Quão Segura É a Salvação?

Parte 1 - As duas possibilidades

É possível que alguém redimido abandone a fé? Nesta série, queremos examinar sistematicamente a questão da segurança da salvação.

No meio cristão há uma opinião bastante difundida de que alguém redimido poderia abandonar a fé (apostatar). Isso significa que o redimido poderia, afinal, ainda ser condenado apesar de tudo. Alguém poderia alegar que o redimido conseguiria, sim, abandonar a fé, mas ainda assim permanecer salvo. Por outro lado, o Novo Testamento considera a apostasia algo demoníaco, que leva à condenação (cf. 2Ts 1.8-10; 2.3-12; 1Tm 4.1; Hb 3.12-19; 6.1-8; 10.26-31). Não é possível separar apostasia de condenação. Um comentário bíblico define assim a apostasia: “Apostatar-se é afastar-se do evangelho depois de tê-lo conhecido”.[1]

A dúvida é: seria possível desviar-se do evangelho depois de ser salvo pelo evangelho? Para responder a essa pergunta, temos de excluir todos os argumentos baseados em experiências, sentimentos e observações. (Exemplo: “Conheço alguém que realmente cria, mas que agora se desviou. Ele é a ‘prova’ de que um redimido pode apostatar da fé e ser condenado”.) Argumentos como este não têm legitimidade porque só existe umexaminador que prova o coração (Pv 17.3). Para responder à questão da apostasia, a única referência precisa ser a Palavra de Deus.

A Bíblia é a palavra inspirada de Deus e não se contradiz. Ela não pode por um lado atribuir a salvação e sua segurança e, por outro, suspender sobre o redimido o perigo da condenação como uma espada de Dâmocles.[2]

Por isso existem para o cristão fiel à Bíblia apenas duas possibilidades: ou (1) a Bíblia fala de redimidos que podem se perder, de modo que todas as passagens que tratam da segurança da salvação devem significar outra coisa, ou (2) a Bíblia trata da segurança da salvação, de modo que as passagens referentes à apostasia não podem falar de redimidos. Pessoalmente, estou convicto de que a segunda conclusão é verdadeira e é coerente com a Palavra de Deus. Passarei a expor isso a partir do texto da próxima edição (Parte 2).

Inicialmente, eis aqui algumas observações sobre a primeira conclusão. A ideia de que o redimido possa apostatar da fé e se perder revela no mínimo sete sofismas teológicos:

  1. Subestima-se o poder de Deus (ele não teria força ou vontade suficiente para preservar a fé do redimido).
  2. Superestima-se o poder humano (o homem poderia por sua própria força manter ou abandonar a fé).
  3. Fragiliza-se o evangelho (não passaria mais de uma oferta sem compromisso, e não do poder de Deus que transforma a vida).
  4. Atribui-se a fé salvadora a uma fonte de poder errada (a fé seria obra meramente humana e não um presente de Deus).
  5. Ignora-se a origem divina do novo nascimento (o novo nascimento dependeria somente do homem e, assim, poderia ser temporário).
  6. Limita-se a morte vicária de Jesus (Cristo não nos teria justificado plenamente, tomando sobre si todos os pecados, já que persistiria a possibilidade de um pecado condenatório, a saber: o pecado da apostasia).
  7. Define-se de forma errada a habitação do Espírito Santo no crente (o crente não estaria permanentemente selado com o Espírito Santo, mas só o teria recebido por empréstimo e poderia perdê-lo).
A resposta à questão da segurança da salvação não é de modo nenhum secundária, pois tem consequências para o cuidado pela vida espiritual.

A partir da próxima edição examinaremos sucessivamente temas bíblicos relacionados com a apostasia e a perdição. A resposta à questão da segurança da salvação não é de modo nenhum secundária, pois tem consequências para o cuidado pela vida espiritual. Imagine só como seria “bem-aventurada” a esperança de um redimido torturado por dúvidas se fosse possível dizer-lhe apenas o seguinte: Cristo só proporcionou para nós uma redenção condicional. Vivemos na casa do Pai de modo apenas condicional, e apenas condicionalmente aguardamos o arrebatamento, “a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.13).

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Notas

  1. Bíblia de Estudo MacArthur (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010), p. 1655.
  2. A expressão “espada de Dâmocles” surgiu de um mito moral grego muito utilizado para apresentar o tema da insegurança do poder e daqueles que o detém, pois é passível de perda repentina. (N. E.)

René Malgo é encarregado do trabalho editorial das revistas da Chamada em alemão. Também é autor e coautor de diversos livros.

sumário Revista Chamada Junho 2021

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