Cometas Brilhantes e Estrelas Cadentes

Daniel Lima

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Por anos tenho acompanhado (à distância, mas com entusiasmo) um jovem pastor chamado Joshua Harris. Ele escreveu e viu um livro seu ser lançado quando ainda tinha 22 anos de idade. Mas isso não é tudo, nos anos seguintes este livro vendeu mais de 1 milhão de cópias. No livro ele promovia um conceito mais conservador de namoro, especialmente de que o sexo deveria ser reservado para o casamento. Como resultado, surgiu nos EUA (e em algumas comunidades no Brasil) um movimento de pureza sexual. Suas ideias, apesar de um pouco radicais, soavam como um vento renovador entre jovens evangélicos.

Seu crescimento no ministério foi meteórico. Logo após lançar o livro (lembrando, com 22 anos), foi convidado para ser um estagiário pastoral em uma megaigreja. Alguns anos depois, tornou-se o pastor titular desta igreja (aos 30 anos), pastoreando-a com brilhantismo por 10 anos. No início de 2015 ele deixou a igreja, afirmando que lhe faltava formação teológica (certamente uma percepção lúcida), mas havia algo mais profundo acontecendo. Há algumas semanas ele e a esposa, com quem se casara 19 anos atrás, anunciaram publicamente que estavam se divorciando. Uma semana depois ele anunciou que tinha passado por uma profunda mudança em sua fé em Jesus e que, “por qualquer critério que eu conheça, não posso afirmar que sou cristão”.

A obra redentora de Deus em Cristo por meio do Espírito Santo não pode ser perdida. Se nada pode me separar do amor de Deus, eu também não posso...

Esta é apenas mais uma história de um homem brilhante, com um ministério impressionante, mas que deixou a fé. Praticamente ao mesmo tempo, Marty Sampson, um líder de louvor da famosa igreja Hillsong, também comunicou que abandonou sua fé. No entanto, o escândalo, as consequências e o dano deixado nas inúmeras vidas que ambos tocaram (inclusive seus três filhos) nos desafiam a analisar mais de perto esta situação. Com isso não quero arrastar uma situação trágica ao escrutínio público. Nem tampouco tenho elementos para uma análise detalhada. A complexidade humana é imensa e não posso afirmar que eu sei o que aconteceu com estes dois homens. Quero abordar, com temor e tremor, o perigo de cultuarmos “cometas brilhantes” que, com o tempo, podem se revelar apenas “estrelas cadentes” (sei que na verdade são apenas meteoros queimando ao entrar na atmosfera da Terra – desculpas àqueles que faziam pedidos a estes fenômenos...).

Muitas perguntas surgem: será que eram cristãos? Será que eles perderam a salvação? Eu posso confiar em meus líderes? Será que eu mesmo não vou abandonar minha fé? Antes de tentarmos responder a algumas destas questões, há uma passagem que vem à mente diante de uma situação assim. É 1João 2.18-19:

18Filhinhos, esta é a última hora e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora. 19Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos.

Nesta passagem o apóstolo do amor nos alerta que, além do escatológico personagem Anticristo, seremos apresentados a vários anticristos... Estes parecem ser dos nossos (cristãos), mas não são. E como sabemos que não são? Pois eles deixaram a fé. Para reforçar a ideia, João escreve que, “se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco”. Estas são pessoas que convivem conosco, cantam nossas músicas, usam nossas expressões, em alguns casos (devido ao seu brilhantismo natural e favoritismo incauto) se tornam líderes com ampla influência. No entanto, nunca tiveram uma fé verdadeira.

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O tema é amplo e, se você leitor já “curtiu” o ministério de um destes homens (eu curti Joshua Harris), o elemento afetivo torna o assunto ainda mais impactante. Contudo, por questões de brevidade, quero alistar algumas observações:

  1. A Bíblia parece tornar bem claro que uma vez salvo, você é salvo para sempre (João 6.37, Romanos 5.10-11; Efésios 1.13-14; entre outros). Não sei dizer se Joshua ou Marty são cristãos; por suas próprias palavras, eles não são. Se este é o caso, eles não perderam a salvação... eles nunca foram salvos. A obra redentora de Deus em Cristo por meio do Espírito Santo não pode ser perdida. Se nada pode me separar do amor de Deus (Romanos 8:38-39), eu também não posso...

  2. Nossa fé não pode estar baseada em pessoas. Nossa tendência moderna de projetar um líder à fama e tornar suas palavras “oráculos da fé” faz mal a nossas igrejas, mas também a estas pessoas. Pessoas vão nos enganar. Creio que algumas pessoas enganam a si mesmas e passam uma imagem de cristãs para si e para outros ao redor. Nossa fé baseia-se em nossa crença pessoal em Cristo Jesus (Romanos 5.1-2). Onde você baseia sua fé? Quão profunda e pessoal é sua convicção?

  3. Precisamos de muito cuidado ao escolher um líder. Conhecimento, credibilidade, imagem e família são todos péssimos critérios, pois são enganosos. Paulo afirma que líderes devem ser primeiro testados (1Timóteo 3.10). Como experimentar um líder? De modo geral, podemos ver quando a parábola do semeador descreve a semente que cai no solo pedregoso: “Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona” (Mateus 13.21b). Precisamos ver como nossos candidatos a líderes enfrentam tribulação e perseguição.

  4. No primeiro século, quando os romanos queriam que um cristão renegasse sua fé, eles exigiam que ele aceitasse a divindade de César (que seria mais um deus entre muitos...). Para isso exigiam que a pessoa queimasse incenso no altar afirmando “Kaiser Kurios” (César é Senhor). Para o cristão isso significaria negar sua fé: “Iesous Kurios” (Jesus é Senhor).

Minha sincera oração por mim, por você e por homens como Joshua Harris e Marty Sampson, é que possamos ter uma fé profunda e inabalável. Uma fé que vence o teste do tempo, das tentações, tribulações e perseguições. Minha oração é que você e eu sejamos pontos de referência e não pedras de tropeço.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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