Vida Disciplinada
Lembro-me de que anos atrás eu queria muito aprender o idioma alemão. Recebi vários e excelentes conselhos: inscreva-se em um curso, compre um curso para fazer em casa, contrate um professor particular, viaje para a Alemanha... Para cada sugestão eu tinha uma desculpa ou argumento para não seguir ela. No final, um amigo me disse com muita franqueza: “Daniel, você não quer aprender, você quer apenas saber alemão...”. Realmente, apesar de querer algo, eu não tinha na época a motivação para me disciplinar a ponto de realizar as tarefas envolvidas na aprendizagem.
Esse caso ilustra algumas perguntas que todo jovem ou adulto já enfrentou: por que não consigo crescer em uma área que desejo? Na verdade, por que algumas pessoas parecem ter mais autodisciplina que outras? E, talvez ainda mais importante: por que eu não consigo me disciplinar para obter aquilo que desejo?
Uma boa definição de disciplina é abrir mão do meu prazer para obter aquilo que realmente quero. Uma outa forma de expressar seria: disciplina é abrir mão de algo que quero para obter o quero ainda mais. O problema é que, como seres humanos, somos hedonistas. A queda nos deixou algumas marcas. Uma delas é a justificação própria e a outra é a autogratificação. Ou seja: justificamos nossos atos e queremos o que nós mesmos definimos como bom ou prazeroso.
Na verdade, não há nada de errado em querer tanto algo que se abre mão de outra coisa que queremos menos. O problema é discernir o que realmente vale a pena. Infelizmente conhecemos histórias de homens que trocaram uma vida de respeito por alguns momentos de prazer. Para nós, cristãos, é de suma importância que o alvo a ser atingido esteja alinhado com a vontade de Deus.
Não há nada de errado em querer tanto algo que se abre mão de outra coisa que queremos menos. O problema é discernir o que realmente vale a pena.
Há algumas semanas eu comecei esta série sobre terminar bem. No primeiro artigo, identifiquei que há 5 hábitos de cristãos que terminam bem, e o terceiro deles é ter uma vida disciplinada. Realmente ninguém consegue terminar uma tarefa complexa sem um certo nível de autodisciplina. Qualquer atleta de destaque precisa, além de talento inato, ter a disciplina de treinar por horas e horas, negando a si mesmo prazeres que outras pessoas têm. Uma vez mais conhecemos exemplos de atletas que poderiam ser sensacionais, mas que foram apenas bons, pois não estavam dispostos a se sacrificar por algo maior. Apenas talento natural não leva você a terminar bem – em tudo na vida. O apóstolo Paulo descreve com clareza este dilema humano em 1Coríntios 9.23-27:
23Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser coparticipante dele. 24Vocês não sabem que, de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. 25Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre. 26Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo e não luto como quem esmurra o ar. 27Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.
Deixe-me alistar algumas lições deste texto sobre autodisciplina:
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Disciplina cristã tem de ser no evangelho. Às vezes passamos rápido demais por esta expressão. Participar do evangelho deve ser o principal motivador de uma vida cristã disciplinada. Em João 15.5, Jesus deixa claro que sem ele nada podemos fazer. Uma vida cristã disciplinada não é resultado de uma vontade de ferro, mas da rendição apaixonada aos pés da cruz.
Uma vida cristã disciplinada não é resultado de uma vontade de ferro, mas da rendição apaixonada aos pés da cruz.
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O seu modo de correr faz diferença. Não se pode correr de qualquer forma e esperar vencer. Na vida cristã, não se pode viver de qualquer forma e esperar terminar bem. Lembre-se que terminar sem grandes escândalos não significa terminar bem. Muitos cristãos não terminam bem por simples omissão.
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Precisamos treinar. Não se pode participar de uma corrida sem preparo. A vida cristã exige que nos preparemos, nos dediquemos ao estudo da Palavra, a vários exercícios espirituais, como oração, devocionais regulares, confissão de pecados, tempos de retiro espiritual, entre outros.
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Quem se disciplina espera conquistar algo. O prêmio pelo qual se sacrifica tem de valer a pena. Talvez este seja o maior segredo da disciplina cristã. Só vamos realmente negar aquilo que precisamos negar para terminar bem se o prêmio (terminar bem) for realmente o mais importante para nós. Enquanto tivermos o coração dividido, vamos apenas controlando nosso comportamento.
Minha oração sincera por você e por mim é que aprendamos a viver vidas disciplinadas, negando a nós mesmos prazeres para conquistar aquilo que é eterno e realmente valioso. Que você e eu possamos ouvir de Jesus ao entrarmos no céu: “Muito bem, servo bom e fiel!”.