O javali, o macaco e a onça

Daniel Lima

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Uma antiga história diz que há três reações que se pode ter diante de um problema. Estas reações são refletidas em três animais: o javali, o macaco e a onça. Diante de um predador o javali não foge – ele em geral abaixa a cabeça e investe contra ele com toda a força, confiando em seu peso, musculatura e presas. Sua agressividade impressionante funciona na maioria das vezes, no entanto torna fácil ao caçador armar uma armadilha, ou mesmo matá-lo. Para isso basta fixar uma lança na direção de seu ataque que o javali causa sua própria morte.

O macaco tem uma estratégia toda diferente. Ele sobe em um galho alto e, de uma posição segura, fica atirando sujeira em seu predador. Dali ele espera até que o problema desapareça. Isso não remove o problema, mas evita a confrontação. Por fim, a onça tem sua própria estratégia. Ela avalia seu oponente e ataca apenas quando sabe que tem chances de vitória. Para a onça recuar, evitar o conflito e depois retomar o problema não é vergonha, é sabedoria.

Esta história me faz refletir como enfrentamos nossos conflitos. Diante de um conflito, conheço pessoas (muitas vezes eu já fiz isso) que são como o javali: abaixam a cabeça e avançam como se seu poder pessoal fosse suficiente para resolver tudo. Estas muitas vezes conseguem resolver o conflito imediato, mas com frequência às custas de seus relacionamentos. Com frequência seu próprio empenho é a causa da sua destruição. Provérbios nos aconselha sobre agirmos como javalis...

16O sábio é cauteloso e evita o perigo; o tolo confia demais em si mesmo e se precipita. 17Quem se ira com facilidade faz coisas tolas; quem trama o mal é odiado. (Provérbios 14.16-17)

O que me vem à mente diante deste versículo é a pessoa que se acha muito poderosa, que não precisa temer nada. Pessoas assim entram de peito aberto em conflitos que são tão destruidores quanto, às vezes, desnecessários. O javali compra todas as brigas, mesmo aquelas que ele poderia e deveria evitar. A ira, tão presente nos “javalis”, vai causar muita dor nele(a) e naqueles ao seu redor e, conforme Tiago 1.20, não produz a vontade de Deus.

De igual modo conheço alguns que, diante de um problema, usam a estratégia do macaco. Fogem do confronto e, a uma distância segura, ficam criticando e falando mal. Sua postura lhes concede uma certa segurança emocional, mas rouba-lhes a oportunidade de causar um impacto positivo. “Macacos” são cínicos, especialistas em identificar erros e desvios, sabem como ninguém acusar, mas não se envolvem, não sujam as mãos e não se arriscam. Esta postura é costumeiramente fruto de feridas que resultaram de conflitos anteriores, até mesmo na família. A Bíblia também fala a respeito de sermos como o macaco:

23Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, 24deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta. (Mateus 5.23-24)

O curioso desta passagem é que quando alguém souber que um irmão tem algo contra ele(a), primeiro deve buscar o ofendido. Com frequência vejo cristãos que simplesmente se afastam diante de um conflito, muitas vezes usando o texto de Tito 3.10 (que alerta para evitar o homem que provoca divisões). O curioso é que o próprio texto nos sinaliza para buscá-lo uma e duas vezes antes de evitá-lo. Infelizmente, o “macaco” não confronta nem uma vez e já se distancia. Quase sempre um conflito não resolvido vai surgir em comentários a respeito do tema com outras pessoas. Um conflito não resolvido não vai embora, apenas infesta o coração dos envolvidos e atinge as pessoas ao redor.

Por fim, temos aqueles que aprenderam a reagir a conflitos como a onça. Eles não encaram qualquer conflito; na verdade, avaliam o custo e a necessidade de enfrentar determinado conflito e, quando enfrentam, saem vencedores. Já seriam vencedores por evitar conflitos inúteis, mas também são vencedores por enfrentar aqueles que precisam enfrentar. No entanto, sua vitória é maior quando enfrentam com a flexibilidade de reconhecerem seu próprio erro e de não permanecerem rígidos em sua perspectiva. Em outras palavras, eles buscam ouvir o outro lado, consideram outros pontos de vista e, quando agem, vão direto ao ponto sem rodeios, sem indiretas... Em Romanos 14, Paulo nos apresenta um ensino que trata desta reação:

17Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; 18aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. 19Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua.

O contexto é com respeito às brigas em relação a ser legítimo ou não comer carne sacrificada aos ídolos. Paulo conclui que o foco não é vencer em suas opiniões, mas promover não só a paz a qualquer custo, mas paz e edificação. Cada vez que sacrificamos a verdade em defesa da paz, nós promovemos uma falsa paz.

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Minha oração por você e por mim é que não sejamos como o javali avançando de forma impensada em conflitos que são desnecessários. Que também não sejamos como o macaco – crítico alienado e cínico –, mas que nossa postura seja como a onça, avaliando cada conflito e, se entrarmos, que seja para promover os interesses do reino, a paz e a edificação.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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