Pais e Mães Espirituais

Daniel Lima

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Em uma família ou comunidade, são necessários jovens, que estão amadurecendo ou crescendo, crianças, que são a promessa do futuro, mas também homens e mulheres que servem como cuidadores, encorajadores e instrutores dos mais novos na fé. A igreja em geral tem sofrido a falta destas mulheres e homens que servem a Deus de um modo especial. Você não só pode, como deve, se preparar para exercer essa função.

Nestes últimos meses, Deus tem nos abençoado com a chegada de nossa primeira neta. Não só com a chegada, mas também com o privilégio de conviver com ela. No entanto, não quero falar dela neste artigo, mas de seus pais. Nunca tive qualquer dúvida da capacidade de minha filha e meu genro de cuidarem de um filho, mas as mudanças que tenho observado neles nestes meses são impressionantes. Não só as mudanças mais óbvias, como horários e prioridades, mas eles parecem ter ganho uma nova dimensão de vida. Se antes eram jovens adultos responsáveis, hoje parecem ter desenvolvido uma outra perspectiva de vida. Hoje vivem por eles, mas também (e às vezes prioritariamente) por sua filha.

Como já tratei em dois outros artigos (“O normal é crescer!” e “Ser jovem significa enfrentar lutas!”), a vida cristã tem uma característica de maturidade que se assemelha muito ao amadurecimento humano. Baseado na passagem de 1João 2.12-14, podemos perceber um roteiro de crescimento:

12Filhinhos, eu escrevo a vocês porque os seus pecados foram perdoados, graças ao nome de Jesus. 13Pais, eu escrevo a vocês porque conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu escrevo a vocês porque venceram o Maligno. 14Filhinhos, eu escrevi a vocês porque conhecem o Pai. Pais, eu escrevi a vocês porque conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu escrevi a vocês, porque são fortes, e em vocês a Palavra de Deus permanece, e vocês venceram o Maligno.

O apóstolo na verdade se dirige a 3 categorias de pessoas e parece evidente que se trata de 3 fases muito naturais da vida cristã. Começamos a vida cristã como filhinhos: compreendemos o evangelho, somos perdoados e amados, começamos a participar de uma família cristã. Depois passamos para a fase de jovens na fé, que é onde aprendemos a enfrentar as lutas e permanecer fortes na Palavra. Por fim, chegamos, caso perseveremos na caminhada da fé, na fase adulta, ou de pais espirituais.

Um dos fatores que contribui para a fraqueza da igreja é a falta de pais e mães espirituais.

Longe de ser uma fase destinadas apenas aos “heróis da fé”, esta é uma fase possível e desejável para todo cristão. Na verdade, um dos fatores que contribui para a fraqueza da igreja é a falta de pais e mães espirituais. Aquilo que comentei acima a respeito de minha filha e genro é o processo natural que ocorre com a grande maioria dos pais em condições normais. Infelizmente, mesmo no desenvolvimento humano, existem pessoas que, mesmo tendo filhos biológicos, por diversas razões nunca crescem até a fase de pais. Estes levam aos casos de abandono físico ou pelo menos emocional. O mesmo ocorre com frequência nas comunidades cristãs.

Do texto acima podemos identificar pelo menos duas características do pai espiritual: (1) formação e (2) experiência.

Formação

Este conceito, tão natural na paternidade e maternidade física, tornou-se algo estranho na vida espiritual. Nenhum pai ou mãe minimamente responsável vai negligenciar a preparação de seu filho para a vida. Desde funções básicas, como alimentar-se, trocar de roupa e higiene pessoal, até habilidades mais complexas, como conseguir e manter um emprego, investir seus recursos ou até encontrar um parceiro de vida. Observamos uma fragmentação familiar nas duas últimas gerações no Ocidente, com pais e mães abandonando estas funções, e os resultados têm sido catastróficos!

Se isso é tão fundamental e natural no aspecto físico da vida, como então relegar a segundo plano a preparação para a vida espiritual? No entanto, igreja após igreja investe muito em aproximar indivíduos de Cristo e até mesmo levá-los a uma decisão. Contudo, a partir deste ponto, com frequência o indivíduo é abandonado a buscar crescimento por conta própria. A igreja até oferece cursos e outros programas que um indivíduo mais maduro pode aproveitar, mas existe muito pouco acompanhamento pessoal.

Ao descrever seu relacionamento com os cristãos de Tessalônica, Paulo, em sua primeira carta aos tessalonicenses, no capítulo 2, versos 7, 11 e 12, descreve algumas das características que apontam para pais e mães espirituais:

7Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido um peso, fomos bondosos quando estávamos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos. 11Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, 12exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória.

A mãe é descrita como alguém que não explora ou manipula seus filhos, mas que cuida e encoraja seus filhos. Realmente, na primeira fase da vida cristã o novo convertido precisa de cuidado e incentivo. Logo a seguir, o texto afirma que ele tem agido como pai, exortando e consolando seus filhos. Seu papel paterno se difere do papel da mãe por ser mais propositivo, ser mais desafiador para seus filhos. Uma vez mais, também na vida espiritual, o cristão precisa ser exortado e encorajado, especialmente à medida que os desafios e sofrimentos se apresentam. Por fim, Paulo diz que tem instado com eles para que cumpram o papel para o qual Deus os chamou.

Em vários estudos sobre maturidade e desenvolvimento da personalidade de um filho, o desafio e incentivo a que cada um desenvolva uma visão pessoal de futuro aparecem como papel principalmente da figura paterna. O pai, ou figura paterna, tem o poder de incentivar de um modo que a mãe não tem. Mais uma vez, se, como pais espirituais, pudéssemos incentivar os mais jovens na fé a desenvolver uma clara noção do chamado de Deus para si, teríamos, talvez, um número muito maior de discípulos comprometidos com seu próprio crescimento.

Conhecer a Deus Filho significa não só afirmar a divindade de Cristo, mas também ter um relacionamento com Cristo que possui um longo prazo de duração.

Experiência

A escolha da expressão “conhecem aquele que é desde o princípio” é curiosa. Embora a palavra “princípio” no original seja usada com este sentido cerca de 40 vezes, a expressão completa “desde o princípio” é sempre usada em um sentido doxológico, ou seja: como parte de uma declaração de fé a respeito da divindade de Cristo, que era Deus e estava com Deus “desde o princípio”. O contexto da igreja no primeiro século foi um contexto de muitos debates, sendo o principal deles sobre a divindade de Cristo. Este debate só seria encerrado no início do quarto século. Quando João usa a expressão “conhecem aquele que é desde o princípio”, ele não está apenas dizendo que pais espirituais conhecem a Deus a muito tempo. A ênfase da expressão é que aquele que é desde o princípio é conhecido pelos pais. Ou seja: pais espirituais conhecem a Cristo, Deus Filho. Esta é a mais radical e essencial doutrina cristã. Conhecer a Deus Filho significa não só afirmar a divindade de Cristo, mas também ter um relacionamento com Cristo que possui um longo prazo de duração. Significa alguém que tem andado com Cristo por tempo suficiente para enfrentar as lutas, os sofrimentos e ser vitorioso em perseverar.

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Somente pessoas assim podem servir de referência aos que estão crescendo na fé. Não por deterem mais conhecimentos, mas por terem em suas vidas a experiência de crer, conhecer e ter suportado sofrimentos em nome de Cristo. Estes podem consolar, animar, instruir e encorajar os mais jovens. Com certeza, a falta de pessoas assim, que são cristãos bastante comuns, mas que se dispõem a compartilhar com outros sua caminhada de vida, é o que torna a igreja tão fraca e tão susceptível aos modismo e desvios da fé.

Eu não sei em que estágio você se encontra, mas tenho em meu coração o ardente desejo de ser e de promover o crescimento de muitos cristãos em direção à paternidade e maternidade espirituais. Oro para que Deus me use assim e para que ele, a seu tempo e na sua graça, o conduza no mesmo caminho.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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