsos “naturais”. No entanto, é justamente em Provérbios que encontramos uma descrição mais clara desse “nadar contra a corrente”. Leia comigo Provérbios 2.1-5:
“Meu filho, se você aceitar as minhas palavras e guardar no coração os meus mandamentos; se der ouvidos à sabedoria e inclinar o coração para o discernimento; se clamar por entendimento e por discernimento gritar bem alto; se procurar a sabedoria como se procura a prata e buscá-la como quem busca um tesouro escondido, então você entenderá o que é temer o Senhor e achará o conhecimento de Deus.”
Muito pode ser aprendido dessa passagem. O autor descreve como se obtém sabedoria e conclui com a referência ao temor do Senhor, que no capítulo anterior já foi declarado como sendo o princípio da sabedoria (Provérbios 1.7). Eu identifico aqui três passos para ganhar a sabedoria. Esses passos podem estar sobrepostos ou talvez você identifique mais do que três.
A Palavra nos exorta a buscarmos a Deus para ganharmos sabedoria e resistir aos nossos impulsos “naturais”.
O primeiro é “aceitar a Palavra”. O verso segue em paralelo usando a expressão “guardar no coração”. Sabedoria vem de Deus, portanto, nada mais simples do que parar para ouvir a Deus com respeito ao que é sabedoria. Muito embora Deus possa falar de várias formas, com certeza sua Palavra é nosso guia mais seguro para conhecer sua vontade. Se queremos então nadar contra a corrente e crescer em sabedoria, precisamos acatar o que a Bíblia afirma. Com frequência em nossos dias vejo cristãos buscando explicações mirabolantes sobre textos bíblicos para não encarar aquilo que a Bíblia afirma. Com isso, surgem explicações alternativas ou até mesmo propostas de “atualizar” a Palavra de Deus para torná-la mais adequada. Ainda que esses esforços possam parecer sábios, são exatamente o contrário de sabedoria, ou seja: tolice.
Não se encontra sabedoria apenas com a mente, como quem faz uma pesquisa acadêmica. A ideia é de alguém que busca de uma forma quase desesperada.
O segundo passo está contido na expressão “inclinar o coração”. O verso começa com dar ouvidos, mas a expressão inclinar o coração fala de uma atitude fundamental para se obter sabedoria. Trata-se de um coração humilde. Ou seja, se tenho uma atitude de quem já sabe tudo, não há espaço para aprender. Um homem que me ensinou muito certa vez me disse: “Ainda há tanto de Daniel em seu coração que resta pouco espaço para Jesus”. E ele estava certo: eu precisava e ainda preciso negar a mim mesmo e me achegar ao trono de graça com mãos vazias para que ele possa enchê-las de sua sabedoria.
Os versos 3 e 4 apontam para o que para mim é o terceiro passo: buscar apaixonadamente. As expressões usadas são: “clamar”, “gritar bem alto” e “busc[ar] como quem busca um tesouro”. Essas expressões indicam que essa não é uma mera pesquisa intelectual. Não se encontra sabedoria apenas com a mente, como quem faz uma pesquisa acadêmica. A ideia é de alguém que busca de uma forma quase desesperada. É como um homem se afogando que clama por socorro. A razão para essa ênfase é que precisamos compreender o quanto precisamos dessa sabedoria. Não é apenas um assentimento intelectual, não é uma mera concordância com argumentos, mas sim uma procura ávida, como o faminto clama pelo pão, como o perdido busca um rumo, como o sedento grita por água.
Já foi dito – e creio que com muita propriedade – que Deus não será tudo para nós enquanto não perdermos tudo o mais. Para que não sejamos levados pela corrente ou saltemos para a morte como as ovelhas na Turquia, necessitamos buscar o Senhor. Minha oração por mim e por você é que nos dediquemos a conhecer o único que nos ama e pode orientar nossa vida.