Terminando bem
O ano era 1945, final da guerra para os norte-americanos. Havia no ar uma sensação de que os problemas haviam acabado, um certo ufanismo. Seguindo a tradição esportiva daquele país, uma revista evangélica lançou um artigo dos três mais promissores jovens evangelistas do país. O primeiro ocupou mais de 50% do artigo. Seu nome era Chuck Templeton. Ele enchia estádios em suas campanhas e milhares tomavam uma decisão por Cristo. Realmente parecia uma grande promessa na promoção do evangelho. Infelizmente, cinco anos depois do artigo ele deixou o ministério para se tornar um apresentador de TV, e em mais cinco anos declarou-se um agnóstico, afirmando que não podia mais crer na Bíblia. Desde então – e até o fim de sua vida – foi um opositor do evangelho bíblico. O segundo jovem pregador era Bron Clifford. Sua biografia ocupou uma grande parte do que restava do artigo. Suas realizações também eram surpreendentes. Evangelista, pregador inspirado, homem de Deus. Faleceu de cirrose hepática dez anos após o artigo, tendo nos seus últimos anos arruinado seu ministério, sua família, suas finanças e por fim sua saúde devido à bebida. O terceiro jovem pregador também era tido como grande promessa, mas só ocupou um ou dois parágrafos. Seu nome era Billy Graham, nome que hoje dispensa maiores apresentações.
Dos três mais promissores apenas um terminou bem sua vida e ministério. Há estudiosos que afirmam que a porcentagem dos que terminam bem é de apenas dez por cento. Ou seja, de cada dez cristãos que iniciam bem seu ministério, apenas um termina da mesma maneira. Não importa se a porcentagem é de dez ou trinta por cento, eu quero terminar bem. Diante deste fato, duas perguntas se apresentam: o que significa terminar bem? E o que preciso fazer para terminar bem?
Não importa se a porcentagem é de dez ou trinta por cento, eu quero terminar bem.
O que significa terminar bem?
Para a igreja evangélica moderna, contaminada por uma cosmovisão secularizada, terminar bem é ter sucesso, fama, ser reconhecido e popular. Cuidado, pois esta é uma definição mundana de terminar bem. O Novo Testamento não fala de sucesso, apenas de fidelidade. Basta ler o final do capítulo 11 de Hebreus para identificar que terminar bem, com frequência, inclui sofrimentos, perseguições e desprezo do mundo. O apóstolo Paulo terminou sua vida decapitado injustamente por ordem de um imperador insano, corrupto e imoral. Nos seus últimos dias ele estava isolado, abandonado por muitos e doente. No entanto, em sua última carta, enquanto estava preso em uma gruta sob um calabouço tenebroso, declara:
7Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. 8Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda. (2Timóteo 4.7-8)
Ele não se considerava fracassado, mas vitorioso; havia terminado bem. Havia cumprido o que o Senhor lhe havia confiado e ansiava por sua partida desta terra. O que então caracteriza terminar bem? Certamente este alvo deve estar alicerçado em valores eternos, em princípios que não vão passar, mas que têm referência na eternidade. Gostaria de apresentar minha definição pessoal:
Quero terminar minha vida (1) mais apaixonado por Jesus, (2) mais comprometido com sua obra e (3) mais rendido à sua vontade – do que era no princípio.
Não sei tudo o que o Senhor vai pedir de mim até o final, mas sei que ele me dará todos os recursos que vou precisar para terminar bem.
O que preciso fazer para terminar bem?
A próxima questão então é o que posso fazer para terminar bem. Não importa se fui chamado para liderar uma mega igreja, um ministério internacional, um pequeno negócio, um ministério menor de minha igreja ou mesmo influenciar apenas as pessoas ao meu redor, terminar bem deveria ser o alvo de todo cristão. Mais uma vez, Deus usa Paulo para nos orientar no texto de Filipenses 3.12: “Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus”.
Não sei tudo o que o Senhor vai pedir de mim até o final, mas sei que ele me dará todos os recursos que vou precisar para terminar bem.
Um dos autores que mais estudou este tema de terminar bem foi o dr. Robert Clinton. Ele estudou mais de 5 mil biografias de líderes cristãos. Após verificar quantos haviam terminado bem (no seu estudo: apenas 1 em cada 3) ele identificou 5 características. Apresento estas características abaixo com minhas adaptações:
Líderes que terminam bem tem o hábito de cultivar:
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intimidade com Cristo, incluindo repetidos momentos de renovação espiritual;
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uma perspectiva do chamado de Deus para toda a vida;
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uma vida disciplinada, abrindo mão de prazeres para alcançar aquilo que priorizam;
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uma atitude de aprendizagem contínua, sempre buscando crescer em suas vidas e ministério;
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uma rede de relacionamentos saudáveis.
Conta-se o exemplo de Suzanna Wesley que, com muita dificuldade, criou seus 19 filhos para serem servos de Deus. Dois de seus filhos, John e Charles Wesley, impactaram o mundo por meio de suas pregações e hinos, e ambos apontam para a influência de sua mãe para que se tornassem quem vieram a ser. Assim, o desafio de terminar bem não é apenas de líderes, mas de cada cristão. Nos próximos artigos gostaria de desenvolver cada um destes hábitos. Minha oração é que você se junte a mim enquanto exploramos cada um destes hábitos de cristãos que terminaram bem.