Doze Perguntas Fundamentais Sobre o Anticristo

No romance Interview with the Antichrist [Entrevista com o Anticristo], Jeff Kinley descreve como poderia ser a ascensão do Anticristo. A base da sua narrativa são as indicações bíblicas, que ele examina mais detalhadamente em forma de perguntas e respostas. Eis um extrato.

1. Como será o caráter do Anticristo?

Para nós é difícil entender completamente a noção bíblica de um homem como o Anticristo. A Bíblia o chama de “besta” (Ap 11.7; 13.1,14-15; 15.2; 16.13; 17.8). A palavra grega utilizada em Apocalipse é therion e designa um “animal feroz ou brutal”. Em Apocalipse, esse termo aparece cerca de 36 vezes para descrever essa pessoa. Isso sugere que o Anticristo será inescrupuloso e violento. E o fato de o próprio Diabo o impelir ainda enfatiza essa imagem dele. Por outro lado, ele tem muitas características que o ajudam a chegar ao poder e a dominar o mundo politicamente. A Escritura deixa claro que ele será inteligente e astucioso (Dn 8.23), um brilhante orador e autopromotor (Dn 7.8,11; 11.36; Ap 13.5), um gênio político (Dn 9.27; Ap 17.11-12), um estrategista econômico (Dn 11.43; Ap 13.16-17), um demagogo militar (Dn 11.40-44; Ap 6.2; 13.2,4) e um messias religioso (2Ts 2.4; Ap 13.8,12-15).

Ele também será charmoso e esperto, um mentiroso enganador como seu pai, o Diabo (Dn 9.27; Jo 8.44; 2Ts 2.4,10-12). Ele não se interessará por nenhuma lei ou diretriz moral a não ser as suas próprias (Dn 7.25; 11.36; 2Ts 2.7-8). Ele será inimaginavelmente arrogante e expelirá desavergonhadas blasfêmias contra o Deus do céu (Dn 7.8,11,25; 11.36-45; Mt 24.15; 2Ts 2.4; Ap 13.5).

2. O Anticristo pode não ser uma pessoa física?

Enxergo quatro possibilidades de explicar o conceito do “Anticristo”.

Possibilidade 1: trata-se apenas da imaginação de João. Não seria nada mais que conversa fiada arbitrária de um judeu idoso no exílio. Poderíamos descartar a bizarra revelação apocalíptica de João como “síndrome de sobrecarga pós-traumática” depois de ele ter sido imerso em óleo fervente. Se isso fosse verdade, nada em Apocalipse poderia ser levado a sério ou considerado profeticamente confiável ou aplicável à nossa vida.

Possibilidade 2: o “Anticristo” não passaria de um símbolo que aponta para alguma outra coisa além de um indivíduo – possivelmente um sistema de governo, algum comitê secreto de líderes mundiais ou até inteligência artificial. Há quem estenda ainda mais o conceito e enxergue nele apenas um governo maligno dos tempos finais, caracterizado por marcas anticristãs. Essa visão remonta a uma interpretação simbólica de Apocalipse e se explica pelo fato de o Anticristo e seu governo serem apresentados como inseparáveis.

Alguns entendem o termo “Anticristo” como um governo maligno dos tempos finais, caracterizado por marcas anticristãs. Essa visão remonta a uma interpretação simbólica de Apocalipse.

Possibilidade 3: “Anticristo” seria apenas uma expressão representativa que personaliza o princípio do mal em si; não se refere a algo concreto, pessoal ou palpável, mas abstrato, devendo ser entendido metafisicamente. Como 1João 4.1-3 fala do “espírito do anticristo” e se rejeita uma interpretação literal de Apocalipse, esse “espírito” precisa apontar para um sistema maligno, não para uma pessoa concreta contrária ao Cristo autêntico.

Se, porém, o Anticristo não passar de um conceito que aponta para o princípio genérico do mal, então o que representariam as outras figuras e eventos em Apocalipse? Seriam também apenas recursos literários destinados a ilustrar outras verdades espirituais? E de que instrumento disporíamos para decifrar com precisão seu suposto significado simbólico? Essa abordagem simbólica desmorona sob o seu próprio peso.

Possibilidade 4: o Anticristo seria uma pessoa física que se apresentará no final dos tempos, exatamente como a Bíblia o descreve. O termo “Anticristo” aparece cinco vezes no Novo Testamento, e em todas se refere a um indivíduo, a várias pessoas ou ao espírito de determinada pessoa (1Jo 2.18 [2x]; 2.22; 4.3; 2Jo 1.7). O “espírito do anticristo” é autoexplicativo e significa que ele não existe por si, mas que provém do Anticristo. Essa atitude/atuação ímpia já aparecia nos tempos de João e se identifica com o maligno e a anomia previstos para os tempos finais (2Ts 2.7).

O Anticristo surgirá no palco mundial quando a humanidade tiver abandonado a verdade bíblica.

A conclusão a que se chegará sobre a natureza e a realidade do Anticristo dependerá da abordagem interpretativa aplicada. Em outras palavras, se as profecias do livro de Daniel e de Apocalipse forem consideradas como “excessivamente bizarras e incríveis para uma interpretação literal”, o próprio João terá de ser visto com muita desconfiança. Afinal, quem mais além de um idoso mentalmente perturbado que precisa processar o trauma e o desespero do exílio imaginaria cenários tão alucinógenos como esses do último livro da Bíblia? E, se esse for o caso, como poderemos ter certeza de que João reproduziu com precisão em seu evangelho a vida e a época de Jesus Cristo? E como ficam suas três cartas? Também deveriam ser questionadas?

E trata-se aqui de um quinto do Novo Testamento.

O melhor será, portanto, considerar o Anticristo descrito nessas passagens como pessoa física, não como um sistema ou um governo dos tempos finais – e não se esqueça que o Diabo é o ente maligno por trás do espírito do Anticristo e do próprio homem (2Ts 2.9; 1Jo 4.3; Ap 12.12-17). A Escritura fala repetidamente do Anticristo como de um homem e utiliza para ele pronomes masculinos. Isso exclui a possibilidade de que o Anticristo possa ser uma mulher (2Ts 2.3; Dn 7.25; 11.36).

As seguintes pessoas também descrevem o Anticristo como uma pessoa física: Daniel (Dn 7.8,20,24-25; 8.23,25; 9.27; 11.21,24,31,36-37), Zacarias (Zc 11.15-17), Paulo (2Ts 2.3-4,8-9), João (1Jo 2.18-19,22; 4.3; 2Jo 1.7; Ap 6–20), Jesus (Mt 24.15,24) e um anjo (Ap 17.7).

3. Existem profecias que apontam para um breve surgimento do Anticristo?

Com toda certeza. Em primeiro lugar, a Escritura deixa claro que o Anticristo só poderá surgir quando a nação de Israel voltar a existir e viver na terra prometida. Isso já aconteceu quando Israel se tornou nova e oficialmente uma nação, em 14 de maio de 1948. Desde então, milhões de judeus de todo o mundo foram atraídos para sua pátria. Esse é o perene cumprimento de uma profecia que Ezequiel enunciou há cerca de 2 600 anos. O povo judeu precisa renascer e viver em sua pátria para que os eventos de Apocalipse possam se cumprir (Jr 30.1-5; Ez 34.1-24; 37; Zc 10.6-10). Hoje vivem mais judeus em Israel do que em qualquer outra época nos últimos vinte séculos.

Em segundo lugar, a Bíblia diz que o Anticristo se revelará nos tempos da grande apostasia nos dias finais (2Ts 2.2-3; 1Tm 4.1-3; 2Tm 3.1-9,13; Jd 17-19). Trata-se de uma rejeição da fé que já podemos observar nos nossos dias, tanto nos países antes cristianizados (p. ex., os EUA e a Inglaterra) como também na própria igreja. A rejeição da fé é um prenúncio que prepara o mundo para o recebimento do Anticristo quando este se apresentar. Ele surgirá no palco mundial quando a humanidade tiver abandonado a verdade bíblica.

Terceiro, judeus fiéis já desenvolveram, com ajuda do Instituto do Templo, planos para um terceiro templo que deverá ser construído no monte do Templo. Eles estão formando sacerdotes e construindo altares, confeccionam vestimentas sacerdotais e até oferecem sacrifícios de animais. Tudo de que precisam para realizar seu sonho é uma espécie de tratado de paz que lhes assegure o acesso ao local e o necessário alvará de construção. Na minha opinião, esse momento chegará quando o Anticristo receber o poder depois do arrebatamento. A profecia esclarece que isso se cumprirá quando o Anticristo adentrar o templo, declarar-se divino e se erigir o “sacrilégio terrível” (Dn 9.26-27; 11.31; 12.11; Mt 24.15; 2Ts 2.3-5; Ap 11.1-2; 13.11-13).

O Anticristo odiará os judeus e Israel porque conhece o plano de Deus de trazer o Messias de volta a fim de, por meio dele, salvar o povo da sua aliança.

Há quem diga que esse sacrilégio terrível já tenha existido em 167 a.C. quando Antíoco Epifânio invadiu Jerusalém e erigiu um altar a Zeus no templo judeu. Ele proibiu aos judeus o exercício da sua religião, abateu um porco sobre o altar e determinou sacrifícios ao deus Zeus. Sabemos, porém, que esse não foi o cumprimento definitivo da profecia de Daniel porque, cerca de duzentos anos depois da profanação do templo por Antíoco, Jesus mesmo previu o sacrilégio ainda para o futuro (Mt 24.15-22). Com isso, os atuais preparativos para a construção do templo em Jerusalém são mais uma “profecia em fase de cumprimento” diante dos nossos olhos. Trata-se de uma clara indicação de que vivemos nos tempos do Anticristo.

A globalização ou os esforços de união mundo afora são mais um passo nos desdobramentos que preparam o caminho para o Anticristo. O nacionalismo regride mundialmente, enquanto vários esforços para unificar as nações estão avançando. Além disso, muitos países se movem atualmente à beira da ruína financeira; alguns até já despencaram no abismo econômico. Isto faz a mútua dependência entre os países parecer ainda mais aconselhável e cria a necessidade de uma personalidade política de ação global, capaz de unir nas nações. Este é um dos fatores que permitirá o aparecimento de um Império Romano reconstituído a fim de unir os países após a catástrofe e o caos do arrebatamento. A união universal também combina sem problemas com o secular desejo do Diabo de submeter ao seu controle um mundo unido, o que remonta a Ninrode em Gênesis 10–11.

Uma outra realidade global é que os líderes mundiais têm tentado ao longo de décadas levar paz ao Oriente Médio. Até o momento, Israel e os países vizinhos ainda vivem na iminência de uma guerra. O Oriente Médio é um barril de pólvora altamente explosivo, que a qualquer momento poderia desencadear uma guerra mundial. Basta alguém disparar um míssil e logo estaremos à beira da Terceira Guerra Mundial. Por isso o Oriente Médio está maduro para a paz, e a Bíblia diz que alguém trará essa paz, ainda que só transitoriamente. Essa pessoa é chamada de Anticristo.

4. O Anticristo saberá que ele é o Anticristo? Quando ele descobrirá isso?

A Bíblia não nos revela se o Anticristo terá consciência da sua identidade e do seu vínculo com o Diabo, e é bastante improvável que ele se conscientize do seu futuro papel antes da metade do período de tribulação. Por quê? Em Apocalipse 12 parece ocorrer um ponto de inflexão no período de tribulação. A Escritura permite ver que o Diabo tentará mais um golpe no céu para então ser violentamente expulso junto com os seus demônios, sendo atirado sobre a terra pelo arcanjo Miguel. Próximo ao meio do período de sete anos de tribulação, a situação torna-se então particularmente dramática.

A Bíblia diz que o Diabo reconhecerá que lhe resta pouco tempo, o que lhe desperta grande ira e causará a sua perseguição aos judeus. O Anticristo adentra o templo e se faz passar por deus. Ao se fazer passar por deus, fica evidente que ele já está possesso pelo Diabo de forma única. Embora nos primeiros três anos e meio do período de tribulação ele talvez tenha sido impelido apenas subconscientemente por influências demoníacas e diabólicas, ele agora se torna uma pessoa totalmente sujeita ao controle do Diabo.

5. O Anticristo nascerá de forma sobrenatural?

Alguns têm especulado que o Diabo tentará imitar o nascimento de Jesus. Nesse sentido, cita-se muitas vezes Gênesis 3.15, em que a semente da mulher, uma referência profética a Cristo, enfrenta a semente da serpente, o filho do Diabo. Contudo, esse tipo de especulação é mais ficção cinematográfica do que realidade bíblica – e essa abordagem traz consigo no mínimo dois problemas.

Primeiro, não existe nenhuma indicação bíblica de que o Diabo tenha o poder de engravidar uma mulher com sua semente para assim imitar o nascimento virginal. Seria talvez possível derivar um argumento de Gênesis 6.1-12, onde “os filhos de Deus” (anjos caídos) tomaram forma humana a fim ter relações sexuais com mulheres mortais. Contudo, repito: a Escritura nada diz a respeito de o Diabo exercer esse ato abjeto mais uma vez. Também se crê que esses demônios tenham sido acorrentados após a sua perversão sexual (2Pe 2.4; Jd 6-7).

Segundo, para poder trazer ao mundo o Anticristo dessa maneira, o Diabo precisa conhecer exatamente o cronograma de Deus para o arrebatamento e o período da tribulação. Só assim ele poderia nascer no momento certo. Ele precisa, por exemplo, ter uma certa idade (e assim ter nascido num momento predeterminado) e ocupar uma posição política correspondente para poder assumir o poder depois do arrebatamento. Aí seria mais provável que o homem que acabará por tornar-se o Anticristo cresça como um homem “normal”, para então abrir-se a certa altura à influência do Diabo.

Terceiro, o Diabo não precisa de um nascimento milagroso para executar seu plano por meio de um homem possuído por ele. Está claro que o Anticristo receberá do Diabo todos os poderes enganadores para operar sinais e milagres (2Ts 2.9) e que ele agirá pessoalmente com a autoridade do Diabo (Ap 13.4).

6. Qual será o plano básico do Anticristo?

Um dos seus objetivos é um cenário político que lhe permita ter influência global, mas suas ambições vão muito além. O Anticristo será o instrumento humano por meio do qual o Diabo tentará realizar definitivamente seus desejos blasfemos há muito acalentados. O Diabo tem o propósito de matar cristãos porque conhece a importância que estes têm para Deus. Mas o Anticristo também odiará os judeus e Israel, porque ele conhece o plano de Deus de trazer o Messias de volta a fim de, por meio dele, salvar o povo da sua aliança. Em seguida, Cristo estabelecerá seu reino milenar na terra e, quando isso acontecer, o Diabo será impedido de possuir o mundo para si. Caso, então, o Anticristo conseguisse exterminar todos os judeus, o Messias não teria mais ninguém para salvar. O Diabo também odeia os judeus porque foi por meio desse povo eleito que veio o redentor Jesus Cristo, que em sua primeira vinda venceu a morte e o Diabo.

Desde o início da sua rebelião, o Diabo quis ser adorado. Ele ambiciona aquilo que pertence a Deus. Ele quer o mundo. Ele busca a admiração humana. Ele quer ser Deus. E, tal como aquele que o empossa, o Anticristo tem um coração batizado no pecado, que arde em amor próprio e se consome em insaciável ambição de ser igual a Deus. Como o Anticristo estará possesso pelo Diabo, este realizará seu próprio sonho indiretamente por meio do Homem do Pecado. E assim a rebelião que começou há muito tempo no céu atingirá seu ápice com a chegada e o domínio do rei que fará “o que bem entender” (cf. Dn 11.36).

7. O Anticristo terá poderes sobrenaturais?

A Bíblia nos diz que a atuação do Anticristo será acompanhada de sinais sobrenaturais (2Ts 2.9; Ap 13.11-16). Não se sabe se ele mesmo executará todos esses sinais e milagres. Sua chegada e seu governo serão acompanhados de muitos milagres convincentes, alguns dos quais ou todos eles serão executados pelo falso profeta. Prenuncia-se mais um período de milagres, não só daqueles do Anticristo, mas também dos milagres das duas testemunhas de Deus (Ap 11.3-6) e os selos, trombetas e taças do juízo que Deus mesmo executará na terra e em seus habitantes (Ap 6–19).

8. O Anticristo será possuído pelo Diabo?

Sim. Ele será o homem mais fortemente possuído pelo Diabo em toda a história. Se compilarmos tudo o que a Bíblia diz sobre esse homem, chegaremos à conclusão de que ele é “o Diabo em forma humana”, dizendo palavras e fazendo coisas que só o Diabo conseguiria imaginar. Com exceção de Judas Iscariotes, do qual consta que o Diabo “entrou nele” para trair Jesus (Lc 22.3; Jo 13.21,27), não se diz de nenhuma outra pessoa que o Diabo tenha entrado nela. O Anticristo será impelido pelo Diabo e estará integralmente impregnado de orgulho diabólico (cf. Ez 28.2,9-12; Dn 8.25; Ap 13.4). Ele estará totalmente – corpo, mente e alma – possesso pelo príncipe demoníaco das trevas. É provável que ele só fique plenamente possesso do Diabo perto da metade do período de sete anos de tribulação.

9. Como o Anticristo enganará as nações?

O Anticristo enganará o mundo por vários motivos: primeiramente, as pessoas estarão mais desesperadas e em pânico por causa do arrebatamento do que em qualquer época na história. Histeria e loucura se espalharão por toda parte. Tal como alguém que esteja morrendo de fome come quase tudo que lhe seja oferecido, essas pessoas desesperadas terão fome de respostas, segurança e esperança. O Anticristo lhes fará promessas que ele não conseguirá cumprir.

Em segundo lugar, a Bíblia nos informa que suas promessas aparentemente convincentes serão endossadas por falsos milagres (Mt 24.24; 2Ts 2.9). O Diabo é um falsário magistral capaz de fazer coisas quase impossíveis de distinguir de milagres autênticos. Nesse período único da história ele talvez esteja efetivamente em condições de operar feitos sobrenaturais. A Escritura aplica para descrever esses sinais e milagres diabólicos as mesmas palavras que para os milagres de Jesus. E naquele período em que as pessoas se encontrarem, elas desejarão crer naquilo.

Em terceiro lugar, a Escritura diz que o Senhor enviará aos homens que ficaram para trás no arrebatamento uma falsa força sedutora a fim de que creiam na inverdade (2Ts 2.10-12). Isso faz parte das opressoras consequências para os homens quando rejeitam o evangelho e é parte da ira que vemos em Romanos 1.18-32.

10. O Anticristo terá poder ilimitado?

O Homem do Pecado terá mais poder do que qualquer outra pessoa que jamais tenha vivido. Ainda assim, seu poder não será absoluto ou ilimitado. Além dos milagres já mencionados, ele estará sujeito às limitações impostas ao Diabo como criatura. Por exemplo, não há nenhuma indicação sobre alguma capacidade de ler os pensamentos das pessoas.

O Homem do Pecado terá mais poder do que qualquer outra pessoa que jamais tenha vivido. Ainda assim, seu poder não será absoluto ou ilimitado.

Sob a influência diabólica a que estará sujeito, o Anticristo pronunciará blasfêmias inimagináveis e porá em prática sua ímpia agenda mundial (Ap 13.5). Ele perseguirá e matará aqueles que se chegarem a Cristo durante a tribulação, e estenderá sua autoridade a toda a terra (13.7). Todavia, apesar do seu grande poder, ele estará sujeito ao controle soberano de Deus. Nos versículos citados encontramos a expressão “foi-lhe dado”, o que significa que o Anticristo nada poderá fazer fora dos limites que Deus lhe terá imposto. O Pai tem o controle sobre toda a história e somente ele determina os limites e o poder dos seus inimigos (1Cr 29.11-12; Jó 42.2; Sl 115.3; 135.6; Pv 16.4; Is 14.27).

11. O Anticristo sofrerá algum atentado?

Apocalipse 13.3-4 e 17.8 dizem que a “besta” será morta. Há quem pense que isso se refere à morte do Império Romano, que voltaria à vida nos últimos dias. Todavia, o ressurgimento do Império Romano não despertaria espanto no mundo inteiro, tal como se lê em Apocalipse 13.3. Uma interpretação da besta como pessoa faz mais sentido. Além disso, sua morte é chamada de “ferimento mortal” (13.3,12). A Bíblia diz que a “ferida pela espada” matará a besta (13.14). Nesta passagem, “espada” poderia tanto significar simbolicamente a morte em geral ou ser entendida literalmente. Não vejo motivo para não considerá-la literalmente, já que a posse de armas de fogo possivelmente seja proibida sob o regime totalitário do Anticristo. Ainda que os motivos do autor do atentado sejam desconhecidos, o ferimento do Anticristo consta ser mortal, convencendo o mundo inteiro da sua morte.

O termo traduzido por “ter sofrido um ferimento mortal” em Apocalipse 13.3 refere-se a uma morte violenta. João emprega em Apocalipse o mesmo termo para a morte de Jesus (5.6,9,12; 13.8).

12. O Anticristo ressuscitará sobrenaturalmente dos mortos?

Na verdade, a pergunta correta seria: será que o Anticristo morrerá por causa desse ferimento? Os estudiosos divergem sobre uma ressurreição autêntica ou apenas um engodo do Diabo. Os que a consideram um engodo afirmam que somente Deus pode ressuscitar mortos e que um falso milagre como esse cabe muito bem no período da tribulação (2Ts 2.11). Além disso, dizem que essa falsa ressurreição seria apenas mais uma indicação de que se trata de um “contracristo”, um imitador da ressurreição de Cristo.

É imaginável que Satanás tenha o poder de simular uma morte e a ressurreição dentre os mortos.

Sobre esse momento da tribulação, Apocalipse 12.12 relata que o Diabo estaria furioso. O último, maior e mais convincente milagre que ele tem na manga seria despertar alguém da morte. Por isso ele guarda esse trunfo para uma última tentativa de ser adorado na terra. Ninguém duvida seriamente que o Diabo possa realmente imitar tal milagre. A dúvida é se ele o fará.

Pense bem: tanto Jesus como também Paulo disseram que milagres convincentes ocorrerão nos últimos dias (Mt 24.4-5,11,24; 2Ts 2.9; cf. Ap 13.13-15; 16.13; 19.20). Ao longo dos sete anos do período de tribulação, muitos sinais e milagres ocorrerão, e a Escritura atribui muitos deles ao Diabo (2Ts 2.9).

Sobre a besta que originariamente emergiu do mar da humanidade (Ap 13.1), consta agora que ela “subir[á] do Abismo” (13.14; 17.8). Isso poderia indicar um retorno do além para esta vida, tal como se, após o seu assassinato, o Anticristo tivesse ido para o Abismo (onde alguns demônios estão retidos e onde também o Diabo acabará sendo preso mais tarde) (veja 9.1-3; 11.7-8; 17.8; 20.1-3,7-10).

A Escritura chama o Diabo de “príncipe deste mundo” e de “deus desta era” (Jo 12.31; 2Co 4.4), descrevendo sua atual área de domínio – e certamente ele consegue simular grandes milagres neste mundo. A questão é se seu poder também se estende até o além, ainda que só nesta única ocasião. Não posso ter cem por cento de certeza de que a soberania de Deus não permitiria isso desta única vez. Por outro lado, estou mais convencido das suas imposturas do que das suas capacidades sobrenaturais.

Por isso penso que essa ressurreição provavelmente seja falsa e fingida. Creio que, conforme a descrição em Apocalipse 13.12, o Diabo possa curar uma ferida. Também é imaginável que ele tenha o poder de simular uma morte e a ressurreição dentre os mortos. Seja falso ou autêntico, não há dúvida de que esse “milagre” será suficientemente convincente para conquistar a submissão e adoração do mundo inteiro.

Extraído do livro Interview with the Antichrist
(Nashville: Thomas Nelson, 2020), p. 241-272.

Jeff Kinley é mestre em teologia e atua como escritor independente. Também é apresentador dos podcasts Vintage Truth e Prophecy Pros.

sumário Revista Chamada Setembro 2021

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