O desafio de fazer discípulos

Daniel Lima

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O Brasil tem registrado um aumento significativo no número de pessoas que se declaram evangélicas. Mesmo no sentido mais amplo, evangélico significa seguidor de Jesus segundo os evangelhos. Portanto, era de se esperar que o país mudasse em termos de ética, de moral, de respeito humano. No entanto, para tristeza de qualquer observador, não é isso que acontece. Infelizmente não são raros os casos de indivíduos que se dizem cristãos, mas cuja vida não se distingue em nada de um incrédulo. Onde está o erro? Por que não estamos causando maior impacto em nossa nação? Quero propor que o problema básico está em entender qual a missão que nos foi confiada por Jesus.

Na passagem conhecida por Grande Comissão (Mateus 28.19-20) lemos as seguintes palavras de Jesus:

19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.

Mesmo em uma leitura superficial entendemos que nossa missão é “fazer discípulos”. Muitas interpretações têm sido aplicadas a este termo ao longo da história da igreja. Atualmente, muito embora não creio que seja intencional, a ênfase parece estar em “fazer membros de minha associação religiosa”. Pastores e igrejas disputam membros e “associados”. O que importa parece ser o número de pessoas que têm se associado às nossas instituições cristãs.

Digo uma vez mais: não creio que seja intencional ou sequer que seja a regra única. No entanto, conforme nossa teologia é invadida por termos como “sucesso” e “relevância” (curiosamente nenhum dos dois termos é encontrado no Novo Testamento), somos igualmente contaminados por uma ideologia de sermos bem-sucedidos e termos relevância diante do mundo. O Novo Testamento usa o critério de fidelidade e não o critério de sucesso. Relevância é consequência desta fidelidade e não alvo de ministério. É óbvio que como pastor eu orava para que meu ministério fosse bem-sucedido e que minha igreja fosse relevante, mas estes não podem ser nossos critérios, nosso padrão de avaliação de um ministério.

O Novo Testamento usa o critério de fidelidade e não o critério de sucesso.

O que significa fazer um discípulo? O que é um discípulo de Cristo? Deixe-me compartilhar contigo o que a Bíblia define como discípulo de Cristo:

  1. Um discípulo obedece ao seu mestre. A passagem de Mateus 28.20 define que devemos ensinar a obedecer ao que Jesus tem ensinado. Ou seja, não basta ensinar o que Jesus ensinou, é necessário auxiliar a pessoa a viver estes princípios. Por exemplo, ensinar que devemos perdoar é muito fácil, mas ensinar como perdoar quem nos ofendeu é algo totalmente diferente. Um discípulo que não aprendeu a obedecer ainda não é um discípulo. Com isso não estou propondo um padrão perfeito, mas uma declaração de propósitos. Meu propósito como discípulo é estar em constante aprendizagem sobre como obedecer a meu mestre.

  2. Um discípulo busca formar novos discípulos. No segundo livro de Paulo ao jovem pastor Timóteo, ele ensina alguns dos elementos fundamentais de um discípulo. Na passagem de 2Timóteo 2.2 lemos: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensiná-las a outros”.

    Paulo realmente esperava que Timóteo passasse a fé, o evangelho a uma próxima geração, que por sua vez passaria à geração seguinte. Um discípulo que não compartilha sua fé ainda não aprendeu a ser discípulo.

  3. Um discípulo será perseguido. Mais uma vez é na segunda carta de Paulo a Timóteo que aprendemos este princípio: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12).

    Isso não significa que devemos buscar perseguição, mas que seremos perseguidos se vivermos de forma piedosa (dedicada a Deus). O mundo não se agradará de nós. Talvez até nos admire, mas não nos suportará. Um discípulo que busca a aprovação do mundo às custas de sua intimidade com Deus ainda não aprendeu a ser um discípulo.

  4. Um discípulo é capaz e preparado para toda boa obra. Na mesma carta Paulo encoraja Timóteo a permanecer naquilo que havia aprendido. Em 2Timóteo 3.16-17 lemos: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”.

    Mais uma vez isso não significa perfeição, mas um compromisso de serviço de prontidão para desempenhar toda boa obra. Essa prontidão está diretamente ligada ao conhecimento da Palavra de Deus. Podemos afirmar com toda certeza que um discípulo que não está continuamente crescendo no conhecimento da Palavra de Deus ainda não aprendeu a ser discípulo.

Estas são apenas algumas das características de um discípulo. Imagine o impacto que uma multidão de pessoas obedientes a Cristo, evangelizadoras, discipuladoras, dispostas a sofrer e aptas para toda boa obra faria neste mundo! Este é meu compromisso. Reconheço que tenho muito a crescer, mas oro para que nós tenhamos um compromisso de sermos verdadeiramente discípulos de Cristo. A simples membresia em uma igreja, por melhor que esta seja, não faz de ninguém discípulo de Cristo.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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